CURIOSIDADES

Cinco Lições de Yoga com Doutor Estranho

dryo topoAcabou de chegar à telona mais um filme do Universo Cinematográfico da Marvel, e, como já era de se esperar, os elementos que renderam à Disney mais um pedaço da indústria do entretenimento estavam todos lá de novo: as piadas (toneladas delas), as referências, o cameo de Stan Lee… No entanto, assim como os quadrinhos que originaram o filme, “Doutor Estranho” se destaca de outros títulos de heróis devido à sua temática: o egocêntrico e narcisista Doutor Stephen Strange, mais do que aprender a usar seus poderes, combater vilões megalomaníacos e salvar o mundo, tem que embarcar em uma jornada de autoaprimoramento e ressignificar toda a sua visão a respeito da vida.

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Para isso, ele mergulha em estudos e introspecção em um monastério nepalês, repleto de antigos títulos em sânscrito. E não faltam paralelos entre o novo filme da Marvel e a filosofia do yoga. Vamos, agora, ver cinco lições do yoga que podem ser aprendidas com “Doutor Estranho”.

Lição 1 – Matéria vs. Espírito

Stephen é um médico extremamente materialista. Tendo conseguido se graduar e obter o doutorado simultaneamente devido à sua memória fotográfica, Strange é o típico homem da ciência, e, para ele, a vida é mera combinação aleatória de elementos químicos. “Somos um cisco no universo”, ele proclama. Mas a Anciã mostra para ele casos de cura impossíveis pela medicina, que foram efetuados no monastério através da cura da mente, pois o corpo seria mera sombra do espírito. Os Vedas também partem dessa premissa, e isso é algo facilmente observável: caso tenhamos um mecanismo defeituoso e que, por isso, parou de funcionar, podemos reparar a falha, e o mecanismo voltará a operar, mas não podemos efetivamente devolver vida a um corpo morto, mesmo que consigamos consertar a lesão que levou o tal corpo a óbito. A conclusão védica é que a consciência tem uma origem extra-biológica e que ela é uma diminuta partícula de energia espiritual, dotada de eternidade, conhecimento e felicidade. Essa alma sustenta a matéria e dá vida e dinâmica a ela, tal qual uma bateria, e, tão logo a alma abandone o corpo, ele se reduz a matéria inerte.

Lição 2 – Multiverso

Para acabar com o ceticismo de Strange, a Anciã o conduz a uma rápida viagem pelo multiverso, numa das cenas que mais nos remete ao estilo psicodélico do artista conceitual Steve Ditko (um dos criadores do Doutor Estranho). Fora da ficção, a física também investiga seriamente a possibilidade da existência paralela de muitos universos, e termos como “teoria das cordas” estão cada vez mais em voga. No entanto, na literatura do yoga, o multiverso já era descrito há milênios. Nela, é dito que Vishnu (o Deus Supremo) repousa sobre as águas e, dos poros do Seu corpo, se emanam múltiplos universos, os quais, após cumprirem o seu ciclo de vida, são destruídos e novamente incorporados ao corpo de Vishnu. A duração desses universos seria a mesma do intervalo da respiração de Vishnu.

Lição 3 – Viagens Astrais

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Uma das principais técnicas usadas pelos magos em Karma-Taj é sair do seu corpo físico e vagar em um corpo astral e, assim, explorar os confins do universo. A viagem astral foi popularizada nos anos 60 pelo best-seller instantâneo A Terceira Visão, do médico tibetano Lobsang Rampa, e, na época, a projeção do corpo astral (chamado, em sânscrito, de manojavah) virou uma espécie de fetiche entre os membros do movimento de contracultura, nas suas tentativas de desvendar os segredos do universo.

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O que os Vedas dizem é que, além do corpo biológico, possuímos também quatro outros corpos: o energético, o mental (formado pelas emoções, desejos e sentimentos), o intelectual (formado pelas ideias e abstrações) e o egoico (formado pelas diferentes identidades temporárias que a alma assume em contato com a matéria). O conjunto desses corpos é chamado de corpo sutil, que seria o tal “corpo astral”.

