QUALIDADE DE VIDA

Porque sofremos? Conheça os quatro braços do sofrimento e como superá-los

sofrem2Por Daniela navaes - Porque sofremos? Você já parou pra pensar nisso? Talvez até já tenha se perguntado, mas por falta de conhecimento nunca tenha parado para sistematizar. De acordo com os ensinamentos do yoga, a causa maior do sofrimento é a ignorância da nossa verdadeira natureza, que é a pura consciência de que somos seres já completos e perfeitos, e que por isso a felicidade já existe em nós. Mas o que nos impede de vivenciar isso? É dito que a ignorância tem quatro braços. Veja abaixo quais são eles e como eles estão te impedindo de experimentar a felicidade do Ser. Depois, saiba o que fazer para superá-los, um por um.

Medo

O medo é uma consequência da ansiedade, que por sua vez nasce na necessidade de controle. Resumindo, gastamos muito tempo buscando em vão uma falsa sensação de controle sobre a própria vida, e isso nos impede de experimentar o estado de simplesmente ser, confiando na vida e no fluxo da existência.

Apego (ao que é prazeroso)

Não precisa falar muito. O problema é que a sensação de gozo quando experimentamos o contato com objetos que nos causam prazer e bem estar não é felicidade genuína, e sim um prazer parcial. Tanto é assim que é certo dizer que na falta dos objetos de prazer, as pessoas se sentem incompletas, e por isso sofrem, pois desejam novamente experimentar o gozo temporário dos sentidos, e julgam isso como felicidade.

Aversão (ao que não causa prazer)

Repulsa por tudo aquilo que não traz prazer imediato. Também autoexplicativo. Perceba que não se trata simplesmente de aversão ao que causa dor, mas a qualquer coisas que não traga prazer. Acontece que à medida em que refinamos nossos gostos e experiências, mais refinadas ficam também nossos parâmetros de prazer, e, consequentemente, aumenta o leque de experiências que não causam prazer. Logo, aumenta também a nossa capacidade de sofrer.

Egoísmo

É aquela parte de nós que diz que somos únicos, melhores e mais especiais do que os outros. Logo, nossas necessidades têm que ser atendidas primeiro, e por sermos especiais automaticamente somos merecedores de tudo de bom.

Resumindo: apego

Se quisermos simplificar mais ainda esses quatro braços, é possível. Olhe atentamente cada um deles e perceba que todos podem ser resumidos a apenas uma palavra: apego. Medo é apego à segurança. Apego ao prazer é autoexplicativo. Aversão à dor é apego ao prazer e egoísmo é apego ao ego. Logo, a raiz do sofrimento é só uma: apego. Chegando a essa conclusão, fica muito mais fácil saber como se livrar do sofrimento. Ora, se a raiz do sofrimento é o apego, então a chave para a verdadeira felicidade é o desapego.

Desapego: uma prática útil e eficaz

Antes de definir o que é desapego, vamos aqui deixar bem claro o que não é desapego. Desapego não é “deixar pra lá”, “não ligar pra nada” ou não aproveitar a vida. Uma pessoa desapegada não é um robô insensível. Pelo contrário. Desapego é enxergar e reconhecer as coisas como elas são, sem agir de acordo com o próprio juízo de valor imediato. É buscar e estar aberto para as experiências pelas experiências, e não apenas pelas recompensas que elas podem vir a nos trazer. Vamos exemplificar abaixo algumas formas de trabalhar o desapego para vencer cada um dos quatro braços.

Vencendo o medo: desapego da necessidade de controle

Ter consciência de que nada está sob controle é o primeiro passo. Não temos controle da hora do nascimento, da forma como crescemos, envelhecemos e nem da hora da morte, que são as coisas mais básicas da existência. Tudo o que fazemos é como uma grande aposta: nós agimos e o resultado pode ser aquilo que esperávamos ou não (aliás, muito mais provavelmente não será). Mas mesmo quando as coisas saem como queremos, não quer dizer que estivemos no controle. Quer dizer apenas que as circunstâncias naquele momento estavam favoráveis àquele resultado. Ao invés de pensar em como você gostaria que as coisas acontecessem e se sentir invadido pelo medo caso isso não aconteça, pense nas vezes em que fez algo cujos resultados se saíram melhores do que as suas maiores expectativas e em como você se sentiu. Agora pense que, livre do medo, você vai se sentir assim quase sempre, pois quando não se alimenta expectativas, os menores resultados positivos nos trazem grande sensação de alegria.

