QUALIDADE DE VIDA

Auroville – A cidade sem políticos e classes sociais que é governada pelas pessoas

aucit1A utopia cantada por John Lennon na canção Imagine, de um mundo sem posses, países, religião, fome ou cobiça, pode estar ainda longe de se tornar uma realidade para todos, mas ganha contornos possíveis, e bem sucedidos, em uma cidade localizada no sul da Índia, chamada Auroville. Reconhecida oficialmente como cidade tanto pelo governo indiano quanto pela Unesco, Auroville recebe, desde sua fundação, em 1968, pessoas de todo o mundo, inclusive do Brasil.

A população da cidade hoje é cerca de 2 mil habitantes, mas o local tem capacidade para receber até 50 mil moradores. Em sua inauguração, punhados de terra de 124 países foram levados até Auroville, a fim de significar o cunho extranacional e aberto da cidade. Ainda que esteja localizada em uma região paradisíaca, e que o lazer e o prazer sejam incentivados em Auroville, todos por lá têm muito o que fazer – e recebem um salário de cerca de R$ 405 por mês, valor mais do que suficiente para os custos de vida e ainda para se guardar um pouco para emergências.

A cidade, totalmente autossustentável, possui escola, restaurantes, padarias, hospitais, cinemas e lojas. Ainda, portanto, que seja possível acumular dinheiro em Auroville, não há muito o que se comprar. Ninguém anda de carro – na cidade, somente bicicletas e motos – e o estilo de vida não inclui muito espaço para ostentação e consumismo.

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O mais interessante de Auroville, porém, são suas bases políticas. Não há cargos públicos ou hierarquias governamentais – bem, não há sequer governo ou eleitos. Diante de cada dilema ou proposta social que a cidade atravessa, um conselho geral se reúne, no qual são delegados membros para resolver o que estiver em debate. Além disso, não existe religião oficial, nem qualquer mistura possível entre o “estado” e a religiosidade individual dos moradores. Contanto que não preguem, persigam ou incomodem outros moradores, cada um é livre para exercer a religião que quiser – ou não exercer nenhuma.

Para morar em Auroville basta querer, e ter um pouco de dinheiro. Uma casa por lá custa em torno de 3 mil dólares – que arquitetonicamente são espetaculares! É preciso ter um trabalho oficial, e contribuir em outras funções, com eventuais aptidões pessoais. Você pode, por exemplo, ser um artista, e sua produção será remunerada. Por um ano – período chama do “estágio” – os cidadãos decidem se o novato pode ou não permanecer como morador. Se o pedido for negado, o valor investido é devolvido integralmente.


Auroville – A Cidade Universal

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2014 - Conheça a Auroville, uma comunidade no sul da Índia, que busca a unidade entre os homens, investe em tecnologias sustentáveis e tem uma arquitetura contemporânea. Auroville, é uma comunidade internacional , perto de Pondicherry, no Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, construída com o propósito de ser uma “Cidade Universal, onde todos, homens e mulheres, pudessem viver em harmonia, independente de nacionalidade, raça, crenças e politica, para realizar a unidade humana na diversidade. Sua proposta urbanística é original e desenvolve a cidade em forma de uma espiral simbolizando a evolução humana e no centro se ergue majestoso o Templo de Matrimandir.

Atualmente, tem cerca de 4 mil e duzentos moradores originários de 45 países , inclusive do Brasil, além de muitos indianos que moram no local e trabalham nas mais diversas atividades. A população cresce constantemente e não raro alguns dos seus milhares de visitantes, se apaixonam pelo lugar e filosofia de vida e alí permanecem.

O projeto de Auroville é reconhecido internacionalmente como o primeiro e contínuo experimento em unidade humana e transformação da consciência, com pesquisas sendo feitas para um desenvolvimento sustentável que responda às necessidades culturais, ambientais, sociais e espirituais da humanidade. As pessoas podem se candidatar a serem moradores permanentes de Auroville. Para tanto, precisam marcar uma entrevista com o “Entry Group”, no final do seu período como hóspede para confirmar, oficialmente, a sua decisão.

Foi fundada dentro dos princípios da Yoga Integral, concebida e desenvolvida por Sri Aurobindo e “A Mãe". O conceito da cidade iniciou-se nos idos de 1930, porém foi em 1960 que a Associação Sri Aurobindo em Pondicherry propôs o início da sua construção, nas formas pensada por eles. O projeto foi apresentado ao Governo da Índia, que deu sua autorização e encaminhou para a Assembléia geral da UNESCO. Em 1966, em uma resolução unânime, a UNESCO dava seu aval ao projeto, dizendo que era importante para o futuro da humanidade.

