Curiosidades - • Assinava Santos=Dumont para assinalar que respeitava igualmente sua origem brasileira e francesa. • Imaginava que um dia os aviões seriam como automóveis aéreos e cada pessoa teria um para ir ao trabalho. Não ficou contente com os rumos que a aviação comercial tomou, ao construir aviões maiores e mais caros, desviando-se do que ele tinha como objetivo (aviões a preço de automóvel). Chegou a vender 40 demoiselles e não se opunha a que outros copiassem o projeto e o comercializassem. • Atribui-se a Santos Dumont a popularização do relógio de pulso, para substituir os relógios de bolso, então utilizados.
Com o mostrador preso ao pulso poderia consultar as horas com mais facilidade quando estivesse voando.
A invenção do mesmo ficou por conta de Patek Phillipe.
• O primeiro degrau da escada de acesso a sua casa, em Petrópolis, RJ, corresponde à metade dos demais degraus, de maneira que todos os visitantes devessem iniciar a subida com o pé direito. (A escada é feita de meios degraus alternados, para evitar bater os calcanhares). • As suas irmãs mais velhas, Maria Rosalina, Virginia e Gabriela casaram-se com três irmãos, respectivamente chamados Eduardo Vilares, Guilherme Vilares e Carlos Vilares.
A Questão Santos Dumont x Irmãos Wrigth - Os feitos de Alberto Santos-Dumont em 23 de outubro e 12 de novembro de 1906 não deixaram nenhuma dúvida com respeito a possibilidade de um equipamento mais pesado que o ar conseguir voar por meios próprios. Tanto as experiências de Dumont como as de outros aeronautas contemporâneos (Gabriel Voisin, Henry Farman, por exemplo) foram feitas às claras, com a presença de autoridades, especialistas, comissão julgadora, entusiastas e o público em geral.
As conquistas destes pioneiros sempre eram seguidas de grande repercussão, pois eles provavam AO VIVO que suas máquinas eram capazes de voar e transpor barreiras. Depois de cada conquista, é muito fácil surgirem outras histórias de que alguém já voava, que outro já havia feito a mesma coisa, etc... A questão é que até 23 de outubro de 1906 não havia aparecido NINGUÉM com um equipamento convincente e efetivamente capaz de voar. Só existiam relatos, comunicados inexatos, telegramas, reportagens ufanistas, testemunhas que mal saberiam discernir um lançamento oblíquo de um vôo sustentado, e por aí afora.
Os norte-americanos Orville e Wilbur Wright eram alguns, entre tantos na época, que afirmavam ter voado pela primeira vez em 17 de dezembro de 1903, relatando em seus diários um total de 4 vôos com sua aeronave Flyer. As provas da época? Além das anotações no diário pessoal, havia a relação de 5 testemunhas (3 habitantes de Kitty Hawk) e 2 salva-vidas, e um telegrama enviado ao Sr. Milton Wright (pai). As fotos só foram publicadas em 1908, quase 2 anos após os feitos de Dumont. A autenticidade delas? Não se questiona! Nem se deve questionar, sob pena de descobrir falhas nas evidências dos "anunciados" vôos.
A matéria é extensa e esta página receberá outras contribuições ao longo do tempo. Mas na Ciência existe o método científico e um dos tópicos é a EXPERIMENTAÇÃO: uma teoria, uma descoberta, um feito recebe maior credibilidade se experiências e observações independentes também confirmarem o feito anunciado. Durante 2002 e 2003 a mais perfeita réplica do Flyer de 1903 foi construída. Todo um trabalho de pesquisa em fotos antigas, registros que sobreviveram a "queima de arquivo" proposital de Orville e Wilbur Wright, etc... todo este material serviu de base para repetir o alegado feito de 1903.
O site http://www.wrightexperience.com/ exulta triunfantemente "See our successful flights! Before the December 17th attempt for the Centennial, the reproduction Flyer flew on November 20th and December 3rd, 2003, with Dr. Kevin Kochersberger at the controls."
Nota-se que a aeronave livra o solo, ameaça subir, perde altura, bate com uma das asas no solo, ameaça subir novamente e cai. Ao todo foram cerca de 8 segundos. Nota-se duas pessoas próximas das asas e uma delas ( a da direita do vídeo) nitidamente segura e parece empurrar a aeronave. Que é isso? A aeronave tem "de pegar no tranco", como se diz na gíria?
