HISTÓRIA E CULTURA

O Olho de Horus - Com Ombo, O Portal da Liberdade (Episodio 9) - Parte 1

atlantida_inicioOs egípcios entendiam que a realidade era manifesta por um único Deus, através de suas forças criadoras fundamentais, as divindades a que chamavam de Neters, o mundo físico era dirigido pelo faraó que representava o nível de consciência alcançada pelo homem durante o seu reinado. O faraó era a encarnação do KA-real, um único espírito que evoluía reencarnando de faraó em faraó, isso o transformava em uma divindade intermediária entre o homem e Deus encarregado de conservar e aperfeiçoar a ordem no mundo físico egípcio. Seu universo espiritual ...

era guiado pelo hierofante sumo sacerdote da Escola de Mistérios do Olho de Horus, primeiro servo de Deus, rei Netertep o grande vidente. Seu símbolo era uma serpente com duas pernas e o disco solar na cabeça, a imagem da eternidade, da sabedoria e da regeneração física. A organização sacerdotal sobre seus cuidados se dividia em três grupos: O primeiro se encarregava do conhecimento verificado e era dirigido pela mais sábio dos sacerdotes, o segundo se encarregava da arte e dos rituais, e o terceiro era encarregado da administração dos templos.

Os sacerdotes do conhecimento eram os pedagogos incumbidos de preparar os herdeiros de sua casta. Eles transmitiam as verdades herdades deste as origens da escola de mistérios, na desaparecida civilização atlante, verdades já comprovadas sobre o funcionamento do universo. O conhecimento no mundo egípcio era transmitido com exclusividade aos iniciados da escola que demonstravam com provas de atitudes perante a vida, que podiam receber sabedoria e não fazer mau uso da mesma. A revelação é o verbo. Eram chamados de Hrj-Habet ou Sacerdotes do Conhecimento. Eles ensinavam a linguagem simbólica, a escrita, as matemáticas, a astronomia e o controle das forças fundamentais. A este grupo pertenciam os Kabirem, os medidores do céu, que registravam em todos os templos a abóboda celeste, fixando pelas estrelas o momento exato dos rituais diários, das festas anuais, e a mudança que anunciava o fim de uma era e o começo de outra. O segundo grupo se encarregava da produção de obras de arte, do desenho arquitetônico e da construção dos templos, da direção das oficinas onde os iniciados, ajudados pelos artesãos do povo fundiam as esculturas simbólicas.

Esses sacerdotes criadores desenhavam e supervisionavam as inscrições nos muros dos templos. Eles ensinavam a trabalhar a arte com a sabedoria do amor, a desfrutar do ofício, a dar sempre o seu melhor. Desenham os símbolos, ferramenta fundamental, dos rituais, os objetos e as figuras simbólicas e depois determinavam o que se devia fazer regularmente com eles nos momentos cósmicos, tais como os solstícios e os equinócios. Estabeleciam os rituais, o que deveria ser entendido através das sensações em um percurso espacial sem intervenção da razão e também as ações necessárias para criar a segurança no povo e gerar uma energia especial nos participantes. O ritual induzia os sacerdotes da Escola de Mistérios do Olho de Horus a ter autoridade perante o povo, utilizando o controle da intuição, da percepção do ser humano independente de seu preparo ou nível de consciência.

 

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Estabeleceram com cuidado o que os participantes percebiam, os sons, as palavras, os aromas associados como incenso, suas cabeças raspadas e suas vestimentas brancas que denotavam limpeza, os colares de flores e as barcas douradas, nas que carregam o símbolo de sua relação com Deus. Usavam o ritual para transmitir ao povo a hierarquia e a ordem da sociedade que organizaram utilizando ferramentas singelas tais como a riqueza das vestimentas, sua visualização, a arrumação ou a quantidade dos participantes. O ritual renovava a relação entre os poderes: acima o Deus único, a seguir os Neters, os mortos, os sacerdotes, o faraó, seu exército e o povo. Os rituais aproximavam o homem do sagrado, induziam emoções intensas que impulsionavam suas ações de uma forma suave.