Cidade universal, ponte entre o passado e o futuro, caminho de transformação... Auroville já mereceu incontáveis definições, na tentativa de sintetizar o que ela representa. Há 40 anos plantada na região de Villupuram, no Estado de Tamil Nadu, a cidade que surgiu do sonho de um filósofo hindu, Sri Aurobindo, que perseguia o sentido da vida e acreditava que o caminho para conquistar a paz e o equilíbrio seria a união entre os homens. Debruçada sobre a Baía de Bengala, que engloba quase 100 vilas espalhadas por uma área de 20 quilômetros quadrados, com uma população estimada em 4 mil pessoas originárias de mais de 45 países - apenas metade dos habitantes é indiana. "É um lugar onde se vive pacificamente, somando em vez de competir".

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Auroville simboliza a procura de liberdade, e a liberdade sempre desafia a ordem. O projeto só poderia acontecer na Índia, onde impera o caos, as buzinas não param de tocar, vacas e gente se misturam aos carros num trânsito de enlouquecer. Um país sem regras, palco da diversidade mais absoluta, em que a tecnologia de ponta convive com uma cultura riquíssima em tradições. Se estivesse vivo, Sri Aurobindo, o grande pai dessa comunidade, com certeza concordaria. Ele mesmo definia a Índia como uma "divina anarquia", um ambiente de extrema complexidade, que inspira viver intensamente a experiência humana.

Ele ainda dizia: "O homem tem de tomar consciência de seu ser interior e só depois se organizar espontaneamente, sem se submeter a leis externas a seu espírito". O mestre, autor de vários trabalhos espirituais, defendia o direito de cada um identificar seus rumos, mas lembrava que para tanto é preciso se libertar da autoridade do ego. Auroville foi pensada como um cenário que estimulasse justamente essas conquistas.

“Auroville quer ser uma cidade universal onde homens e mulheres de todos os países possam viver em paz e progressiva harmonia acima de todos os credos, todas as políticas e todas as nacionalidades. O propósito de Auroville é realizar a unidade humana”– A mãe

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Projetada para abrigar 50 mil pessoas, a comunidade de Auroville pretende continuar crescendo a base de novas fazendas que produzam comida orgânica, herbários e o fomento de energias renováveis. Auroville é "o primeiro e único centro urbano dedicado à experimentação na unidade humana", comprometido com as "necessidades culturais, ambientais, sociais e espirituais da Humanidade do futuro", segundo um documento da organização. Iluminada pelas idéias do filósofo indiano Aurobindo, sua companheira espiritual francesa, Mirra Alfassa, conhecida como "A Mãe", pegou o bastão do pequeno "ashram" de Aurobindo e fundou a cidade de Auroville em 1968.

Segundo sua carta de fundação, cada habitante há de ser "servo sincero da Consciência Divina", sem que exista uma chamada para abraçar uma fé determinada. Os 4200 habitantes da cidade participam deste projeto coletivo administrado por um órgão, a Fundação Auroville, que tem o apoio do Governo indiano. Em consonância com as idéias de Aurobindo, em Auroville não se pratica nenhuma fé "nem se faz nenhuma cerimônia religiosa que envolva sacerdotes". Tudo se baseia no sentido espiritual, na existência de uma divindade que sustente tudo, para detalhar que existe uma sala chamada "Nossa alma coletiva", destinada à meditação. No entanto, a ideia principal de Auroville não era apenas criar um centro espiritual, mas uma cidade exemplar na qual cada cidadão contribuísse com a comunidade e permitisse sua viabilidade.

O plano da cidade, "baseado na forma de uma galáxia em espiral", tem quatro regiões onde se desenvolvem atividades industriais e culturais, segundo a Fundação Auroville, que dão trabalho para entre 4 mil e 5 mil pessoas e que geram US$ 2,5 milhões anuais para a economia local. No centro de Auroville, meca para gente ávida por experiências espirituais, encontra-se uma estrutura enorme em forma de globo chamada Matrimandir ou "alma da cidade", rodeada de jardins para facilitar a meditação. Sua infra-estrutura inclui escolas de educação primária gratuita, centros de saúde com remédios tradicionais, albergues para acolher turistas e lojas com produtos locais. No entanto, às vezes não é fácil viver neste grande experimento de vida comunal.

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As pessoas têm que se adaptar a muitas coisas às quais não estão acostumadas. É preciso trabalhar muito. Em uma comunidade de apenas 4 mil pessoas é um pouco difícil conseguir fazer tudo. Auroville segue se esforçando para chegar aos 50 mil habitantes, algo difícil já que muitos jovens abandonam a cidade após seus estudos, embora muitos também permaneçam por lá. "Apesar de ter passado tantos anos aqui, ainda me parece tão maravilhoso que não entendo como as pessoas não têm vontade de voltar", diz uma espanhola, que pensa em ficar em Auroville "para sempre".