Diz-se que o equipamento "voou".
Estes tipos de saltos eram comuns em diversas experiências entre 1890 a 1910.
Mas o melhor estava por vir! Na demostração pública em 17 de dezembro de 2003, cerca de 30 mil pessoas VIRAM com os próprios olhos que o aparelho não é capaz de VOAR. Em duas tentativas neste dia, o Flyer (?) não alçou vôo.
Diz o supracitado site:
"Wright Brothers National Memorial, December 17, 2003
At 12:35 p.m., the Wright Experience attempted a recreation of the first flight. The weather and engine power were not with us today, as both were insufficient for successful flights. Dr. Kevin Kochersberger was at the controls, and almost succeeded in lifting the Flyer off the launching rail."
Desta vez a desculpa foi das condições meteorológicas e... do MOTOR. Sim, já era previsto que um motor de 11 a 12 HP não teria condições de fazer voar um equipamento com 274 kg (com o piloto, a massa do conjunto se elevava para cerca de 340 kg.
Em Ciência, mesmo resultados negativos possuem um valor positivo e, neste caso, fica mais difícil acreditar que os Wright efetivamente voaram antes de 1906.
Por outro lado, as experiências de Dumont foram feitas às claras, diante do público, fotógrafo, cinematografia, juízes idôneos, tudo conforme as regras de competitividade. As regras serviam exatamente para evitar golpes de sorte, artimanhas, lisuras e desonestidade. O aeronauta tinha que fazer DECOLAR, VOAR e POUSAR com um equipamento mais pesado que o ar. Dumont fez experiências publicamente em julho de 1906, saltou em setembro de 1906 e VOOU em 23 de outubro de 1906. Logicamente em Ciência o feito precisa ser confirmado, as experiências devem ser repetidas, para provar que o equipamento de fato era capaz da proeza de voar por conta própria. Os experimentos eram marcados com antecedência, para evitar quaisquer benefícios deste ou daquele aeronauta. De fato em 12 de novembro de 1906 estavam a postos Dumont e Bleriot. A primeira tentativa foi de Bleriot, porém sua aeronave não conseguiu voar. Talvez pode até ter esboçado algum salto, mas TODOS viram que a aeronave de Bleriot não VOOU. Não que Bleriot fosse um fracassado, muito pelo contrário! Era um competidor à altura (talento) de Dumont. Os dois eram amigos e existia o respeito e a competição sadia. Talvez se sua aeronave conseguise ultrapassar os 60 metros de distância e altura superior a 1 metro (marcas de Dumont em 23 de setembro de 1906), Bleriot seria de fato o primeiro a VOAR. Porém a História registra o feito de Dumont: 2 tentativas iniciais NÃO ultrapassaram a marca de 23 de outubro. Nota: a aeronave conseguiu LIVRAR o solo, porém isto não bastava para a comissão julgadora. As experiências tinham que passar pelo crivo dos julgadores e regras. Não estava envolvido apenas livrar o solo, planar, movimento balístico ou coisas semelhantes. O equipamento deveria VOAR no sentido estrito da palavra. Veja o que ficou registrado em ATA:
AEROCLUBE DA FRANÇA
Sociedade de encorajamento à locomoção aérea
PROCESSO VERBAL
12 de novembro de 1906
Primeira tentativa – Partida às 10 horas da manhã. O aparelho se eleva antes da linha de partida e percorre em cinco segundos, a 40 centímetros do solo, uma quarentena de metros. O
motor gira a 900 voltas.
Segunda tentativa. – Partida às 10h 25min. O aparelho percorre todo o campo de treinamento, executando dois vôos a pouca distância do solo, o primeiro de 40 metros, e o segundo de aproximadamente 60 metros. O percurso se encerra com uma tentativa de curva em pleno vôo, curva impedida pela proximidade das árvores, depois que um quarto de meia-volta à direita já havia sido efetuado. O eixo da roda de sustentação direita, ligeiramente torcido, foi consertado durante o almoço.
Terceira tentativa - Partida às 4h09min. Dois vôos: o primeiro de 50m; o segundo, cronometrado pelos senhores Surcouf e Besançon, de 82m e 60cm, em 7seg. 1/5, ou 11,47m/s ou,
ainda, 41,92km/h. Tentativa de curva para a direita, contida pela barreira do Pólo, quando o aparelho já havia descrito praticamente uma meia-volta.
