QUALIDADE DE VIDA

Falta Planejamento Familiar !!

familiaHildeberto Aleluia  - Num táxi, em Madri, às 18 horas, em busca de uma exposição sobre EliasCanetti, num engarrafamento brutal, a inevitável conversa com omotorista. Ele era jovem, 35 anos. Revoltado, destilava raiva contra ogoverno. Fazia quatro anos que estava casado. Faturava naquele táxi,de domingo a domingo, cerca de 4 mil euros por mês.

Sua ira advinha,principalmente, do fato de não poder ter um filho. Porque? Pergunto eu. Sua voz sobe, se altera, alguns tons acima, eledesanca novamente o governo, sem piedade.A Espanha de PIB superior ao do Brasil, um quarto de nossa população euma da dez maiores   economias do mundo está em crise. E o motoristaque me leva está revoltado com o salário de 12 mil reais, diz-me quenão dá para viver e pior, arremata: - Não sei quando poderei ter um filho. Não sobra nada de meufaturamento mensal. Nem do salário de minha mulher. Ter um filho e criá-lo é muito caro.

Meu dinheiro não dá!Fiquei a refletir sobre a consciência daquele homem nas etapas davida. Refleti sobre a Previdência espanhola que necessita de reformas,pois apesar de rica não suporta os encargos.

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Refleti sobre as baixíssimas taxas de natalidade da sociedade espanhola. Aquilo me jogou de volta ao Brasil. Pelas razões do motorista ninguém deixa de ter um filho por aqui. Por razão nenhuma o brasileiro, pobre, deixa de ter filhos. Aqui nasce quase um Uruguai por ano (3 milhões de habitantes ), uma Argentina inteira a cada dez anos.

Imagine os 190 milhões de brasileiros, tal qual uma pirâmide,empilhados. Uma pirâmide social. Nessa pirâmide, o primeiro terço, a parte de cima, onde estão localizadas a classes A e B, têm taxa de natalidade da Europa nórdica. Menos de um filho por casal. Justamente eles que podem educar, preparar o filho para a vida, um ser produtivo e dessa forma contribuir para a sociedade e para a nação, não desejam ter muitos filhos, no máximo um ou dois por casal. Neste pedaço da pirâmide, o Brasil tem vida de primeiro mundo. Nada lhes falta. Este é o  Brasil, que produz, que recolhe impostos, gera riquezas e faz o PIB legal. Este é o Brasil que sustenta a Previdência Social, o SUS, e o Bolsa Família, para citar alguns dos benefícios. É nesse pedaço de Brasil que a carga tributária atinge a  quase 40 por cento da renda do brasileiro.

Quando você vai descendo a pirâmide, passando para as classes C, D, E, F... e por adiante, ou seja, do meio para baixo, a taxa de natalidade brasileira vai subindo. Na base, as taxas de natalidade são da Chinade Mao. Entre os mais pobres, quatro, cinco filhos por mulher, é a média. Lá embaixo já não se conta por casal. Não se conta porque a mãe pobre é solteira, tem filhos de pais diferentes, mora na favela, ou na periferia. O bebê é o arrimo da família. Quanto mais filhos, mais possibilidades de compensações através de ajudas que vem do Estado.

O Estado brasileiro seja a nível federal, estadual ou municipal, é um grande incentivador das altas taxas de natalidade.Todas as políticas sociais dos governos são de estímulo a nascimentos. A legislação também. Através de assistências diversas o estímulo vem de todas as formas. Depois que nasce a criança, o Estado é incapaz de garantir uma vida decente. E o destino desse brasileiro está selado. A rua. Sem direito a escolas, saneamento, higiene, e uma vida decente, a criança acaba nas ruas e mais tarde nos abrigos ou nas prisões. Não se conhece a proporção entre as taxas de violência urbana e as de natalidade, mas conhecendo-se as origens dos infratores não dá para ignorar que o número de nascimentos nas classes menos favorecidas compromete a vida.

E o desempenho do Estado.Há muitos anos o problema da favelização deixou de ser de migração. Passou a ser de taxa de natalidade. Quanto mais nascimentos, maisinformalidade na economia. É curioso um país como o nosso, cheio degente sem trabalho, necessitar importar mão de obra especializada.Importa porque não há educação na base social. Costuma-se dizer por aíque o Brasil não distribui renda.Trata-se de uma falácia. Não existe país no mundo com um programa de transferência de renda tão amplo quanto o Brasil, através da Previdência Social. Todos os brasileiros têm direito, e um grande número sem nunca ter contribuído e que nunca irá contribuir. A informalidade é inimiga da arrecadação oficial. E  o ônus recai no trabalhador formal. Sobre este está a responsabilidade de sustentar o Estado que incentiva a natalidade e de sustentar, mal, os que nascem dessa irresponsabilidade.

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Durante muito tempo atribuiu-se à Igreja Católica por este absurdo da natalidade entre os mais pobres, a ausência de uma política de planejamento familiar ou de controle da natalidade. Junto, vinha o argumento, insano, de  que era necessário nascer para ocupar o território. Hoje, a igreja já não influi nem no roteiro das novelas.O Cardeal ainda tem voz ativa junto ao dono do jornal. No coração do povão o cantor Belo  cala mais fundo que qualquer mensagem paroquial. Ninguém está disposto a modelar a sua vida de acordo com o pensamento do padre. E a tese de gente para ocupação do território é tão falsa quanto aquela que aponta para a favela e diz  que lá agora vive a classe média. É o Brasil do PT. Seja o do PT, do PSDB ou o de todos, o Brasil com esse perfil social jamais terá uma solução.

Hildeberto Aleluia - é professor de jornalismo político da Faculdade da Cidade e empresário da área de Comunicação.

Fonte: http://www.claudiohumberto.com.br/artigos/index.php#34