Vencendo o apego: desapego ao prazer pelos objetos externos

Desapego ao prazer de forma alguma é deixar sentir prazer. Pelo contrário: é viver com muito mais prazer e intensidade. O apego nasce do desejo de obter algo novamente após uma experiência prazerosa. Quando não temos apego pelas coisas, conseguimos aproveitar muito mais o que de fato está próximo, pois nossos sentidos e mente estão abertos, e não inundados pelo desejo por algo que está ausente. Ao invés de se sentir em falta daquilo que não está presente, experimente exercitar o prazer de simplesmente estar consigo mesmo. Sinta sua respiração, seus batimentos cardíacos. Respire, espreguice-se. Sinta que a fonte do prazer está em você mesmo, e não nos objetos externos.

Vencendo a aversão: desapego às experiências passadas e impressões mentais

Experiências dolorosas e traumáticas podem deixar marcas profundas que são difíceis de serem apagadas. Mas aqui estamos falando de algo mais sutil, que é a falta de vontade de se engajar em qualquer atividade que traga algum tipo de incômodo leve ou que simplesmente não traga prazer imediato. Ao invés de adotar uma atitude mental de rejeição a essas atividades, experimente desassociar essas experiências a sentimentos negativos. Costumo dizer que o melhor remédio para a preguiça ou para a falta de vontade para fazer algo é começar a fazê-lo, o que quer que seja. A dificuldade está só em começar. Uma vez começada a atividade, é muito mais fácil simplesmente seguir o fluxo.

Vencendo o egoísmo: desapego à falsa ideia de grandeza e separação

Vou te propor um exercício simples. Tome consciência de si mesmo neste momento. Seu corpo, seus pensamentos, sua respiração. Observe com atenção todas as sensações que chegam à sua consciência neste momento. Agora se tiver uma pessoa próxima a você, observe essa pessoa atentamente. Caso não haja uma pessoa, escolha um objeto qualquer à sua frente e observe-o com muita atenção. Coloque toda a sua concentração nesse objeto ou nessa pessoa. Observe por algum tempo e com muita atenção suas características externas, sem fazer juízo de valor. Agora volte a atenção para si mesmo. Você percebe que enquanto estava observando o objeto ou pessoa estava totalmente desconectado das suas próprias características?

O egoísmo vem da falsa ideia de que existe uma separação entre nós e o mundo. Com esse exercício simples você pode ter um vislumbre de que tudo é, na verdade, consciência. Tudo é só uma questão de para onde você direciona a sua consciência. Vencer o egoísmo não significa deixar de atender às próprias necessidades, mas sim fazê-lo com a consciência de que a natureza tem como característica o caos e a transformação. E o nosso corpo e mente são parte da natureza logo, também têm como característica básica o caos e a transformação. Portanto, se a nossa consciência estiver direcionada para o caos e a transformação, acontecem duas coisas: pensamos que somos mais importantes, pois nos identificamos com nossas necessidades básicas, já que elas estão no foco da nossa consciência; e nunca encontramos a paz, pois sempre estamos oscilando entre uma coisa e outra.

Voltar-se para o Supremo: o caminho mais fácil e rápido

Se tudo é uma questão de redirecionar a consciência, existe um caminho mais fácil: cultivar a entrega e a contemplação a algo maior do que você, algo cuja grandeza não pode ser compreendida pelos sentidos nem pelo intelecto, e que é a fonte suprema de todo o prazer e contentamento. Para algumas pessoas esse Supremo pode ser Deus. Para outras, pode ser a quietude do silêncio, ou os mistérios do universo. Não importa o que seja, contanto que seja algo que para você faça sentido e que te desperte um sentimento de pura devoção e doçura transcendental, este é o caminho mais fácil para manter-se em constante serenidade e paz interior.

Através da meditação, conseguimos pouco a pouco experimentar esta paz, porque em essência essa é a nossa verdadeira natureza. E se enxergamos e vivenciamos a nossa verdadeira natureza, consequentemente conseguimos enxergar a verdadeira natureza das outras pessoas também. Com isso, abrem-se os olhos da compaixão e da bondade, e a vida toda toma uma forma muito mais especial, com um propósito muito mais claro e verdadeiro. Para viver sem sofrimento precisamos ter certeza de que somos apenas um fragmento de consciência dentro de um oceano de possibilidades infinitas. É só uma questão de olhar para frente e para o alto ao invés de para o próprio umbigo. E assim, simplesmente deixar que a vida siga seu fluxo, aceitando e agradecendo o que vier, porém sem deixar de cumprir o seu dever e fazer o que é correto, que é tudo aquilo que visa o bem estar e a felicidade de todos.

Namastê!