Nesta tentativa, Santos Dumont superou oficialmente o seu percurso de 23 de outubro, pelo qual já havia ganho a Taça de Aviação Archdeacon. Todos os trajetos foram executados no mesmo sentido. A partida se fazia na extremidade norte do campo de Bagatelle e a chegada na direção do Pólo.
O quarto ensaio foi feito no sentido inverso dos três anteriores. O aviador saiu contra o vento. A partida deu-se às 4h 45min, com o dia já terminando. O aparelho, favorecido pelo vento de proa e também por uma leve inclinação, impulsiona-se quase que imediatamente. Parte loucamente e surpreende os espectadores mais distantes que não se acomodaram a tempo.
Para evitar a multidão, Santos Dumont aumenta a incidência e ultrapassa seis metros de altura. Mas no mesmo instante a velocidade diminui. Será que o valente experimentador teve um instante de hesitação? O aparelho parecia menos equilibrado, certamente: ele esboça uma volta para a direita. Santos, sempre admirável por seu sangue-frio e por sua agilidade, corta a ignição e volta ao solo. Mas a asa direita toca o chão antes das rodas e sofre pequenas avarias. Felizmente Santos está ileso e é acolhido impetuosamente pelos assistentes entusiasmados em frenética ovação, enquanto Jacques Fauré carrega em triunfo sobre seus robustos ombros o herói desta admirável proeza.
O percurso aéreo, medido com exatidão, é de 220 metros em 21segundos, isto é, 10,38 metros por segundo ou 37,358 quilômetros por hora.”
Santos=Dumont X Irmãos Wright
UMA FALSA POLÊMICA
Revista ASAS - Ano II - Número 11 - Fev/Mar-2003
Este ano, com grande pompa, os EUA estarão comemorando o “The Centennial of Flight”, que festeja o alardeado vôo dos irmãos Wright. É inevitável então que se fale da polêmica de quem voou primeiro, Wilbur e Orville ou o nosso Alberto Santos-Dumont. Mas há mesmo o que discutir sobre isso? Acompanhe a primeira de uma série de matérias que faremos enquadrando várias faces deste assunto...
Quem olhar o nosso Calendário Voador desta edição, verá as datas de várias comemorações norte-americanas do "The Centennial of Flight", que serão acompa-nhadas por algumas em países de língua inglesa, como a Austrália e o próprio Reino Unido. Nós, de ASAS, tratamos destas festividades por seu nome em inglês, perceba-se, porque simplesmente ele perde todo o sentido em português – o Centenário do Vôo, como se deve saber por aqui será em 2006.
Então, do que se fala nestas festividades em 2003 ?
Do suposto vôo do Flyer, máquina voadora dos irmãos Wilbur e Orville Wright, em Kill Hills Beach, em 17 de dezembro de 1903.
Bem, para começar a análise deste vôo pioneiro, vamos dar inicialmente a palavra ao próprio Alberto Santos=Dumont, que trata do assunto de modo brilhante e perspicaz em "O que eu vi, o que nós veremos":
"No ano seguinte (1907), o aeroplano Farman fez vôos que se tornaram célebres; foi esse inventor-aviador que primeiro conseguiu um vôo de ida e volta. Depois dele veio Blériot, e só dois anos mais tarde é que os irmãos Wright fazem os seus vôos É verdade que eles dizem ter feito outros, porém às escondidas.
Eu não quero tirar em nada o mérito dos irmãos Wright, por quem tenho a maior admiração; mas é inegável que, só depois de nós, se apresentaram eles com um aparelho superior aos nossos, dizendo que era cópia de um que tinham construído antes dos nossos.
Logo depois dos irmãos Wright, aparece Levavassor com o aparelho Antoinette, superior a tudo quanto, então, existia; Levavassor havia já 20 anos que trabalhava em resolver o problema do vôo; pode-se, pois, dizer que o seu aparelho era cópia de outro construído muitos anos antes. Mas não o fez.
O que diriam Thomas A. Edison, Graham Bell ou Guillermo Marconi se, depois que apresentaram em público a lâmpada elétrica, o telefone e o telégrafo sem fios, um outro inventor se apresen-tasse com uma melhor lâmpada elétrica, telefone ou telégrafo sem fios, dizendo que os tinha construído antes deles !?
