UFOLOGIA

Morte na Ilha do Caranguejo

GBH667Por Bob Pratt - originalmente publicado no Livro: Perigo Alienígena no Brasil, editado pela revista UFO.(Bob Pratt, investigador inicial do caso) Um dos mais impressionantes casos ufológicos ocorridos no Brasil, envolvendo quatro pescadores maranhenses. Um deles morreu e outros dois ficaram seriamente feridos em decorrência do contato. José Souza morreu aos 22 anos de idade. Era saudável e não sofria de nenhuma doença. O que o matou é um mistério. O dia começou ensolarado e quente, quando ele e mais três homens foram de São Luis do Maranhão a Ilha do Caranguejo, 25 km ao sul, na Baía de São Marcos, em um ...

barco velho e corroído. Chegaram no início da tarde, ancoraram em um riacho bem dentro da ilha e passaram o resto da tarde cortando árvores finas e podando galhos. Eles planejavam vender mastros de madeira para uso em construções simples. A ilha tem 40 km de comprimento e 11 km de largura. É um local isolado, pantanoso e deserto, infestado por mosquitos e coberto de arbustos e árvores. As pessoas só vão lá para pegar madeira ou apanhar caranguejos. Com José estavam dois de seus irmãos, Apolinário, 31, e Firmino, 38, e um primo, Auleriano Bispo Alves, de 36 anos.

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Eles trabalharam a tarde toda cortando e empilhando troncos. Pararam às 18h00, quando o Sol começava a se pôr, e fizeram uma refeição de carne e arroz. A maré estava baixa e o barco ficara ancorado na lama do riacho vazio. Ficaram batendo papo até as 20h00 e foram dormir dentro do barco, cobrindo a escotilha com um pedaço de lona para impedir a entrada de mosquitos. Uma pequena janela fechada, na parte de trás da cabine, permitia a circulação do ar. Uma lanterna com o pavio baixo estava pendurada em um dos lados da cabine. Os homens pretendiam acordar por volta da meia-noite quando a maré subia, levar os troncos ao barco e voltar para São Luis, com o refluxo da maré. José, Apolinário e Auleriano (1) já tinham feito aquela viagem pelo menos umas cem vezes antes, e nunca deixaram de acordar com a maré. O balanço do barco quando o riacho se enchia e o som da água batendo no casco era um ótimo despertador.

Firmino era o único novato. O quarto homem que costumava acompanhar o grupo estava doente e Firmino, um fazendeiro, pediu para ir no lugar dele porque precisava de mastros de madeira para um anexo que estava fazendo em sua casa na floresta tropical. Era a sua primeira viagem, e ele viria a se arrepender de tê-la feito. Alguma coisa terrível aconteceu enquanto eles dormiam. À meia-noite, José estava morto e Firmino e Auleriano seriamente machucados, mas ninguém sabia o que tinha acontecido ou por quê. Ninguém sabia e até hoje não sabe.

Descoberta Assustadora

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Bob Pratt a bordo do pequeno barco na qual os pescadores se encontravam na fatídica noite.

Em vez de acordarem à meia-noite, com o fluxo da maré, eles só despertaram por volta das 05h00, quando o Sol estava nascendo. Apolinário, que dormira em um tapete no chão da cabine, ouviu Auleriano gritando por socorro na frente do barco. Ele ficou intrigado, porque Auleriano tinha ido dormir em uma rede na parte traseira do barco, pouco mais de um metro atrás do tapete de Apolinário. Apolinário cambaleou para frente, agachou-se sob a outra rede, onde ficara José, e retirou a lona que cobria a escotilha. Com a área para a carga subitamente visível à primeira luz do alvorecer, Apolinário olhou para baixo e viu Auleriano deitado em vários centímetros de água na estiva. Ele perguntou qual era o problema, mas Auleriano não sabia. Estava com dor, não conseguia se levantar e não sabia como tinha ido parar lá.

Apolinário ajudou Auleriano a sair pela escotilha e ir até o tombadilho, e percebeu que ele estava queimado nas duas escápulas. Auleriano baixou o short e viu que tinha uma queimadura também nas nádegas, do lado esquerdo. Estranhamente, o short não se queimara. Apolinário começou a fazer um chá para Auleriano, mas ouviu alguém gemer na parte de trás do barco. Ele desceu até a cabine, agachou-se novamente sob a rede de José, e viu Firmino deitado no chão, debaixo da rede de Auleriano. Era outra surpresa, porque Firmino tinha ido dormir na parte da frente do barco, onde Auleriano fora encontrado. Mas a surpresa de Apolinário se converteu em choque quando ele examinou Firmino. “Ele estava queimado e inchado, e a pele tinha caído”, disse Apolinário. “Tentei falar com ele, mas não respondia. Seus olhos estavam fechados e não consegui abri-los. Fiquei apavorado”.

