VERDADES INCONVENIENTES

Receita Marcada e o admirável mundo da ritalina - parte 1

laboratorios_recei_marcadaReportagem "excelente" do Jornal da Band, aliás como é de praxe da emissora 2011 - Comida boa, hotéis de luxo, passeios com a família. Esses são alguns dos presentes que laboratórios distribuiem em todo o Brasil, para que médicos indiquem seus remédios aos pacientes. Convites para simpósios em hotéis de luxo no Brasil e no exterior com tudo pago, jantares regados a muita comida e bebida alcoólica, brindes e sorteio de eletro-eletrônicos. Desde o primeiro ano da faculdade de medicina os alunos ja são assediados por funcionarios da indústria farmacêutica. Luis Paulo Soares, estudante de medicina: "A gente recebe uma amostra grátis aqui, faz o uso de alguma coisa e no final o medicamento chega ao mercado muito caro". 

O orçamento mensal de Dona Regina foi prejudicado, o médico da pensionista receitou um remédio que custa R$ 87,00 para hipertensão e disse que ela não poderia comprar o genérico. Regina Celia Rezende: "Eu vou mudar de médico, para ver se ele tem a mesma opinião."

Dr. Clovis Francisco Constantino (Dir.Cons.Fac. Medicina): "É importante que ele mencione na prescrição dele o nome genérico e diga ao paciente que este é o genérico e que existem outras opções. Esse tipo de franqueza, informação é uma obrigação ética do médico."

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A maioria das pessoas confia na prescrição médica e é disso que os laboratórios se aproveitam, do desconhecimento dessas outras opções. Para vender os remédios a indústria farmacêutica conta com equipes que visitam com frequência os médicos nos consultórios, além de oferecer amostras grátis, os chamados propagandistas dão presentes aos profissionais da medicina.

Um homem que é propagandista a 4 anos diz como é a relação com os médicos:

Repórter: "O que o médico pede em troca para prescrever os medicamentos do laboratório? "

Propagandista: "Muitas vezes o médico pede jantares, que o laboratório pague alguns congressos e pague algumas viagens"

Essa prática é muito mais comum do que se imagina nos consultórios medicos. Segundo a OMS 75% dos remédios prescritos não são adequados, a cada 42 minutos uma pessoa é intoxicada por uso indevido de medicamento no Brasil. Muitas vezes o paciente nem precisa tomar remédio.

Nossa equipe de reportagem acompanhou um jantar promovido por um laboratório numa churrascaria em São Paulo. Foram convidados 60 médicos, alguns deles levaram parentes. O laboratório que organizou o jantar não promoveu uma palestra com um especialista médico, apenas apresentou um de seus produtos. Essa prática é proibida pela agencia nacional de vigilância sanitária. Depois do jantar todos os médicos agradeceram a cortesia.

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Em maio o laboratório NOVARTIS patrocinou um congresso sobre osteoporose num Resort em Florianópolis,de sexta a domingo. Passagem aérea e hospedagem de graça e um desconto especial para os acompanhantes de 50 médicos. Na manhã de sábado eles assistiram a 4 palestras, o restante do fim de semana foi livre. Na maioria das vezes os profissionais convidados são os que mais indicam os medicamentos dos laboratórios que patrocinam o evento.

Para verificar a venda dos produtos e quem prescreveu a indústria negocia cópias das receitas médicas com as farmácias. Veja o que diz um farmacêutico: "Em algumas farmácias dependendo dos propagandistas as vezes eles pedem o CRM do médico. Ai o que acontece? Todo o medicamento que a gente manda para o caixa a gente manda o CRM do médico. Nas farmácias pequenas sempre dão "comissãozinha" para os balconistas."

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E quanto mais consumo mais dinheiro para a indústria farmacêutica. O setor fatura por ano R$ 28 bilhões de reais no país, 30% são investidos em marketing. Em nota o laboratório NOVARTIS, que patrocinou o congresso num hotel de luxo em florianópolis, alega que o evento teve cunho científico e que o objetivo do encontro foi atualizar os profissionais de saúde.

Como os propagandistas agem em hospitais, universidades e farmácias

Eles estão nos corredores dos hospitais, na porta dos consutórios, nas universidades de medicina. É só o médico ter um intervalo que os propagandistas dos fabricantes de remédios aparecem com amostras gratis, panfletos e brindes de todos os tipos: radio relógio, livro, caneca, canetas, toalhas, pen-drive e até bichinho de pelúcia. Alguns chegam a pedir de tudo em troca da precrisão. Um propagandista nos diz: " Tem médico que queria reformar o consultório, dizendo: olha, estou querendo reformar o consultório o que o laboratório vai me dar?"

Outro propagandista diz que a relação com grande parte dos médicos é de pura troca de interesses: "Na realidade o propagandista vê o médico como fonte para gerar capital de vendas para o laboratório. O médico ja olha como uma fonte de interesse particular.

Dr Riad Younes, diretor do Hospital Sírio Lebanês: " São relacionamentos, são patrocínios, ajudas que podem, teoricamente, influenciar a decisão do médico e esse decisão não é mais independente e é ai que mora o problema."

A distribuição de amostras grátis de remédios de tarja preta é ilegal, ainda assim uma propagandista confirma que entrega medicamentos controlados aos médicos: "O que for liberado de amostra de tarja preta tem que constar o carimbo no protocolo e a quantidade." O reporter pegunta: "Então o propagandista pode levar (amostra de tarja preta)?" A propagandista responde: "Pode."