A quem a humanidade deve a navegação aérea pelo mais pesado que o ar ? As experiêcias dos irmãos Wright feitas às escondidas (eles são os próprios a dizer que fizeram todo o possível para que não transpirasse nada dos resultados de suas experiências) e que estavam tão ignoradas no mundo, que vemos todos qualificarem os meus 250 metros de ‘minuto memorável na história da aviação', ou é aos Farman, Blériot e a mim, que fizemos todas as nossas demonstrações diante de comissões científicas e em plena luz do sol ?"
As palavras de Santos=Dumont colocadas, vamos agora analisar uma série de pontos sobre a "primazia" dos irmãos Wright, que certamente formam juntos um quadro muito interessante...
Depois da morte do pioneiro alemão Otto Lilienthal, Chanute e Langley levaram aos EUA as experienaas deste com planadores e passaram a desenvolvê-Ias ainda mais. Só então Wilbur e Orville Wright iniciaram seus experimentos com planadores, em võos não-motorizados, em Kitty Hawk.
Mais tarde, eles moveriam o local de suas experiências para Dayton, no Ohio.
As experiências dos irmãos Wright em Kitty Hawk ou Dayton, não despertaram a curiosidade da vizinhança em nenhuma das ocasiões. Similarmente, eles não causaram qualquer comoção em qualquer viajante ou transeunte, o que deve ser destacado, pois próximo existiam estradas de tráfego bastante intenso (para a época). De fato, dessas experiências não se tem nenhuma testemunha fidedigna. Inclusive, em certa ocasião, os Wright convidaram repórteres de jornais locais para assistirem aos seus experimentos. Octave Chanute estava entre eles e, como testemunha ocular, deixou claro que não houve nenhuma decolagem. É fato que na ausência de testemunhas reais dos alegados vôos, os defensores da primazia do vôo dos Wright usam como prova um suposto diário, em que os próprios irmãos, de seu punho, teriam relatado as suas realizações... Já em 1904, os irmBos Wright requisitaram direitos de patente junto ao governo britânico para um “planador sem motor" (engineless glider), que eles haviam inventado. Tal pedido soa fantástico, pois aparentemente, um ano antes (1903), eles haviam tido sucesso em inventar uma aeronave dotada de motor...
Mais tarde ainda, em 1905, os irmãos enviaram uma carta ao Ministério da Guerra norte-americano, em que propunham a construção de uma máquina voadora.
Nenhum projeto ou especificação acompanhava tal proposta, e as autoridades governamentais dos EUA responderam que, antes de analisarem as sugestões e a proposta, seria interessante a realização de uma demonstração que mostrasse a viabilidade do empreendimento – nas palavras usadas no documento oficial, "o aparelho deverá ter chegado ao estágio de operação prática".
E num documento oficial, relativo à mesma proposta, coloca-se o assunto do seguinte modo: "recomendamos que os senhores Wright sejam informados que o escritório (do Ministério da Guerra) não irá formular nenhum requerimento acerca da performance de uma máquina voadora ou tomar qualquer outra ação até que uma máquina seja construída que possa ser mostrada em operacão real, sendo capaz de fazer um vôo horizontal e de carregar um operador".
Diante de tal posicionamento. os Wright abandonaram o assunto. Por quê ? Uma vez que tendo voado em 1903, eles facilmente poderiam realizar a demonstração pedida pelas au-toridades.. Ou não poderiam ?!
Naquele mesmo ano de 1905, numa carta ao capitão francês Ferber, um grande entusiasta dos planadores, os Wright comentariam sua decisão de interromper seus experimentos, de modo a poderem manter em segurança o segredo de sua invenção (!?) De fato, aparentemente, não realizaram mais experiências por cerca de três anos.
Mas isto não impediria que, em 1906 sugerissem ao governo francês que este comprasse a máquina voadora que vinham mantendo em grande segredo, embora tal proposta não viesse acompanhada de nenhuma oferta de uma demonstração da praticabilidade da mesma. Como acontecera com o governo norte-americano, o francês também não se interessou, e então os Wright se voltaram para grupos de empresários, tentando impressioná-los sobre seu artefato secreto.
Mais uma vez, nenhum resultado tiveram, pois também os empresários, obviamente, exigiram provas de que a máquina podia fazer o que os Wright dela falavam.