Assustado, Apolinário correu até a rede de José para pedir ajuda, mas assim que o tocou, percebeu que ele estava morto. Tentou sentir-lhe o pulso, mas não conseguiu. O corpo de José estava frio e enrijecendo rapidamente, com uma perna pendurada para fora da rede. Tomado de tristeza, Apolinário achou que devia colocar a perna de volta na rede, mas foi uma luta fazer isso. Desesperado, ele queria chorar, mas era o único homem com saúde a bordo e teria de levar os outros de volta a São Luis. Não havia remédios nem estojo de primeiros socorros no barco e ele não podia fazer nada para tratar das queimaduras dos homens. Pior ainda, a maré estava baixa e o barco ficara na lama novamente.

Ajuda de Deus?

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Firmino dias após o incidente, no hospital.

Ele precisou esperar mais de 8 horas até a maré subir novamente. Por volta das 14h00, ele começou a levar o barco de volta a São Luis. Foi uma viagem difícil porque normalmente são necessários pelo menos três homens para cuidar das velas e do leme do barco de 12 m, e Apolinário tinha de fazer tudo sozinho. José estava morto, Firmino inconsciente e Auleriano com muita dor. Durante a viagem, Firmino rolava de um lado para o outro no chão da cabine, conforme o barco pegava as ondas na baía. “ Deus me ajudou. Sem a ajuda Dele, todos teríamos morrido” , disse Apolinário, um homem magro e com apenas 1,50 m de altura. O Sol estava se pondo quando eles chegaram ao Porto de Itaqui, perto de São Luis, mas o pesadelo do rapaz ainda não tinha acabado. As únicas pessoas no pequeno porto de águas profundas eram dois guardas de segurança, que não puderam ajudá-lo. Ele teve de andar 10 km até São Luis, contar à polícia o que tinha acontecido e ir até sua casa para chamar seu irmão mais velho, Pedrinho. Os dois voltaram ao porto de carro, às 21h00, e levaram Firmino a um hospital. Embora Auleriano estivesse sofrendo com muitas dores, ficou junto ao corpo de José.

A polícia só chegou ao barco à 01h00. O corpo de José foi levado ao Instituto Médico Legal e só então Auleriano foi a um hospital para ser tratado. Suas queimaduras deixariam marcas, mas ele pôde ser liberado à noite. Firmino ficou em coma por uma semana, e teve de passar mais de um mês no hospital. Boa parte de seu corpo tinha sofrido queimaduras de segundo grau. As mais sérias estavam do lado esquerdo das costelas, na parte interior do braço esquerdo e na testa.

Os músculos do braço foram tão danificados que os dedos da mão esquerda ficaram permanentemente torcidos para dentro, quase sem nenhuma mobilidade. Não foi feita uma autópsia no corpo de José. São Luis fica perto do equador e depois de 24h00 no calor, o corpo já estava em avançado estado de decomposição. O médico que o examinou no Instituto Médico Legal disse em seu relatório que não havia cortes nem hematomas no corpo. O atestado de óbito declarava que José tinha sofrido um “...acidente vascular cerebral, causado por hipertensão arterial, como conseqüência de um choque emocional”. A causa da morte foi atribuída a ‘choque emocional'.

Choque Emocional

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Firmino, já recuperado, mostrando a cicatriz adquirida na experiência.

Não havia uma explicação para o que teria sido esse choque emocional. Passei mais de um mês na região de São Luis, investigando esse e outros casos, e durante boa parte desse tempo, tentei localizar o médico. Com Mônica Carneiro e outros intérpretes, fui atrás dele em toda parte, sempre deixando recados, mas quando finalmente o encontramos, ele se recusou a conversar, e não explicou o por quê daquilo. Sei, no entanto, que quando ele enviou o relatório sobre a morte de José, seu chefe o criticou severamente por suas conclusões.