Lição 4 – Poderes Místicos

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Perplexo com a complexidade da magia, Strange encontra muita dificuldade em realizar mesmo os feitiços mais básicos. Quando indaga a Anciã sobre como poderia evoluir, ela o questiona sobre como ele tinha aprendido a executar intricadas cirurgias neuronais. Stephen responde que essa habilidade é o fruto natural de estudo e disciplina, e ela conclui que, com magia, é igual. No mundo do Doutor Estranho, a magia é algo que todos podem aprender, desde que treinem duro para isso. E, segundo os Vedas, quando alguém progride na arte do yoga e estreita sua conexão com a Consciência Suprema, naturalmente vai ganhando domínio sobre a matéria e desenvolve poderes sobre-humanos.

Essas perfeições místicas ióguicas são chamadas siddhis, e existem quinze que são consideradas as principais: (1) conhecer passado, presente e futuro; (2) tolerância a calor, frio e outras dualidades; (3) ler mentes; (4) anular a influência do fogo, sol, água e veneno; (5) se tornar invencível; (6) não sentir fome, sede e outros apetites corpóreos; (7) ouvir coisas distantes; (8) ver coisas distantes; (9) teletransporte; (10) assumir qualquer forma desejada; (11) possuir o corpo de outros seres; (12) escolher o momento da própria morte; (13) habitar os reinos dos seres divinos; (14) materializar seus desejos e (15) dar comandos mentais.

Lição 5 – O Tempo

O tempo é um dos motes do enredo de “Doutor Estranho”: de um lado, temos a relíquia mística “Olho de Agamotto”, que Strange usa para controlar a passagem do tempo; do outro, temos a dimensão negra, onde o tempo é ausente. Segundo os Vedas, o tempo é um dos cinco ingredientes indispensáveis para a existência deste mundo (os outros seriam Deus, as almas, a matéria e o karma). Como a alma é eterna, a influência do tempo e a efemeridade da matéria são anômalos a ela.

Lição Bônus – “Não é sobre Você”

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Além de que ela é celta e muito antiga, pouco sabemos sobre a sábia tutora do Doutor Estranho, a enigmática Anciã. Ela ensina Strange a abrir portais interdimensionais e a conjurar feitiços arcanos, mas guarda sua mais valiosa lição para ele em suas palavras derradeiras. Após ver seu pupilo avançar a passos rápidos no reino da magia, mas não conseguir se livrar da sua arrogância e orgulho, a Anciã energicamente abre seus olhos: “Você pode controlar o quanto quiser e, ainda assim, não ser o controlador! Ainda não entendeu? Isso não é sobre você!”

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Segundo a filosofia do yoga, o mundo da matéria é feito para que as almas possam saciar sua necessidade de controlar. Podemos entender melhor esse ponto através da seguinte analogia: uma criança observa um adulto cozinhando e pede a ele para usar o fogão. Uma vez que o adulto não pode deixar que a criança manipule o fogo pelo perigo que isso implica, ele dá à criancinha um fogão de brinquedo. Nele, a criança pode brincar à vontade de cozinhar, mas, quando ela sentir fome de verdade, terá que se render à culinária do adulto.

Da mesma forma, por ser feita à imagem e semelhança de Deus, a alma diminuta tem a tendência de tentar ser a controladora suprema. Uma vez que ela não pode dar vazão a esse impulso no mundo espiritual, porque isso romperia a harmonia inerente de lá, ela vem ao mundo material, uma espécie de simulação da realidade espiritual. Uma vez na matéria, ela tenta controlá-la para cumprir seus próprios propósitos e, quando percebe que suas tentativas vãs de ser o controlador não satisfazem suas expectativas, ela se rende ao controle divino. Ela, por fim, terá de reconhecer: “Não é sobre mim”.


Fonte: https://voltaaosupremo.com