Na opinião, isenta e digna de crédito, do cap. Ferber (que aliás foi agente dos Wright em várias negociações), os irmãos "tornaram-se apreensivos, desde que ninguém parecia interessado em seu invento,(Enquanto isso) Santos=Dumont, Delagrange e então Farman começavam a causar sensações (com suas respectivas invenções).
Em 1907. enfim, os irmâos Wright decidiram ir à Europa, de modo que pudessem pessoalmente estabelecer negociações para a venda de seu invento. Entretanto, eles ainda se recusavam a realizar uma demonstração-prova definitiva e pública do mesmo.
Nessa época, não só Alberto Santos=Dumont, mas também Voisin, Blériot, Farman e Delagrange estavam todos já voando máquinas “mais pesadas que o ar.
Somente em 1908, os Wright finalmente realizaram, na Europa, a primeira demonstração com a máquina que haviam criado.
Foi então verificado que o aparelho não conseguia decolar por seus próprios meios, totalmente independente de auxílios externos.
Ao contrário, ele era lançado ao ar através de uma catapulta instalada numa rampa. Dotada de esquis, não de rodas, a máquina dos norte-americanos, o Flyer, era incapaz de alçar-se aos céus sozinha, sem que houvesse o emprego da catapulta. Somente em 1910 foram adaptadas rodas ao Flyer ...
O resto fica por conta das suas reflexões, leitor.
Irmãos Wright foram os primeiros, mas Santos-Dumont fez mais pela aviação (2006 – Folha )
Mas, afinal, quem é o pai dessa criança? O físico Henrique Lins de Barros dá um suspiro ao telefone quando ouve a pergunta. Para o pesquisador do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), talvez o maior especialista vivo em Santos-Dumont, já passou da hora de pôr um ponto final a uma controvérsia tão antiga quanto inútil. A criança --no caso o avião-- não tem um "pai". Tem vários.
"É muito complicado, num desenvolvimento tecnológico, dizer quem foi o pai da criança. Quem inventou o navio? Qualquer um. Um produto tecnológico são várias descobertas que vão culminar num determinado momento", diz. O "momento" do avião é complicado de determinar.
No dia 23 de outubro de 1906, Alberto Santos-Dumont, mineiro de nascimento, parisiense de adoção, decolou com um aparelho mais pesado que o ar. Seu 14-Bis, uma geringonça de 290 quilos e com um motor de 50 cavalos, subiu a uma altura de quase três metros no Campo de Bagatelle, em Paris, e voou 60 metros.
Foi o primeiro vôo feito em público e num aparelho que saiu do chão e pousou por meios próprios ("pousou" em termos; na verdade, o 14-Bis desceu bruscamente e quebrou as rodas). O feito lhe valeu um prêmio de 3.000 francos, instituído por Ernest Archdeacon para quem voasse mais de 25 metros.
Longe dali, numa praia de Kitty Hawk, no Estado americano da Carolina do Norte, o primeiro vôo motorizado de um aparelho mais pesado que o ar era feito por dois mecânicos de bicicleta --só que três anos antes. Em 17 de dezembro de 1903, Orville e Wilbur Wright haviam voado 260 metros com seu Flyer, uma aeronave improvável de 300 quilos e com um motor de 12 cavalos, que decolara de uma colina. O feito, sem testemunhas, foi comunicado por telegrama.
Ciosos de seu invento, que pretendiam patentear, os irmãos Wright cortaram todos os contatos com o mundo exterior --mantidos até 1902. De 1905 a 1908, quando se estabeleceu a Federação Aeronáutica Internacional, pararam de voar. Sua primazia só seria comprovada inquestionavelmente em 1908, quando voaram (ainda sem decolar por meios próprios) espantosos 124 quilômetros na França.
"Até Santos-Dumont reconheceu que não seria possível em 1908 que os Wright não tivessem uma experiência grande de vôo anteriormente, porque, quando os europeus estão voando 10 quilômetros e ficando 15 minutos no ar, o avião dos Wright fica mais de duas horas no ar. Então eles já faziam isso antes, como estavam falando", diz Lins de Barros. Os americanos não inventaram o avião, mas foram os primeiros a voar.
O Flyer tinha problemas, é verdade: pesado, instável e com asas inclinadas para baixo, precisou de ventos fortes para fazer seu vôo, descendente, do alto de uma colina. Era um beco sem saída evolutivo que jamais poderia sair do chão sozinho.