A polícia não foi capaz de determinar o que aconteceu na Ilha do Caranguejo. Os investigadores foram até lá, examinaram a área onde barco ficara ancorado, inspecionaram o próprio barco e conversaram com os sobreviventes e as pessoas que os conheciam. Não havia nenhuma evidência de que os homens tivessem bebido ou usado drogas, sofrido intoxicação alimentar ou sido expostos a gases tóxicos, ou sequer brigado fisicamente. A polícia não encontrou sinal de fogo no barco nem na ilha. A única conclusão era de que os três sobreviventes realmente não sabiam o que tinha acontecido.

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Nenhum dos três homens se lembra do menor detalhe daquela noite, nem sob hipnose profunda. Uma queimadura deve provocar uma das mais terríveis dores que alguém pode sofrer, porém, dois homens foram gravemente queimados antes da meia-noite e nenhum dos dois sabia nada a respeito do acidente, um até a manhã seguinte e o outro só quando saiu do coma, uma semana mais tarde (2). Como tais coisas podem ter acontecido sem que as vítimas tenham a menor lembrança de como se queimaram? O que ou quem poderia infligir esses ferimentos e bloquear completamente a experiência dolorosa das mentes das vítimas? Por que um jovem saudável como José simplesmente morreu enquanto dormia, sem nenhuma causa aparente?

Atenção da Mídia

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Apolinário em hipnose regressiva.

Essas são algumas das perguntas que tanto intrigaram a polícia do Maranhão, e que nunca foram respondidas. Não há nenhuma evidência direta de que um UFO esteve envolvido no incidente. Os homens nada viram de estranho. O fato ocorreu na noite de 25 de abril de 1977, durante um período de numerosos avistamentos de objetos não identificados em toda a região. Os jornais e estações de rádio e tevê em São Luis imediatamente agarraram a história e puseram a culpa em um UFO por causa do mistério que cercava o caso e porque muitos UFOs tinham sido vistos recentemente. Apesar da atenção que recebeu da mídia, o Caso Ilha do Caranguejo não foi divulgado fora de São Luis. Fiquei sabendo dele porque Roberto Granchi, filho da veterana ufóloga do Rio de Janeiro, Irene Granchi, esteve em São Luis no início de 1978 para consertar certos equipamentos eletrônicos em um barco no Porto de Itaqui e, ao ouvir sobre o caso, foi procurar Auleriano. Ele contou à sua mãe o que descobrira e ela, por sua vez, me repassou a informação. No fim de novembro de 1978, fui a São Luis.

É uma antiga cidade colonial em uma ilha na embocadura de uma enorme baía, com ruas estreitas e acidentadas, e prédios pintados em tons pastéis de verde, rosa, azul, amarelo e outras cores, muitos dos quais cobertos com muitos ladrilhos ornamentais. A cidade tem muitos quilômetros de belas praias. Naquela época, tinha 250 mil habitantes, mas a cidade cresceu rapidamente nos anos 80 e até o fim do século, sua população beirava um milhão. Uma das primeiras pessoas com quem conversei na Ilha do Caranguejo foi Clésio Muniz, chefe de investigação criminal da polícia do Maranhão. “Eu vi aqueles homens com aquelas estranhas queimaduras e não acho que foram causadas por um fogo comum” , disse Muniz.

“Não acredito em UFOs, mas esse é um fenômeno estranho que não consigo explicar. Já tinha ouvido relatos de ‘bolas de fogo' avistadas nas cidades ao redor da Ilha do Caranguejo e a oeste daqui. Muita gente tinha visto a ‘bola de fogo', tanto antes quanto depois do incidente. E pelos testemunhos que ouvi, as bolas de fogo não pareciam estrelas cadentes. Elas sobem e descem, movem-se para a esquerda ou a direita, horizontalmente, verticalmente, devagar ou rápido, ou muito devagar ou rápido demais. É um fenômeno incomum, e não sei o que é”.

Outro investigador me disse que acreditava que um raio tinha causado a morte e as queimaduras. Sua teoria era de que o raio caiu na areia ou na lama perto do barco, ricocheteou para cima e voou horizontalmente até a cabine, atingindo três dos quatro homens que dormiam. Dois médicos do Instituto Médico Legal (IML) que examinaram Firmino no hospital também achavam que a causa do acidente fora um raio. Um deles era o doutor Carneiro Belfort, na época, diretor do instituto e, posteriormente, professor de medicina em uma das universidades de São Luis. “Eu quis ver Firmino porque os jornais estavam dizendo que os ferimentos tinham sido causados por UFOs, e eu precisa verificar pessoalmente” , disse o doutor Belfort. “Nunca vi um UFO e não acredito na existência deles. As queimaduras eram características de raio, mas não posso afirmar que foi isso que as causou. E se não foi, não sei o que pode ter acontecido. O homem me disse que viu ‘um fogo' antes de desmaiar”.

