TEMAS INEXPLICADOS

O Segredo do Prana - Parte 1

prana7Dr. David Frawley (Vamadeva Shastri) Tudo quanto existe nos três céus descansa sob o controle do Prana. Como a mãe à sua criança, oh Prana, nos protege dando-nos esplendor e sabedoria. Prashna Upanishad II.13.  Para mudar alguma coisa é preciso alterar a energia que cria tal coisa. Este fato é uma realidade na prática de Yoga. Para realizar mudanças positivas no corpo e na mente precisamos entender a energia através da qual mente e corpo operam. Esta energia se chama Prana em sânscrito e significa energia primordial. É também por vezes traduzida como respiração ou força vital, apesar de ser mais do que isso. Enquanto o assunto Prana é comum no pensamento do yogi e diferentes ...

formas de Prana possam ser abordadas , o entendimento sobre o que é Prana e seus diferentes tipos é raramente visto em profundidade. Por essa razão toda a ciência sobre o Prana, que é vasta e profunda, é raramente compreendida. Neste artigo vamos abordar esse assunto vasto buscando expandir a compreensão sobre o Prana em todas as suas manifestações. Existe uma antiga estória védica sobre o Prana que encontramos em várias Upanishads. As cinco principais atividades de nossa natureza - a mente, a respiração (prana), a fala, a audição, a visão - discutiam entre si sobre qual delas era a melhor e mais importante. Isso reflete o estado humano ordinário no qual nossas faculdades não estão integradas, mas lutam entre si, competindo para ver quem rege nossa atenção. Para resolver a disputa elas resolvem que cada uma deixaria o corpo para ver qual delas seria mais imprescindível.

A primeira a deixar o corpo foi a fala, mas o corpo continuou a pensar, mudo. Em seguida a visão deixou o corpo, mas ele, cego, continuava a pensar. Em seguida foi a vez da audição, mas o corpo pensava ainda, mesmo surdo. Então a mente se retirou, mas o corpo ainda assim pensava, inconscientemente.

Finalmente o Prana começou a deixar o corpo e então o corpo começou a morrer e todas as outras faculdades começaram a perder energia. Então correram todas para o Prana pedindo que ficasse, exaltando sua supremacia.

Claramente, o Prana venceu a questão. É o Prana que alimenta todas as outras faculdades, sem o qual não podem funcionar. Sem honrar devidamente o Prana, não há nada que possamos fazer e nada com o qual possamos fazer alguma coisa. A moral dessa estória é que a chave para controlar nossas faculdades, está em controlar o Prana.

O Prana tem muitos níveis de funcionamento, da respiração a consciência em si. Prana não é apenas a força vital básica, é a forma mestra de todas as energias operando no nível da mente, vida e corpo. Na verdade o universo inteiro é uma manifestação do prana, que é a o poder criativo original. Até mesmo a kundalini shakti, o poder serpentino que transforma a consciência se desenvolve a partir do Prana desperto.

Em um nível cósmico existem dois níveis básicos de Prana. O primeiro é o aspecto não manifesto que é a energia da consciência pura que transcende toda a criação. O segundo nível, do Prana manifesto é a força criativa em si. O Prana se manifesta a partir da qualidade (guna) de rajas, a força ativa da natureza (Prakriti). A natureza em si consiste de três gunas: sattva ou harmonia, a qual dá elevação a mente, rajas ou movimento, que torna o prana manifesto, e tamas ou inércia, que dá ascensão ao corpo.

Na verdade poderia se argumentar que a Prakriti ou a natureza é primariamente Prana ou rajas. A natureza é a energia ativa de Shakti. De acordo com a força de atração do self ou pura consciência (Purusha) essa energia se torna sattvica. Através da ignorância ou inércia essa energia se torna tamasica.

Entretanto mesmo o Purusha ou o self pode ser definido como o Prana não manifestado por ser uma forma de energia da consciência (Devatma Shakti). Do Prana não manifesto ou da consciência pura provém a manifestação criativa do Prana que vem a ser o universo como um todo.

Em relação a nossa existência física, o Prana ou energia vital é a modificação do elemento ar, primordialmente o oxigênio que respiramos e que nos permite viver. Assim como ar se origina no éter ou espaço o Prana surge no espaço e se mantém intimamente conectado a ele. Portanto onde quer que criemos espaço aí a energia do Prana se manifestará automaticamente.

No sistema yogi o elemento ar se relaciona ao sentido do tato. Num nível mais sutil o ar é tato. Através do tato nos sentimos vivos e podemos transmitir nossa energia vital aos outros. Assim como o ar surge no espaço, o tato surge do som, que é a qualidade que corresponde ao elemento éter. Através do som nós despertamos e sentimos ampliar-se nossas conexões com a vida como um todo. Num nível sutil o Prana surge das qualidades de som e tato que são inerentes a consciência. De fato o Prana tem seu próprio corpo ou camada de manifestação.

O ser humano consiste em 5 koshas ou camadas:

Annamaysa kosha - alimento - físico - os 5 elementos

Pranamaya kosha - respiração - os 5 pranas

Manomaya kosha - impressões - mente externa - os 5 tipos de impressões sensoriais

Vijnanamaya kosha - idéias - inteligência - atividade mental

Anandamaya kosha - experiências - mente profunda - memória - mente subliminar superconsciente

Pranamaya Kosha:

O Pranamaya kosha é a esfera de nossa energia vital. Essa camada faz a mediação entre o corpo de um lado e as três camadas da mente (mente externa, inteligência e mente interna) de outro e tem uma ação em ambos os níveis.

É o kosha que faz a intermediação entre os cinco elementos e as cinco impressões sensoriais.

