HISTÓRIA E CULTURA

Fazenda Nazista no interior de São Paulo - Parte 2

fazi topo 2Hoje, Santos vive uma vida tranquila com a esposa, Guilhermina, no sudoeste do Brasil. Eles estão casados há 61 anos. "Eu gosto de tocar meu trompete, de sentar na varanda e tomar uma cerveja gelada. Tenho muitos amigos e eles sempre aparecem para bater papo", conta. As lembranças do tempo difícil que passou na fazenda, no entanto, são difíceis de apagar. "Quem diz que sempre teve uma vida boa desde que nasceu está mentindo", diz Santos. "Na vida de todo mundo acontecem coisas ruins".

Com o fim da AIB após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, as crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local foram suprimidas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von Bohlen und Halbach, servindo como local de férias para a família, mas acabou vendida anos depois.

Demolição do local

As construções remanescentes de uma colônia nazista que funcionou na década de 1930 na Fazenda Cruzeiro do Sul, serão destruídas. O novo proprietário decidiu limpar as terras para facilitar o cultivo de cana-de-açúcar. Está prevista a derrubada dos prédios das oficinas, da cocheira e da pequena igreja. A antiga piscina de alvenaria será soterrada.

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Segundo Aguilar Filho será "uma calamidade" se a demolição ocorrer. "É um patrimônio público, seja ou não reconhecido pelo Estado. O que aconteceu ali é uma história inconveniente, mas que precisa ser contada." Segundo ele, a pesquisa sobre a célula nazista e a história dos meninos escravos não está completa. "Ainda há muito a ser contado sobre as relações do Estado brasileiro com o regime nazista."


Entre a Suástica e a palmatória


História, Biblioteca Nacinal - Eremita filmes. Reportagem especial da Revista de História da Biblioteca Nacional, direção Philippe Noguchi, Reportagem Alice Melo - O nazismo de Adolf Hitler foi responsável por alguns dos episodios mais nefastos do século XX e disseminou sua influência para além do continente europeu. Inclusive para o Brasil. Nos anos 1930 e 1940, uma fazenda do interior paulista adotou abertamente símbolos nazistas. A propriedade vizinha, pertencente a mesma família, colocou em prática teorias racistas e eugênicas: recrutou 50 crianças órfãs, a maioria negras, para trabalhar em suas terras. A história ficou esquecida durante décadas. O passado soment veio a tona em 1990, quando um fazendeiro descobriu a primeira pisat do caso. O nome dele é Tatão.

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"A origem, certo dia estava eu e o empregado tratando dos porcos. E num belo momento, numa briga de porcos e como a parede ja havia sendo destuida a alguns dias pelos porcos, eles então acabaram de arrebentar a parede e fugiram do chiqueiro, que era antes uma casa velha. Quando o empregado sai correndo para cercar os porcos ele gritava para mim e eu fiquei pasmo olhando para o tijolo."

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"Um dia a minha entiada estava tendo uma aula de história, ela comentou que na propriedade dela no interior tinha tijolos com a suástica nazista. Até então todo mundo deu risada. Então na outra semana ela levou um tijolo. Na mesma semana o professor Sidney veio para começar todo esse inventário para chegar onde chegou hoje.

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"Na época, realmente, verifiquei uma quantidade significativa de contruções das décadas de 1930 e 1940, com uma grande profusão de simbologias nazistas não só marcadas nos tijolos mas que também apareciam em fotografias de época em lombo de animais, em bandeiras de times de futebol, em talonários. Ai eu tomei a decisão de iniciar essa pesquisa por conta própria. O que mais me chamou a atenção não foram as simbologias nazistas, foi a associação entre a simbologia da extrema direita e a transferência de meninos negros de um orfanato católico do Rio de Janeiro para o interior de um outro estado que me chamou muito a atenção. A presença de um único gênero, masculino, de uma faixa etária também única de 9 a 12 anos, foi esse conjunto probatório que acabou me levando a essa relação e depois de um trajeto relativamente longo, que durou alguns anos, eu acabei chegando aos documentos do Educandário Romão de Matos Duarte, onde eu acabei localizando nos livros de saída de internos, o nomes de pelo menos duas dezenas deles e encontrei domentações assinadas de proprio punho por Osvaldo Rocha Miranda, que se punha como responsável pela retirada legal e pela transferência dos meninos do Rio de Janeiro para Campínas do Monte Alegre.Sei Aloisio Filho foi um dos meninos que foi retirado do Romão de Matos Duarte e acabou servindo como um dos principais guias da pesquisa."

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"Ele reuniu todos nós num canto do quintal de brincar, era bola, bicicleta, patinete, casinha de passarinho. Ai ele mando colocar nos tudo empilhado num canto, entao tinha o passador de nós dormir no alojamento, a gente chama de passadiço, e ficava la em cima com um saco de bala enorme, la de cima o major Osvaldo Rocha de Miranda jogava um pedaço de barro e nós ia catar como galinha catando milho, a gente não sabia de nada. Então ele olhava ali e ia apontando, André pêm isso par la e aquel pra lá e assim foi, falto 20 de nós..."