Ele viu um Fogo

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Página 1 do laudo do exame de Corpo de Delito de Auleriano

Essa última afirmação – que Firmino, em seu delírio, murmurou algo sobre um ‘fogo' – era o único elo discernível com um UFO. Fogo provavelmente é o termo mais comum para UFO em todo o Brasil. O outro médico que defendeu a teoria do raio foi José Oliveira, na época, membro da equipe do IML. “Firmino teve muitas queimaduras de segundo grau e poderia ter morrido. Na minha opinião, foi raio. Mas, por outro lado, um raio teria causado algum dano ou queimadura no barco, e o homem que morreu também deveria estar queimado” . Nenhum dos médicos viu o barco ou o corpo de José, mas o atestado de óbito afirmava que não havia marcas nem lesões no corpo.

Enquanto conversávamos, o doutor Oliveira examinou os registros do instituto sobre os homens feridos. Quanto à queimadura nas nádegas de Auleriano, ele disse que “...provavelmente, se ele tivesse sido atingido por um raio, sua roupa também teria sido queimada” . Os calções de Auleriano e Apolinário ficaram intactos. Clésio Muniz, o investigador criminal chefe, discordava veementemente da teoria do raio, assim como o Sargento Antenor Costa, meteorologista da Força Aérea Brasileira (FAB) no Aeroporto de São Luis. O aeroporto fica 4 km a nordeste da Ilha do Caranguejo. Na época, quatro linhas aéreas nacionais, duas regionais e várias empresas de táxi aéreo estavam usando o aeroporto. Os registros da estação meteorológica indicam que não houve temporal nem relâmpagos entre as 17h00 de 25 de abril e 06h00 do dia 26. Caiu uma chuva leve às 23h00 e outra à meia-noite, mas de resto a noite estava clara e calma.

“Seria impossível um raio cair, atingir a areia e ricochetear para cima e desviar para o lado, pegando o barco. Isso não acontece. Se fosse assim, o raio teria queimado também a lona e não teria atingido dois ou três homens ao mesmo tempo porque suas posições no barco eram muito diferentes. Para fazer isso, um raio precisaria ser tortuoso como uma trilha sinuosa. Além do mais, é improvável que tivesse matado um homem sem queimá-lo. Simplesmente não é possível que um raio queime dois homens e mate um terceiro, sem deixar uma marca em seu corpo” , disse o Sargento Costa.

Natalino Filho, diretor da estação meteorológica, disse que um raio poderia ter caído na água e passado por ela até o barco, já que a água é um bom condutor de eletricidade. “Mas se isso tivesse acontecido, Apolinário teria morrido porque ele estava deitado no chão, no ponto mais próximo da água” , acrescentou Natalino. Decididamente não havia queimaduras no barco. Eu o inspecionei pessoalmente, e foi uma aventura infernal. Firmino morava na floresta, a uma certa distância ao sul de Itaúna, o terminal de balsa entre a Baía de São Marcos e São Luis. Com Ana Teresa Britto e sua irmã Leila como intérpretes, fui procurar Firmino para levá-lo a São Luis. Quando chegamos a casa dele, ficamos sabendo que o Maria Rosa, o barco usado pelos quatro homens na viagem à Ilha do Caranguejo, estava ancorado num riacho próximo. Fazia dias que o vinha procurando, mas longe dali, na área de São Luis.

Pântano Infernal 

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Página 2 do laudo do exame de Corpo de Delito de Auleriano

Teríamos de esperar até que Firmino se aprontasse para ir conosco a São Luis, por isso, Ana Teresa, Leila e eu fomos inspecionar o barco, com a mulher de Firmino, Maria, nos servindo de guia. Fomos de carro a um pequeno vilarejo, estacionamos e começamos a descer a pé por uma trilha que dava na floresta. Cinco minutos mais tarde, chegamos a um pântano onde a trilha desaparecia debaixo d'água por uns 68 m. Maria disse que não havia outra maneira de alcançar o barco.