Vida real

Liberdade é o mantra. Mas que não se confunda Auroville com a ideologia do flower power dos anos 1960.

"A cidade não tem nada a ver com as antigas coletividades hippies, onde se vivia na ilusão, sem fundamentos nem propósitos", afirma o professor de ioga Marco Schultz, de Florianópolis, Santa Catarina, que há mais de 12 anos lidera grupos de estudo em viagens a centros de peregrinação espiritual.

"Aos hippies faltava ética. Em Auroville se exercita a consciência", diz. Além disso, havia naquelas tribos um desprezo visceral pelo conforto - considerado supérfluo - e pela produtividade. Nesse projeto não é pecado produzir, muito menos consumir. "A rotina é concreta", afirma. Para sobreviver é preciso trabalhar, pagar impostos (33% da renda vai para a comunidade) e estresse não é uma palavra rara. Em contrapartida, há a certeza de que se pode contar com o outro e que a ele devemos nossa solidariedade.

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"A comunidade tem diretrizes pautadas no bem comum. A propriedade é coletiva e a administração cabe a um conselho composto por um representante do governo da Índia, um conselheiro internacional e os moradores. A proposta é colocar o ego a serviço da consciência e empenhado na busca pela unidade", diz Schultz.

“Auroville não pertence a ninguém em particular, pertence à humanidade como um todo. Para se viver em Auroville é necessário ser o servidor voluntário da Consciência Divina. Esta cidade será o lugar de uma educação sem fim, de progresso constante, e de uma juventude que nunca envelhece; a ponte entre o passado e o futuro, um lugar de pesquisas materiais e espirituais”. A Mãe

Este é o caminho

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Ali, vive-se na contramão do capitalismo. Crescer não é a prioridade. Qualidade de vida, isso sim é uma aspiração imediata. Apesar do tom esotérico, essa busca pela consciência não se atém a uma religião. Aliás, a proposta é a não religião que abriga todas as formas de fé sem impor nenhuma. Há abertura para todos os homens de sabedoria, mas não se deve limitar a uma tradição religiosa. Não há gurus nem dogmas. "A Mãe é uma inspiração. Porém, a responsabilidade de nossas próprias ações é individual", afirma Schultz.

Visitar o Matrimandir evidencia esse valor. A construção em forma de esfera, dourada, é um templo sem deuses, silencioso, que concentra uma energia feminina ligada à força da criação e a valores como compaixão, leveza e amorosidade. O único barulho é o da água corrente, que embala a meditação, prática hinduísta adotada como canal de autoconhecimento. "Para ser livre é importante entrar em contato consigo mesmo", diz Schultz.

Centro de Jovens – Youth Centre

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O Centro de Jovens (Youth Centre) de Auroville, é uma minicidade fundada e mantida por jovens. Segundo Auroville , o Centro de Jovens — ou Peaceful City – é “um lugar onde jovens de todas as idades e origens podem se reunir coletiva e construtivamente pra relaxar, trabalhar, aprender e brincar em um ambiente seguro e voltado à natureza, longe das limitações da família, escola, e a sociedade estruturada em geral.”

Esse ambiente de convivência coletiva, era inicialmente uma resposta à burocracia e ás regras cada vez maiores em Auroville. Nesse contexto, o Centro de Jovens surgiu como um espaço aberto e experimental. Ao longo dos anos, várias casas na árvore foram construídas no Centro de Jovens colaborativamente, intensificando a ideia de um maior contato com a natureza.

Desafios

A calma conectada a comunidade imaginada pelo mestre, está em perfeita sintonia com a tecnologia, o design e a inteligência do mundo contemporâneo. Há um estímulo especial a práticas sustentáveis, como o uso de bambu na arquitetura e a ampliação das diferentes formas de energia solar. Muitos quilômetros de floresta foram replantados, a fauna foi reintroduzida, o uso sustentável de água e energia virou prática, e há uma campanha constante para reciclagem e redução dos resíduos. Nas escolas - são seis, atendendo crianças de todas as vilas -, a pedagogia da livre escolha permite optar por matérias, de modo que cada aluno descubra seu potencial. Esportes e arte são altamente valorizados.

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Apesar das concepções que regem a comunidade, Auroville enfrenta as mesmas questões de outras cidades do mundo. Surpreendentemente, há vestígios de violência e destruição. O sonho de Aurobindo caminha lentamente, dependente de doações do governo da Índia, de ONGs e de pessoas de boa vontade. Para os otimistas, esses passos vagarosos representam uma nova percepção global. Ela enaltece a cidade-laboratório, em que se experimentam novos modelos de convivência e de vida urbana, tão necessários ante a falência em que as cidades se encontram.


Fonte: Hypeness
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