 

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O terceiro grupo administrava o cotidiano dos templos, organizava os cultivos, a recepção dos víveres, a preparação das refeições, a limpeza dos recintos, formando uma sociedade comunitária. Usava em sua base um grupo de sacerdotes temporários chamados de Wab, os puros, homens do povo que durante um mês por ano serviam nos templos executando as tarefas diárias inferiores para depois retornar as suas atividades habituais. Alguns viviam no campo, cultivando os terrenos cedidos pelo templo envolta de seus muros externos. Chegavam ao amanhecer para realizar os rituais de purificação para entrar no templo e continuar com suas atividades diárias. Outros vivam na aldeia próxima ao templo e trabalhavam o restante do tempo na administração estatal. Carpinteiros, operários e pedreiros consertavam e ampliavam o templo nessa modalidade de trabalho temporal-rotativo. Esse sistema de rotação permitia que muitos membros da sociedade participassem dos rituais e cultos desde o interior do templo, e fazia com que o povo entendesse que os trabalhos comunitários beneficiavam a todos.

Os três grupos convergiam nos templos, os lugares onde se organizava a ordem, Umaat, a busca do equilíbrio harmônico temporal. Ali o homem se submergia no espaço sagrado orientado para o cosmo, registrando seu permanente movimento. O templo era o instrumento de preservação da ordem e não um mundo criado para a salvação da alma. O espírito se aperfeiçoava e adquiria mais informações através da reencarnação ao compreender os erros cometidos. O erro era um instrumento de aprendizado, não era necessário ser salvo dele. O templo era o lugar onde se encontravam as duas forças fundamentais, a força do caos e a da ordem. Ali se atingia o equilíbrio necessário, a harmonia que leva o aperfeiçoamento de todos os indivíduos da sociedade. Este conceito é claramente expresso no Templo de Kom Ombo, dedicado simultaneamente a Sobek, a força do caos que induz ao erro e a Horus, o símbolo da consciência permanente e da sabedoria. Neste templo, os iniciados da escola começavam o seu aperfeiçoamento espiritual.

 

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Aqui chegavam a transcender o medo e os atos automáticos do instinto de defesa a controlar o chacra raiz. Neste templo lhes ensinavam a existência da lei da natureza, códigos divinos que produzem uma reação automática para defender a vida, necessários quando se está na animalidade, mas que devem ser controlados de forma a ascender aos níveis superiores de compreensão. Não se pode ser sábio tendo uma série de condutas automáticas ou reações agressivas descontroladas que ferem as relações que mantemos com todo o mundo. O primeiro nível de compreensão terminava quando entendiam que a vida é eterna, que a morte é uma porta no processo de reencarnações quando controlavam as reações automáticas de agredir para defender a vida. Isso era demonstrado ao sobreviverem a prova da morte no centro conceitual dos dois altares, demonstrando sua audácia, segurança e confiança ante a perfeição de tudo que ocorre no universo, como veremos neste programa.


O templo de Kom Ombo era onde se agradecia pela dualidade existente no universo, a qual permite ao homem enganar-se e aprender com os resultados de suas decisões, de forma a produzir compreensão e aperfeiçoamento espiritual. Por isso estava dedicado a duas forças opostas, representada por Sobek, simbolizado por um homem com cabeça de crocodilo e Horus, um homem com cabeça de falcão. O ignorante e o sábio, o ingênuo e o que tudo aprendeu de tanto enganar-se ao longo de 700 reencarnações. Situado as margens do Nilo, há 48 Km ao sul do templo de Edfu, a aproximadamente 25° de latitude norte e aos 34° de longitude leste, encontram-se as ruínas do templo ptolemaico de Kom Ombo, chamado antigamente PA-Sobek, O Domínio de Sobek, força simbólica representada por um crocodilo.