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Imagens de piranhas e outras criaturas belicosas me vinham à mente, deixando-me com dor de cabeça enquanto eu observava a água escura. Não dava para ver nada sob a superfície negra, e teríamos de atravessá-la descalços ou arriscar perder os sapatos no barro. Eu queria chorar. Maria me garantiu que a água só chegava aos joelhos, mas eu não queria entrar nela descalço nem com sapatos, por mais rasa que fosse. Mas não tinha escolha, se quisesse examinar o barco. As três mulheres riram de mim, quando eu hesitei. E então, detestando cada minuto da aventura, mergulhei as pernas no pântano e arrestei-me através dele, seguindo Maria e seguido por Ana Teresa e Leila. Mas nada de ruim aconteceu, e chegamos ao outro lado com os artelhos intactos.

Alguns minutos depois, chegamos ao barco. Com a maré baixa, ele ainda estava preso na lama. Era totalmente feito de madeira e tinha uma única e enorme vela. Era um barco velho, com a pintura tão desbotada que mal podíamos ver o nome Maria Rosa. Não havia ninguém por perto. Enquanto as três mulheres se sentavam sobre um tronco caído e me esperavam, atravessei uma prancha de madeira e subi ao tombadilho. A única entrada para a cabine e o espaço de carga embaixo é através de uma escotilha quadrada, bem atrás do mastro. Fiquei uns 30 minutos examinando o barco inteiro, dentro e fora. Não havia um único sinal de fogo ou violência. Tirei várias fotos, e então nós quatro voltamos – descalços através do mesmo pântano (3).

Levamos Firmino a São Luis porque eu tinha providenciado a vinda do doutor Sílvio Lago de Niterói, para hipnotizar os três homens. O doutor Lago, médico e professor de medicina, já vinha usando hipnose em sua profissão havia quase 45 anos. Os três homens concordaram em fazer as sessões porque viviam deprimidos desde o incidente e esperavam que ele pudesse ajudá-los. O doutor Lago passou 16 horas com os homens, seis falando com cada um individualmente e juntos sobre suas vidas e o que aconteceu na Ilha do Caranguejo, e as outras 10 horas em sessões individuais de hipnose. Quando acabou, ele estava convencido de que os homens estavam dizendo a verdade, mas não obteve a menor pista do que tinha acontecido aquela noite. “Eles não conseguiam se lembrar de nada após terem ido dormir aquela noite. Não estou acostumado a ver esse tipo de bloqueio mental. É um caso muito estranho e complicado” , disse o doutor Lago.

Só a emoção não seria suficiente para causar o bloqueio, disse. “Foi alguma coisa física e psíquica, mas nada comum. Uma emoção muito forte poderia causar amnésia, mas não parece ter sido a reação emocional dos homens que provocou esse bloqueio mental. É possível que antes ou durante a experiência, eles tenham passado por algum tipo de hipnose muito profunda, preparando-os para não se lembrar de nada, depois” . Outra coisa que o intrigou foi que Apolinário, que não tinha ferimentos aparentes, tinha o mesmo tipo de bloqueio que os outros dois.

“Uma hipótese é que Apolinário deve ter tido uma emoção forte demais a ponto de provocar o bloqueio. Não imagino o que seja, a menos que ele tenha visto o que aconteceu. O que lhe impôs o bloqueio mental foi muito mais forte que a dor de ver seu irmão morto, porque ele se lembra de tudo antes e depois, mas nada durante, e eu não acredito que haja emoção maior que ver o irmão morto e dois homens feridos. É muito estranho” , informou o hipnólogo. Outra parte do mistério é o fato de que Auleriano foi dormir nos fundos do barco e acordou na frente, enquanto Firmino, que estava dormindo na frente, foi encontrado nos fundos, perto da rede de Auleriano. Nenhum dos homens se lembrava de ter trocado de posição no meio da noite.

Algumas pessoas familiarizadas com o caso acham que um UFO tirou os homens do barco, fez o que quis com eles, e os colocou de volta, errando os locais onde estavam Firmino e Auleriano, invertendo suas posições. O que aconteceu aquela noite a bordo do Maria Rosa foi entre as 20h00, quando eles foram dormir, e a meia-noite, quando pretendiam acordar. Três deles estavam acostumados a acordar com o fluxo da maré, mas ninguém acordou até a manhã seguinte. Isso indica que todos estavam inconscientes antes da meia-noite. O que ou quem causou as queimaduras em Firmino e Auleriano provavelmente também foi responsável pela morte de José. Exatamente quando esses eventos ocorreram não se pode determinar, mas provavelmente foi antes da meia-noite. O corpo de José estava ficando duro e Apolinário teve dificuldade para colocar a perna do irmão de volta na rede. Isso foi entre 5 e 5h30. Normalmente, a rigidez começa três ou 4 horas após a morte e leva cerca de 12 horas para se espalhar pelo corpo inteiro.