E, claro, tem a história da catapulta. O vôo dos Wright não valeu porque o Flyer foi atirado de uma catapulta. Portanto, Santos-Dumont teve mesmo a primazia. Certo?
Errado. "O Flyer não foi catapultado. Isso faz parte dessa história mal contada, mal formulada no Brasil", afirma o pesquisador do CBPF, que acaba de lançar o livro "O Desafio de Voar" (Metalivros), sobre a conquista do ar e os brasileiros que participaram dela. A catapulta seria adotada pelos Wright só depois de 1903.
Irradiação - O título de "inventor do avião" poderia ser dividido entre muita gente. Como o alemão Otto Lilienthal, morto em 1896 num vôo de planador. Como Gabriel Voisin e Louis Blériot --o primeiro a voar sobre o canal da Mancha, em 1909. Os próprios Wright e Santos-Dumont já eram celebridades no meio aeronáutico no começo do século passado: os americanos criaram a configuração "canard" (ganso) para seus planadores, com o leme na frente, usada no próprio 14-Bis. E o brasileiro ficara famoso ao criar o primeiro balão dirigível, o nº 6, em 1901. Tanto que foi a Santos-Dumont que a imprensa local de Ohio (terra natal dos irmãos) comparou os irmãos ao noticiar o feito de 1903. Se os Wright voaram antes, foi ao brasileiro que a irradiação original da aeronáutica se deveu --portanto, se a alcunha de "pai do avião" é exagero, a de "pai da aviação" é justíssima. "Ele resolve uma das questões essenciais do vôo, que é tirar o avião do chão. Conseguiu transportar as forças que ele conhece e que atuam quando o avião está pousado e fazer a transição entre a situação do avião pousado e do avião voando, onde as novas forças têm que atuar e ele não conhece direito onde elas atuam", afirma Lins de Barros. "Essa contribuição do Santos-Dumont é fundamental por duas razões: primeiro porque ele dá a chave da decolagem. Segundo porque ele executa isso publicamente, reconhecido por uma comissão internacional. Por isso, em um ano, entre 1906 e 1907, todos os inventores importantes estão voando." A prova disso é que o primeiro avião a ser produzido em série na história, que inspirou o desenho de vários outros, foi uma invenção de Dumont: o Demoiselle, de 1907. Esse precursor do ultraleve teve seu projeto distribuído gratuitamente pelo brasileiro. Cerca de 300 foram produzidos pela fábrica Clément Bayard. Nos EUA aconteceu exatamente o contrário. Orville e Wilbur Wright eram capitalistas que fizeram questão de patentear o aeroplano. "Eles poderiam patentear o motor, o sistema de esquis. Tentaram patentear o avião, o vôo." Não conseguiram. Com isso, atrasaram o desenvolvimento tecnológico nos EUA até 1911, ao tentar impedir outros americanos, como Glenn Curtiss, de desenvolver aeronaves. "A Scientific American chegou a perguntar se eram "flyers" (voadores) ou "liars" (mentirosos)", diz Lins de Barros.
Santos Dumont: Pai da Aviação?
Enquanto os norte-americanos se preparam para celebrar o centenário do primeiro vôo dos irmãos Wright, o Brasil inteiro está melindrado pelo que considera ser uma injustiça histórica contra um dos seus heróis mais reverenciados.
Qualquer brasileiro, quando perguntado, dirá que o inventor do avião foi Alberto Santos-Dumont, um "bon vivant" de 1,60 metro que, na Belle Époque parisiense, era tão conhecido por suas proezas aéreas quanto por seus trajes de dândi.
Como conta Paul Hoffman na biografia que escreveu sobre Santos-Dumont ("Wings of Madness", ou "Asas da Loucura"), o excêntrico mineiro foi a primeira e única pessoa de sua época que possuía uma máquina voadora que poderia lhe levar a praticamente qualquer lugar.
"Ele mantinha seu dirigível atado ao poste de um lampião a gás em frente ao seu apartamento na Champs-Elysées, em Paris, e todas as noites voava até o Maxim's para jantar. Durante o dia, ele voava para ir às compras e para visitar amigos", disse Hoffman à Reuters.
Santos-Dumont, um idealista que via na aviação um conforto espiritual, financiou seu luxuoso estilo de vida e seus experimentos aéreos em Paris com a herança dada antecipadamente por seu pai, fazendeiro de café, quando Alberto ainda era jovem. Sempre impecavelmente vestido, ele costumava levar finos acepipes nas suas expedições de balão.