 

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Neste lugar não existe um grande complexo como em Edfu ou em Dendera. O templo era protegido por muros elevadíssimos e o povoado estava envolta de um forte do exercito imperial, onde os elefantes africanos eram treinados para a guerra. Ali, desde tempos muito remotos, ao lado do desaparecido forte, existia um templo dedicado a honrar a polaridade, a dualidade de tudo neste mundo. Durante as dinastias ptolemaicas o templo foi reconstruído, e são suas ruínas as que chegaram até os nossos dias. Kom Ombo estava voltado para os 43,5° sudeste, em direção a estrela Alfa Centauro, uma estrela do hemisfério sul que anunciava o surgir do sol no equinócio de outono. O templo dividido ao meio, é dedicado por igual a Sobek e a Horus, os dois extremos do caminho do aperfeiçoamento. Sobek, o começo do caminho, a ignorância e a animalidade. Horus, o fim do mesmo, a consciência permanente e o fim do ciclo de reencarnações.


A frente havia um pátio aberto formado pelas ruínas de 16 colunas de um corredor coberto. Até aqui o povo podia entrar, uma marca nas colunas dava a autorização, o símbolo da ave sobre a semicircunferência em honra ao faraó. Ao fundo vê-se uma das torres que ainda restam do muro externo. Talhado em seus muros vemos as duas figuras simbólicas frente a frente e o faraó Ptolomeu V que ordenou a reconstrução do templo. A fachada principal tem dois acessos simétricos sobre os quais um dintel decorado mostra o duplo disco alado rodeado pelas serpentes que simbolizam as luz em meio a dualidade. Um muro a meia altura, como os existentes em Edfu e em Dendera, une quatro altas colunas. Uma quinta coluna divide as duas portas. O pinulo fechava o pátio coberto e permitia aos visitantes deslumbrar a fachada interna a partir das portas simétricas. O pátio das colunas era menor que o do templo de Edfu, a sombra de suas desaparecidas galerias, os iniciados da escola de mistérios se refugiavam do sol. Do lado direito do templo estão as ruínas do que foi uma pequena capela dedicada a Hathor.

Em seu interior se conservam os restos mumificados de alguns dos crocodilos que eram mantidos em um labirinto de túneis inundados sob o templo. O crocodilo é um dos animais mais duros e resistentes, sua pele é muito densa, é como o metal dos animais. Os egípcios associavam essa dureza ao estado máximo de materialização, um nível muito afastado da espiritualidade. Aí o espírito começa o seu caminho de liberação das limitações materiais a medida que vai compreendendo como o universo funciona. O crocodilo simboliza a vida quando sai das águas da inconsciência. Sai para buscar o ar, que representa a consciência. Os egípcios acreditavam que na primeira respiração o espírito entra no corpo em que se reencarnou. A comprida coluna vertebral do crocodilo é um símbolo do eixo da vida em todo ser vivo, até mesmo a esfera do planeta tem sua coluna vertebral sobre o seu eixo de rotação.

 

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Por ela se movimentam as forças eletromagnéticas que lhe dão vida e que formam um campo protetor das radiações solares ultravioletas em volta do planeta, permitindo o desenvolvimento da vida e a evolução da consciência. Sobek, o crocodilo, e Tuaret, a hipopótoma, representavam nos mapas celestiais as estrelas circumpolares, que situadas sobre o eixo de giro do planeta, brilham fixas por milhares de noites sobre os pólos. Os dois animais sem mantêm submersos nas águas, reinam na escuridão, subindo ocasionalmente a superfície em busca de ar para respirar. As águas representavam o caos que logo renovava a vida. As águas do Nilo, coluna vertebral do Egito, transbordavam periodicamente arrasando tudo, para em seguida produzir o crescimento da vegetação e da fauna. O caos desarruma as partes permitindo que logo se organizem pelas harmonias ou afinidades entre elas, que as unem momentaneamente. Desordem, caos, ordem, harmonia, ritmos que se alternam.

Esta força da natureza que desorganiza para renovar a vida era reconhecida com o nome de Sobek, o homem com cabeça de crocodilo. Sobek pertence a corte de Seth, o senhor da escuridão a força que leva o homem ao materialismo, a sensualidade, que atrasa seu caminho evolutivo e que semeia em sua vida decisões erradas para que aprenda com seus próprio erros. Para os egípcios, essas forças não eram boas nem más, eram neutras. Foram criadas por Deus para permitir o erro e o sofrimento que trazem compreensão ao homem, levando-o a imortalidade e a consciência permanente. O templo está simetricamente dividido, o lado direito, a leste, é dedicado a Sobek, o lado direito, a oeste, a Horus, o principio e o fim do caminho evolutivo da consciência. Horus, o homem com cabeça de falcão sobre a qual se assenta um disco dourado, era o símbolo da consciência permanente, representa um homem que aprendeu tudo nesta escala da realidade, um ser imortal ascendido nas hierarquias do universo.