Problemas de Saúde

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Página 1 do laudo do exame de Corpo de Delito de Firmino

Quando entrevistei os três sobreviventes, esperava que o bloqueio mental tivesse esvaecido e que talvez suas memórias começassem a ser reativadas. Mas talvez isso nunca aconteça. Voltei em 1981 e conversei com Auleriano e Apolinário, e novamente em 1992, quando falei com os três. Nenhum deles se lembrava de coisa alguma. Um fato interessante é que os dois que sofreram queimaduras, Firmino e Auleriano, hoje têm ótima saúde, mas Apolinário, que aparentemente não sofreu ferimentos, tem problemas de saúde atualmente. Um ano e meio depois do incidente, ele começou a sentir uma fraqueza no braço esquerdo. Em 1981, o ano em que ele completou 36 anos, não podia segurar nada com a mão esquerda sem derrubar. Em 1992, com 46 anos de idade, ele tinha pouca força na mão e no braço esquerdos, sofria de fortes dores de cabeça e caminhava com dificuldade, com o passo um pouco duro. Ele não sabe por quê. Nunca teve acidentes nem doenças debilitantes. Quando consegue trabalhar, faz carvão.

Firmino, que perdera peso e quase não conseguia fazer nada por vários anos depois do incidente – e às vezes até parecia meio abobado, segundo sua mulher – hoje está robusto e mentalmente ágil, de novo. Consegue fazer trabalhos braçais leves, apesar de ter a mão esquerda torta. Ele e Maria também são os proprietários e administradores de uma pequena mercearia em um dos bairros mais pobres de São Luis.

As cicatrizes de Auleriano praticamente desapareceram. Dois anos depois do incidente, ele começou a ir à Ilha do Caranguejo para pegar madeira de novo, e continuou com esse trabalho até 1991, sem mais nenhum acontecimento inusitado. Mas largou essa ocupação e foi trabalhar como guarda de segurança em uma empresa de construção. Nem Apolinário nem Firmino jamais voltaram à Ilha do Caranguejo.

Outra Morte na Ilha do Caranguejo

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Página 2 do laudo do exame de Corpo de Delito de Firmino

Esse não é o fim da história da Ilha do Caranguejo. Praticamente a mesma coisa aconteceu nove anos depois com outro grupo de homens, deixando um morto, um queimado e dois misteriosamente afetados. Em 28 de abril de 1986, os quatro homens foram à ilha num barco semelhante, para pegar madeira. Trabalharam dois dias cortando mais de 300 troncos e empilhando-os nas margens do rio, perto do barco. No dia 30 de abril, pararam de trabalhar às 18h00 e um deles, Juvêncio, 22 anos, começou a cozinhar. Veríssimo, 21, disse que não se sentia bem e pediu a Juvêncio alho para esfregar nos braços, pois isso o faria se sentir melhor, mas Juvêncio de repente ficou tonto e caiu no tombadilho, inconsciente. Numa rápida sucessão, os outros dois homens, Anselmo e Lázaro, ambos na casa dos 40, também desmaiaram.

Ninguém sabe o que aconteceu com Veríssimo. Lázaro recobrou a consciência ao meio-dia, no dia seguinte, e encontrou Veríssimo morto, estendido no tombadilho. Não havia marcas nele, mas um pouco de sangue escorria-lhe da boca. Anselmo acordou duas horas mais tarde e Juvêncio voltou a si às 17h00, quase 24 horas depois de ter desmaiado. O lado direito de sua cabeça estava queimado e inchado. Anselmo e Lázaro tentaram colocar a madeira no barco, mas desistiram após terem carregado não mais que uns trinta mastros. Começaram a conduzir o barco de volta a São Luis, mas era difícil porque os três sentiam enjôos e náuseas.