O melhor termo para definir o Pranamaya kosha é provavelmente "camada vital" ou "corpo vital", usando um termo do Yoga Integral de Sri Aurobindo. O Pranamaya kosha consiste na urgência vital pela sobrevivência, reprodução, movimento e auto-expressão, estando basicamente conectado aos cinco órgãos motores (excretor, urino-genital, pés, mãos e órgão vocal)
A maioria de nós é dominada pelas necessidades vitais do corpo e suas urgências mais arraigadas necessárias para a manutenção da vida. É também a morada do ego subconsciente que guarda medos diversos, desejos e apegos que nos afligem. Muitos de nós passam a vida buscando prazeres através da satisfação de desejos sensoriais e aquisição de objetos materiais.

Uma pessoa com uma forte natureza vital se torna proeminente e capaz de tornar sua personalidade marcante diante do mundo. Aqueles com uma vitalidade fraca tem poucas chances de conquistas na vida e usualmente se mantém em uma posição de subordinação. Geralmente pessoas com forte e egoística vitalidade gerenciam o mundo, enquanto os de fraca vitalidade os seguem. Tamanha vitalidade egoística é um dos grandes obstáculos no caminho espiritual.

Entretanto, um forte e vital pranamaya kosha é também importante no caminho espiritual, mas é muito diferente da vitalidade movida pelo desejo egoísta. É uma força orientada não pelo poder pessoal, mas pela capacidade de se render ao Divino e a sua grande energia. Sem uma grande vitalidade espiritual nós perdemos o poder de praticar sem cair nas influências do mundo. Na mitologia Hindu o Prana superior é simbolizado pelo Deus-macaco Hanuman, o filho do vento, que se rendeu ao Divino na forma de Sita-Rama, podendo se tornar pequeno ou grande conforme seu desejo, capaz de superar todos os inimigos e obstáculos e atingir o milagroso. Tal vitalidade tem energia, curiosidade e entusiasmo na vida, juntamente com um controle dos sentidos e urgências vitais, subordinando-os a um desejo e aspiração superiores.

Os cinco Pranas

O Pranamaya kosha se compões de cinco Pranas. O Prana essencial divide-se em cinco tipos de acordo com o seu movimento e direção. Esse é um importante aspecto na medicina Ayurvêdica e no pensamento yogi.

Prana

Prana, literalmente significa "o ar que se move para frente", movendo-se internamente e governando recepções de todos os tipos, do alimento ingerido,da água,da inalação do ar, da recepção das impressões sensoriais e experiências mentais. É uma força propulsara da natureza, colocando as coisas em movimento e as guiando. O Prana provê a energia básica que sustenta a vida.

Apana

Apana, literalmente "o ar que se move para fora" , movendo-se para baixo e para fora do corpo, governando todas as formas de eliminação e reprodução (que também se movimenta para baixo). Governa a eliminação de fezes e urina, ejaculação do sêmem, fluido menstrual e do feto, e a eliminação do dióxido de carbono através da respiração (exalação). Num nível mais profundo, também regula a eliminação de sentimentos, emoções e experiências mentais negativas. É a base de nossas funções imunológicas em todos os níveis.

Udana

Udana, literalmente significa "o ar que se move para cima", movendo-se para cima em movimentos qualitativos ou transformativos da energia da vida. Governa o crescimento do corpo, a habilidade de se manter em pé, falar, se esforçar, o entusiasmo e o desejo. É a principal força positiva na vida através da qual podemos desenvolver nosso corpo e evoluir em consciência.

Samana

Samana, literalmente "ar que se equilibra", se move da periferia para o centro através de uma ação que cria movimento e discernimento. É o que regula a digestão em todos os níveis. Atua no trato gastrintestinal para digestão dos alimentos, nos pulmões para absorção do ar ou oxigênio, e na mente digerindo e homogeneizando experiências, sejam sensoriais, emocionais ou mentais.

Vyana


 
Vyana, literalmente "o ar que se move para fora", movendo-se do centro para a periferia. Governa a circulação em todos os sentidos. Movimenta o alimento, água e oxigênio através do corpo, e mantém nossas emoções e pensamentos circulando na mente, fazendo uma ponte de comunicação dos movimentos internos e provendo resistência. Assim fazendo Vyana assiste todos os outros Pranas em suas funções.

Os cinco Pranas são energias e processos que ocorrem em diferentes níveis. Entretanto podemos localizá-los de diferentes
 formas:

Prana Vayu governa o movimento de energia da cabeça ao umbigo, que é o centro prânico no corpo físico.

Apana Vayu governa o movimento de energia do umbigo até o chakra da base (muladhara chakra).

Samana Vayu governa o movimento de energia do corpo inteiro de volta ao umbigo.

Vyana Vayu governa o movimento de energia a partir do umbigo através do corpo todo.

Udana Vayu governa o movimento de energia do umbigo em direção à cabeça

Resumindo podemos afirmar que:

Prana governa as substâncias ingeridas

Samana governa suas digestões

Vyana governa a circulação dos nutrientes

Udana governa a assimilação das energias positivas

Apana governa a eliminação dos resíduos

É quase como o funcionamento de uma máquina. O Prana traz o combustível, Samana converte o combustível em energia, Vyana faz o combustível circular em todas as partes da máquina. Udana governa a energia positiva criada nesse processo determinando o trabalho que a máquina está apta a realizar e Apana elimina o lixo proveniente desse processo de conversão.

A chave para a saúde e bem-estar está em manter nosso Prana em harmonia. Quando o Prana está em desequilíbrio, todos os outros tendem a se desequilibrar também, pois estão todos conectados, trabalhando juntos. Genericamente falando o Prana e Udana trabalham em oposição ao Apana como as forças de energização versus a de eliminação. Similarmente Vyana e Samana são forças opostas de expansão e contração

PARTE 2