Além da distribuição de brindes os laboratórios investem em sorteios de produtos caros, o que é proibido pela Agencia de Vigilância Sanitária. Fabricantes ja sortearam entre os médicos que participaram de congressos e simpósios, computadores portáteis, aparelhos de tv e até carros !!! Num evento promovido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia digestiva, em São Paulo, uma empresa definiu uma estratégia para chamar a atenção dos profissionais de medicina. O sorteio de um DVD karaoque.

A Federação Brasileira da Indústria farmacêutica acredita que o desvio de conduta dos médicos não é comum. Ciro Mortella, presidente Federação: "O importante é que são casos que devem ser tratados com foco em cima desses casos e não se pode generalizar para a atividade de toda a indústria e de todos os profissionais médicos." Para tentar acabar com as práticas ilegais, a ANVISA vai mudar a regulamentação do setor. Segundo Maria Jose Delgado, gerente de fiscalização Prop. / ANVISA, a amostra grátis ficara proibida de ser distribuida em congresso médico, o espaço para receber e utilizar essa amortra gratis é o consultório médico. Enquanto isso negociações proibidas continuam. Numa farmácia, nossa equipe conseguiu o que deveria ser confidencial, a relação de médicos que prescrevem medicamentos tarja preta.

Os propagandistas também fornecem aos médicos cupons de desconto que autorizam os pacientes a comprar medicamentos com até 50% de desconto, desde que escolha um dos produtos do laboratório. Essa é uma estratégia para manter a venda do produto e prejudicar os mais baratos, com os genéricos. Os médicos que particam da promoção carimbam a receita com uma restrição: "NÃO SUBSTITUIR POR GENÉRICOS", o que é proibido pela ANVISA. Os pacientes estão começando a desconfiar da conduta de certos profissionais da medicina. Laura Gonzales, aposentada: "Nós estamos perdendo a confiança, com certeza." Cristina Giuliani, analista de sistemas: "A gente sempre vai num segundo médico para ter certeza do que esta acontecendo, principalmente se é um caso sério."

Um medicamento infantil teve a sua venda aumentada em quase 1000%, sendo que a maioria das crianças NÃO precisaria tomar !!!

São José do Rio Preto / SP - Juntas as crianças fazem a maior bagunça numa escola, mas algumas acabam de destacando por ser mais agitadas e tem dificuldade de se conscentrar nas aulas. É o caso de João Vitor que recebeu o diagnóstico de transtorno de déficit de atençao e hiperatividade. O distúrbio atinge 8 em cada 100 crianças no mundo. Pedro também não para um minuto, vive correndo e sonha em ser jogador de futebol, Preocupada com essa agitação constante a mãe dele decidiu buscar tratamento para o filho.

O médico lago prescreveu metilfenidato, remédio mais conhecido pelo nome comercial de Ritalina. Dona Noêmia, mãe de pedro, procurou outra opinião médica e descobriu que ele não precisava tomar o remédio. O remédio é controlado e só pode ser vendido com um tipo especial de receita de cor amarela, mas é facil encontrar a droga sendo vendida livremente na internet. No Brasil, nos últimos 4 anos, houve um amento de 930% na venda da Ritalina.

Em São José do rio Preto, interior de Sao Paulo, 12.000 comprimidos foram vendidos em 2007, segundo o ministéiro da saude a cidade é uma das que mais prescrevem o medicamento. Segundo especialistas o crescimento do consulo do remédio esta ligado ao marketing agressivo dos fabricantes. Cerca de 70% das crianças, que tomam o remédio, NÃO tem a doença.

Katia Forli BauTheney, psicanalista / USP: "A indústria farmacêutica, na minha opinião, cria as doenças para que então os sujeitos possam então consumir medicamentos para de certa forma, diminuir os sintomas provocados por essa doença."

Para chamar a atençao para a eficácia do produto e induzir o tratamento, os dois laboratórios, que fabricam o metilfenidato, divulgam pesquisas encomendadas e opiniões médicas sobre o assunto. Um artigo diz que uma em cada três crianças com o transtorno é reprovada na escola, quem informa é o laboratório Janssen-Cilag que produz um concorrente da ritalina. O mais novo estudo cientifico sobre o tema, produzido pelo Institulo de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi patrocinado pelo laboratório Janssen-Cilag.

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Quem toma o medicamento sem precisar sofre com os efeitos colaterais, cefaléia, alteração do sono, alterações de apetite, segundo o neurologista Fábio de Nazaré. Para vender mais os laboratórios facilitam o acesso ao remédio. Um propagandista nos diz: "O famoso ritalina o acesso é facil. Você consegue em qualquer carro de representante."

Os norte americanos consomem 90% da produção mundial da ritalina. Nos EUA o assunto é tratado como um epidemia. O governo tem promovido campanhas nas escolas para informar que nem todas as crianças precisam tomar o produto. O Brasil caminha no sentido contrário.

Raul Gorayeb, psiquiatra / UNIFESP: "Hoje em dia prevalece, na minha opinião, na industria farmacêutica aquilo que a gente chama de capitalismo selvagem, a ganância, o lucro a qualquer custo."

Em nota o laboratório Janssen-Cilag afirmou que não interfere nos resultados das pesquisas científicas que patrocina, só o laboratório NOVARTIS, do remedio ritalina nao quis se pronunciar.

A ANVISA promete mudar a lei após reportagem da Band, que denunciou a relação entre laboratórios e médicos, relação que vai contra a saúde publica. umna indústria que movimenta 28 bilhóes de reais por ano no Brasil.

PARTE 2