Forte Estrondo

A segunda morte na Ilha do Caranguejo também não foi noticiada fora de São Luis. Fui a São Luis cinco meses após o incidente e soube da história por Mônica Carneiro e Ana Teresa Brito, as principais intérpretes em minha investigação do primeiro caso. Elas me ajudaram a encontrar Juvêncio, que me contou o que tinha acontecido. Como no primeiro caso, nenhum dos três sobreviventes sabe o que aconteceu aquela noite, exceto que todos sentiram tontura e desmaiaram. As autoridades portuárias os interrogaram e me disseram que parecia que os homens estavam dizendo a verdade. Os três tinham certeza que o problema não foi intoxicação alimentar. Ainda não tinham comido e estavam se sentindo muito bem até ficarem tontos. As autoridades descartaram a possibilidade de algum tipo de gás venenoso do pântano. Juvêncio disse que ninguém sentiu nenhum cheiro estranho antes da tontura.

Não foi feita autópsia em Veríssimo. Como no primeiro caso, quando o barco chegou ao porto, seu corpo já estava em avançado estado de decomposição. O atestado de óbito de Veríssimo simplesmente menciona a causa de morte como "não determinada". A ligação com um UFO nesse caso também é tênue. Uma coisa estranha aconteceu pouco antes dos homens desmaiarem. Eles ouviram um forte estrondo no mato, em algum lugar perto do barco. No escuro, não puderam ver o que era, e não sabem o que pode ter causado o barulho. Só se pode chegar à ilha de barco ou helicóptero, e os homens não sabiam da presença de outras pessoas lá, com eles. Os partidários das teorias ufológicas podem interpretar o estrondo como uma clara indicação de que um UFO aterrissou, esmagando árvores em seu caminho, enquanto os desmistificadores alegarão que o barulho deve ter sido causado por uma árvore caindo.

Não há como provar quem está certo, mas os homens reconheceriam o som de uma árvore caindo. Quando Mônica, Ana Teresa e eu entrevistamos Juvêncio em sua casa, vários vizinhos se reuniram para ouvir. Um homem no meio da multidão disse que tinha tido um contado com um UFO em um barco semelhante, não longe da Ilha do Caranguejo, numa noite em 1983. Seu barco estava ancorado em um riacho do lado oeste da baía, quando um grande objeto brilhante desceu e pairou sobre ele, projetando uma luz sobre a embarcação. O homem e seus companheiros saltaram para fora do barco e se esconderam no mato até o UFO se afastar. Ele disse que várias pessoas em barcos na área também tiveram contatos com UFOs aquele ano.

Tanto Lázaro quanto Anselmo estavam no interior as duas vezes que estive em São Luis depois do incidente, e nunca conversei com eles. Entretanto, vi Juvêncio novamente em 1992. Ele disse que estava bem de saúde, mas que Anselmo e Lázaro sentiam amortecimento nas pernas, e Lázaro às vezes tinha tontura e dor de cabeça. Os dois casos são notavelmente semelhantes, exceto que nenhum dos homens do primeiro incidente sentiu tontura. É bem possível que não tenha havido a presença de UFO em nenhum dos casos, já que as vítimas não se lembram de ter visto nada estranho e não houve outras testemunhas. Mas se os vilões nesses casos não são os UFOs, então algum fenômeno igualmente estranho foi o responsável. De qualquer forma, tudo faz parte de um estranho mistério que fere e, às vezes, mata as pessoas.

Notas do Texto:

(1) Auleriano é uma variação de um nome mais comum, Aureliano.
(2) Há uma notável semelhança entre as queimaduras graves e o coma de Firmino e o que aconteceu em um caso pesquisado por Húlvio Brandt Aleixo, no Vale das Velhas (MG). Na localidade de Florestal, uma tarde, uma senhora idosa foi encontrada inconsciente no quintal de sua casa, com uma queimadura em cada braço. Ela foi levada a um hospital, onde conseguiu se recuperar. A queimadura era tão grave que ela precisou de enxertos de pele, e levou três meses para se curar. Ninguém sabe o que causou a queimadura, e ela não tinha idéia do que tinha acontecido. Durante alguns dias, antes desse incidente, moradores da vizinhança tinham visto estranhas bolas de fogo voando pelo céu. Algumas pessoas achavam que havia uma ligação entre o acidente com a mulher e as bolas de fogo.
(3) Vários anos depois, Ana Teresa comentou: “Sabe, aquilo foi perigoso”.

Quem é Bob Pratt?