Encontra-se ao fim do caminho do aperfeiçoamento quando o homem se transforma em um mestre, num iluminado que se dedicará a outras missões no universo. O faraó Ptolomeu VI iniciou a reconstrução do antiqüíssimo templo e sua decoração interna foi concluída sobre Ptolomeu XII, quando a civilização egípcia estava desaparecendo. Ao cruzarmos a fachada de cinco colunas com seus muros intercalados até meia altura, temos acesso ao salão comum a Sobek e Horus, chamado de Casa da Vida. É um mundo simbólico. Ali, onde os iniciados recebiam ensinamentos e produziam suas artes e escritas, interagem as duas forças opostas. Dez altíssimas colunas com capteis florais sustentam o teto mais alto do templo. Aqui, os iniciados escutaram de seus mestres que para avançar no caminho espiritual é necessário construir uma vontade inquebrantável. Há que se querer fazê-lo de forma consciente. As primeiras lições e exercícios eram destinadas a obter homens de fibra.

Uma rígida disciplina era necessária para estudar, para controlar os temores, para dominar as paixões. Poder fazer e abster-se é possuir duplo poder. Um compromisso além da morte era estabelecido para manter-se uma total descrição e um silencio absoluto sobre as verdades reveladas. Um principio hermético que garantia o acesso a informação somente aos que a mereciam, aos que podiam escutá-la. Era-lhes revelado que quando ainda não existem a consciência e o livre arbítrio, são necessários os instintos, as condutas e reações automáticas. A lei da natureza codifica essas reações em todos os animais para defender e gerar a vida. Mas quando se nasce como um ser humano e se quer abandonar a animalidade original, é necessário ter controle e consciência. Ceder as forças da natureza é apenas seguir a corrente coletiva. Só se obtém o conhecimento e evolução de forma individual. Na penumbra deste salão, via-se em seus respectivos santuários as reluzentes figuras douradas de Sobek e Horus, a vista dos iniciados no inicio das procissões nas festividades dos solstícios e dos equinócios. A decoração do seus muros é cerimonial, o faraó é abençoado por Sehkmet e Horus do lado direito, e por Isis e Toth, do lado esquerdo. Outro mural semelhante existe do lado de Sobek, ressaltando a igualdade das divindades sem importar suas condições polares, se são boas ou más, se há luz ou escuridão.

As forças opostas existem para moldar a consciência do homem, para que aprenda com o resultado de suas próprias decisões. Logo a seguir, chega-se a um espaço transversal onde se encontram o salão das purificações e o salão de recepção das oferendas do lado de Horus. Antes do nascer do sol, os sacerdotes se banhavam com as águas do poço ou do lago sagrado do templo, recebiam a fumaça do incenso e mascavam natrão, um tipo de sal, num ritual diário de purificação. Os banhos purificadores se repetiam ao meio-dia e a noite. Todos eram circuncidados, um hábito logo adotado pelos judeus. Vestiam-se sempre de linho branco, não lhes era permitido usar vestimentas que contivessem pele ou partes de animais mortos, como couro e a lã. A única exceção era a pele de leopardo sobre os ombros, usada pelos altos sacerdotes, os Sem. Usavam o cabelo trançado de um lado da cabeça como uma marca de sua condição. Do lado esquerdo do templo existe um poço profundo com uma escada que submergia sobre o Nilo. Neste poço, os sacerdotes realizavam suas purificações matinais. Uma abertura superior permitia que a água enchesse um pequeno aqueduto, que mantinha cheia uma piscina não muito profunda do lado esquerdo do templo, onde ficavam os crocodilos dedicados a Sobek. O poço servia também como um instrumento de medição. Seus degraus mediam, durante anos, os níveis do Rio, e assim podiam prever as inundações futuras.

PARTE 2