Mas foi em 12 de novembro de 1906 que Santos-Dumont entrou para a história, percorrendo 220 metros com o seu 14-Bis na periferia de Paris. Sendo o primeiro vôo público do mundo, ele passou a ser considerado o pai da aviação em toda a Europa.
Só mais tarde ficou provado que os irmãos Orville e Wilbur Wright haviam feito um vôo em Kitty Hawk, Carolina do Norte, em 17 de dezembro de 1903.
"É uma das maiores fraudes da história", resmunga o taxista carioca Wagner Diogo, falando dos vôos dos irmãos Wright. "Ninguém viu, e eles usaram uma catapulta para decolar."
E ISSO CONTA?
Aparentemente, o debate gira em torno de como definir o primeiro vôo de um avião. O físico Henrique Lins de Barros, estudioso da vida e do trabalho de Santos-Dumont, argumenta que o vôo dos irmãos Wright não preencheu as condições que haviam sido estabelecidas na época para distinguir um vôo verdadeiro de um salto prolongado.
Já Santos-Dumont cumpriu esses critérios, que na prática significava voar sem nenhuma ajuda, em público e diante de especialistas, por uma distância pré-determinada, antes de fazer um pouso seguro.
"Se entendermos quais eram os critérios no fim do século 19, os irmãos Wright simplesmente não cumprem qualquer dos pré-requisitos", diz Barros.
Os brasileiros também argumentam que os Wright lançaram o seu Flyer em 1903 com a ajuda de uma catapulta ou de um plano inclinado, o que, portanto, desqualifica sua máquina como um verdadeiro avião, por não ser capaz de decolar por conta própria.
Mesmo especialistas como Lins de Barros admitem, no entanto, que não foi bem assim. Mas ele afirma que os fortes ventos de Kitti Hawk foram cruciais para a decolagem do Flyer, o que desqualifica aquele vôo por falta de provas de que o aparelho poderia decolar sozinho.
Peter Jakab, presidente da divisão aeronáutica do Museu Nacional do Ar e do Espaço, em Washington, um especialista nos irmãos Wright, considera tais acusações absurdas.
Na época em que Santos-Dumont fez seu primeiro passeio com o 14-Bis, os irmãos Wright já haviam voado várias vezes, percorrendo em uma delas 39 quilômetros em 40 minutos.
"Mesmo em 1903 o avião se sustentou no ar por quase um minuto. Se ele não se sustentasse por sua própria força não ficaria lá em cima por tanto tempo", diz Jakab.
Até na França --país que nem sempre concorda com os EUA-- os irmãos Wright são considerados os pioneiros, diz Claude Carlier, diretor do Centro Francês para a História da Aeronáutica e do Espaço.
"Existe uma questão de nacionalismo muito forte", diz Marcos Villares, sobrinho-bisneto de Santos-Dumont. "O vôo foi um fato muito importante na história humana, na história da tecnologia. Todos os países querem a prioridade."
Isso não quer dizer, porém, que Santos-Dumont não mereça reconhecimento por outras contribuições. Ao circundar a torre Eiffel a bordo de um dirigível motorizado, em 1901, ele provou que as viagens aéreas poderiam ser um meio prático e controlável de transporte.
"Só mostrar que a máquina voadora era prática já é um feito incrível", diz Hoffman, seu biógrafo.
Na sua casa de veraneio em Petrópolis, na serra fluminense, guias turísticos perpetuam mitos a respeito de Santos-Dumont -- como aquele que diz ter sido ele o inventor do relógio de pulso.
Os especialistas negam isso, embora admitam que ele foi provavelmente o primeiro civil plebeu a usar um relógio de pulso, que foi feito sob encomenda por seu amigo Louis Cartier para facilitar a consulta às horas durante os vôos. Até então, só a realeza ou soldados usavam relógios de pulso. Ainda hoje, a grife Cartier vende o seu modelo Santos. (Por Carlos A. DeJuana, da Agência Reuters.)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santos_Dumont
http://www.vidaslusofonas.pt/santos_dumont.htm
http://br.geocities.com/costeira1/dumont/index.html
http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/9-luso/3-falsa.htm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15410.shtml
http://www.picarelli.com.br/clipping/clip11122003a.htm