Bob Pratt é um jornalista norte-americano aposentado que trabalhou como repórter e editor de jornais diários e revistas por 48 anos. É ufólogo desde 1975, quando foi enviado para investigar a aterrissagem de um UFO na região norte dos Estados Unidos. Até aquela época, sempre fora cético, mas em uma semana entrevistou mais de 60 homens e mulheres que tinham tido avistamentos ou contatos imediatos, passando a estudioso do assunto. O testemunho dessas pessoas o convenceu de que os UFOs são reais. Nos seis anos e meio que se seguiram, ele se especializou em pesquisa ufológica para sua revista, a National Enquirer, viajando pelos EUA, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Japão, México, Peru e Porto Rico. Desde 1975, entrevistou cerca de duas mil pessoas que tiveram experiências ufológicas. Só ao Brasil veio nada menos do que 13 vezes para examinar casos, especialmente no Nordeste.

Pratt ficou profundamente interessado nos casos de contatos com UFOs no Brasil após a Enquirer tê-lo enviado aqui quatro vezes, nas décadas de 70 e 80. Diferente do que tinha observado em outros países, no Brasil os UFOs ferem muitas pessoas e podem até ter matado algumas. Esses incidentes o intrigaram tanto que, após sair da revista, em 1981, voltou imediatamente ao país para continuar suas pesquisas por conta própria.

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Mais recentemente, em 1999, passou a tentar descobrir por que acontecem tantos contatos no Brasil, em número bem superior ao registrado noutros países. Bob Pratt escreveu numerosos artigos sobre UFOs e foi editor do UFO Journal, órgão oficial da entidade norte-americana Mutual UFO Network (MUFON) , a maior do mundo. Em seu o site [ www.bobpratt.org ] há muitas de suas inúmeras histórias. É também co-autor, junto de Philip Imbrogno, da obra Night Siege: The Hudson Valley UFO Sightings [Cerco Noturno: Os Avistamentos de UFOs em Hudson Valley] , do doutor J. Allen Hynek.

Adendo Fenomenum - Por Carlos Alberto Machado

No ano de 2007 o geógrafo maranhense André Araújo, apreciador da temática ufológica deparou-se com um mistério maranhense conhecido há muitos anos pelos pescadores e moradores locais. Há cerca de seis anos vêm estudando as condições ambientais da costa maranhense e ao visitar a Ilha dos Caranguejos, deparou-se com algo estranho e fascinante.

No meio da ínsula, muito conhecida pelo ataque aos pescadores há mais de 30 anos (1977), ele verificou a presença de um conjunto de rochas cristalinas fincadas no solo inconsolidado da ilha. Calculou a altura de 2 metros e o peso de 1 tonelada para cada rocha. André acredita que seja um tipo de monumento megalítico, muito similar ao de Stonehenge na Inglaterra, pois formam um círculo e exatamente ao meio-dia, fenômeno presenciado por ele, o sol ocupa corretamente o centro do círculo lembrando um relógio de sol. Acrescenta ainda que não fosse um conjunto de características incomuns, estas rochas por si despertariam interesse de arqueólogos. Ele acredita que existe algo a mais cercando o mistério desses megalíticos. Primeiro, por se situarem em uma ilha distante da ocupação humana e, portanto isolada da sociedade. Depois, por que é constituída essencialmente de matéria sedimentar, sendo que a concentração de rocha cristalina mais próxima da ilha está em Rosário, município distante uns 60 km da ilha dos Caranguejos. Assim sendo conclui que as rochas megalíticas foram inseridas artificialmente naquela região distante.

Até hoje a ilha é cercada de mistérios envolvendo histórias de OVNIs e assombrações, e por ser capitaneada pela Aeronáutica, a visitação à ilha não é permitida sem autorização. Estudantes e profissionais (pessoas que conseguem licença) que raramente pesquisam na região, apenas circundam-na de lancha, possivelmente para realizarem coletas, não podendo deixar suas embarcações. André em companhia de pescadores da região conseguiu burlar essa regra.

Ele afirma ainda que os pescadores conhecem estas formações há anos, e, portanto foi fácil encontrar os megalíticos em companhia deles. Por outro lado a comunidade científica conhece pouco sobre estes monumentos, e os que os conhecem, preferem ignorá-los. Quando esteve na região o geógrafo tomou o cuidado de trazer consigo algumas amostras de solo e da rocha trabalhada para posterior análise. Não pode fotografar os megalitos, pois, não possuía na época, nenhum tipo de máquina fotográfica.

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