Professor Sidney: "No rio de janeiro o que eles ouviram é que iriam para um lugar muito legal, que tinha rio, passarinho, que tinha cavalo para andar, que eles ficaram a princípio entusiasmados com a idéia e ja na transferÊncia começaram a se mostrar outros aspectos não tão dóceis assim desse processo de retirada."

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Tatão: "Na estação Engenheiro Hermíllo, chegaram os meninos. Eles vieram de trem até esta estação onde desceram, foram para um caminhão que os levou a fazenda. Quando eles chegaram aqui viram que era só mato, então eles simplesmente queriam voltar"

Prof Sidney: " E ao chegarem foram submetidos a práticas de trabalho acompanhando o ritmo dos adultos e por isso também os relatos de castigos, de uso da força, de ameaças."

Seu Aloísio: " Ja tinha 400 alqueires separados para que a gente trabalhasse para eles e mais nada. Carpir, arrancar praga de campo, a mão da gente chegav a sangrar. a gente ia pra a escola e nem podia escrever.Usaram a gente porque não tinhamos pai nem mãe, ninguem que socorrece...virou escravidão.....escravidão,,,"

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Professor Sidney: " Vários fugiram, o seu Argemiro foi um dos meninos que fugiu.O seu Argemiro foi um dos meninos que fugiram e acabou em Foz do Iguaçu onde ainda vive tem filhos e netos."

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"Eu conheci diversos deles, como o Aluísio, o "dois"....e falavam que eles não tinham salário, mas eu tenho assim, gosto até de esclarecer isso, porque tinham sim uma moeda la, um vale que tinha o nome de "boró" e dai então eles compravam, queriam doce, bala e depois esse contador ele ia até a campina e procurava o dono da venda e perguntava quanto tinha de vale da fazenda, quanto tem de boró e o comerciante somava e dizia o valor, ele pagava e trazia os boró para a fazenda para continuar repartindo novamente. Então eu acho que esse era o dinheiro deles era o salário que eles recebiam."

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Fardamento usado por membros da ação Integralista Brasileira

Seu Aloísio: "Quando chegamos aqui o fardamento era uma calça branca, uma camisa verde com um emblema aqui e outro aqui. Na primeira turma o meu número era 7 por escala, por tamanho, depois fui para 23"

Nenhum deles tinha documento eles eram chamados por números. Eram chamado "ô 23" "ô negro".

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A presença da simbologia nazista na região e a presença também do integralismo não podem ser simplistamete confundidos, mas se deve perceber também os pontos de contato. Otávio Rocha Miranda, Oswaldo Rocha Miranda e Renato Rocha Miranda fizeram parte da Camara dos 40 da AIB. Sérgio Rocha Miranda, que nos anos 1930, 1940 era proprietário da fazenda cruzeiro do sul não aparece nas documentações da AIB, mas era assumido nazista. Era na fazenda dele, na fazenda Cruzeiro do Sul que foram encontradas grande simbologias nacional-socialista.

A fazenda Cruzeiro do sul foi vendida pela família de Tatão em maio de 2012. Os novos donos decidiram transformar a propriedade em uma plantação de cana-de-açúcar e autorizaram a demolição de boa parte das construções. A existência de simbologia nacional socialista nesta fazend é uma evidência da presença de ideais autoritários no interior do Brasil.

A família de sobrenome Rocha Miranda de Campina do Monte Alegre eram quase sempre vistos com benfeitores afinal de contas o município surge praticamente cercado pelas antigas fazendas da família Rocha Miranda.

O seu Aloísio ficou nas fazendas dos Rocha Miranda até , entre aspas, a sua liberação, os traumas foram marcantes acontecidos na infancia. TEve uma vida marcada pelo alcolismo até a terceira idade e foi somente ai que ele começa a reconstruir-se emocionalmente em relação aos traumas do passado. O seu Argemiro seguiu um caminho difrente depois de ter morado alguns anos nas ruas de Sao Paulo quando da eclosão da segunda guerra viu por bem se alistar na marinha. De volta ao Brasil, seu Argemiro passou um tempo no Rio de Janeiro. Além do serviço na Marinha, jogou futebol amador no clube São Cristóvão, aprendeu a lutar boxe e a tocar trompete.

Em Foz do Iguaçu, foi convidado a jogar profissionalmente. Virou meia-atacante do time local o ABC. Aos 25 anos, se apaixonou por dona Guilhermina, com quem está casado até hoje. O casal teve três filhos. Depois de se apresentar, formou uma banda com outros músicos veteranos da cidade. Os "Pitungas Boys" eram populares na região. Se apresentam pelo sul do pais, no Paraguai e na Argentina. Hoje, seu Argemiro gosta de passar as tardes sentado na varanda de casa, tomando uma gelada. Até o fechamento desta reportagem, os remanescentes contactados da família Rocha Miranda preferiram não se pronunciar sobe os episódios narrados.

Fonte: http://noitesinistra.blogspot.com.br/
https://www.youtube.com/watch?v=v-K730tXMuY