SÍMBOLOS E OBJETOS

As esferas sulcadas da Africa do Sul

esfera224/02/2013 - Nas últimas décadas, mineiros sul-africanos têm encontrado centenas de esferas metálicas, onde algumas delas possuem três sulcos paralelos girando em torno de seu equador. Segundo um artigo de J. Jimison, as esferas são de dois tipos: "O primeiro tipo e constituída de metal sólido azulado com manchas brancas, e o outro tipo que são bolas ocas recheadas com um centro esponjoso branco". Roelf Marx, curador do museu de Klerksdorp, África do Sul, onde estão guardadas algumas das esferas, disse: "As esferas são um mistério completo. Elas parecem feitas pelo homem, todavia, à época na história da Terra em que vieram descansar nesta rocha, não existia vida inteligente. Elas não se parecem com nada que eu já tenha visto antes". 

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Para Roelf Marx: "Não há nada de científico publicado acerca dos globos, mas os fatos são: eles são encontrados em pirofilita, que é extraída perto da pequena cidade de Ottosdal, no Transvaal Ocidental. Essa pirofilita é um mineral secundário bastante macio, com uma contagem de apenas três na escala de Mohs, e foi formada por sedimentação cerca de 2,8 bilhões de anos atrás. Porém, os globos, que têm uma estrutura fibrosa por dentro com uma concha ao seu redor, são muito duros e não podem ser arranhados, nem sequer com aço".

A. Bisschoff, professor de geologia da Universidade de Potchefstroom, acredita que as esferas eram "concreções de limonita". Limonita é uma espécie de minério de ferro. Concreção é uma massa rochosa compacta e arredondada, formada pela cimentação localizada ao redor de um núcleo.

Um problema com a hipótese de que os objetos são concreções de limonita refere-se à rigidez deles. Conforme observado acima, as esferas metálicas não podem ser arranhadas com uma ponta de aço, indicando serem extremamente duras. Porém, referências-padrão sobre minerais afirmam que a limonita registra apenas de 4 a 5,5 na escala de Mohs, indicando um grau relativamente baixo de rigidez. Além disso, as concreções de limonita costumam ocorrer em grupos, como massas de bolhas de sabão ligadas entre si. Ao que parece, normalmente elas não aparecem isoladas e perfeitamente redondas, como é o caso dos objetos em questão. Tampouco aparecem normalmente com sulcos paralelos ao seu redor.

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Para os objetivos desse estudo, é a esfera com três sulcos paralelos ao redor de seu equador que mais nos interessa. Mesmo que se admita que a própria esfera é uma concreção de limonita, é ainda necessário levar em consideração os três sulcos paralelos. Na ausência de uma explicação natural satisfatória, a evidência é um tanto misteriosa, deixando aberta a possibilidade de que a esfera sulcada sul-africana - encontrada num depósito mineral com 2,8 bilhões de anos - tenha sido feita por um ser inteligente.


O “Mistério” das Esferas de Klerksdorp


Pequenas pedras esféricas e discóides encontradas em minas da África do Sul , próximas da cidade de Klerksdorp, têm sido promovidas como grandes mistérios inexplicáveis pela ciência por grupos variados de defensores de teorias alternativas. Todo tipo de características e atributos quase mágicos foram atribuídos aos objetos, incluindo:

Uma composição de materiais, incluindo uma “liga de níquel e aço não encontrada na natureza”, ou ainda não encontrada no planeta Terra;
Resistência extraordinária, igual ou superior ao aço;
Não obstante, quando “abertas”, revelam um frágil material interno “esponjoso” que se transforma em pó;
Grande precisão em suas dimensões, com elementos perfeitamente esféricos, “perfeitamente equilibrados, excedendo os limites de precisão dos instrumentos de medida” em uma análise do Instituto Espacial da Califórnia, que fabrica giroscópios para a NASA;
Um número variado de ranhuras próximas do centro, ou “perfeitamente” centralizadas;
A capacidade inexplicável de girar espontaneamente, o que pôde ser observado nos espécimes exibidos em mostradores selados do museu de Klerksdorp;
E, no que completaria o mistério, o principal detalhe:

As esferas foram encontradas nas minas de Wonderstone, sendo datadas em aproximadamente 3 bilhões de anos de idade.
Incrivelmente, esta última característica é verdadeira. Contudo, é também uma das únicas características verdadeiras entre todas as histórias circuladas a respeito das esferas.

Comédia de Erros

As rochas não são originárias realmente de Klerksdorp, e sim da cidade vizinha de Ottosdal, onde ficam as minas Wonderstone. Seria um mero detalhe, mas que praticamente todas as fontes alternativas o ignorem ou mesmo misturem este simples fato básico já é um sinal de problemas. As minas em que foram encontradas também já foram incorretamente denominadas como de prata, quando em verdade são depósitos de pirofilita. Este é um detalhe importante, como veremos adiante.

As esferas foram atribuídas a Klerksdorp simplesmente devido ao museu da cidade vizinha que as exibe e chegou mesmo a promover algo de seu mistério. Os erros apenas começam aí.

Ao contrário do promovido, as esferas foram descritas e estudadas academicamente tanto antes quanto depois que passassem a fazer parte do arsenal de vendedores de mistérios. Destas investigações acadêmicas se destaca o trabalho do geólogo e arqueólogo Paul V. Heinrich, da Universidade de Louisiana.

Heinrich analisou a literatura acadêmica bem como a alternativa e testou as muitas características extraordinárias atribuídas às esferas sul-africanas. Em um artigo publicado pelo National Center for Science Education, o geólogo que também estudou cinco espécimes diretamente pôde concluir que praticamente todas as alegações alternativas são falsas. Um bom sinal de que Heinrich realmente sabia do que estava falando é que seu artigo é intitulado “As Misteriosas ‘Esferas’ de Ottosdal, África do Sul”, atribuindo corretamente a origem dos objetos.

Nenhum dos espécimes examinados possuía dureza maior do que 5 na escala Mohs – sendo que o aço tipicamente alcança durezas de 7-8.

Cortando espécimes ao meio, não se descobriu um material que virava pó. Tampouco uma liga de níquel-aço sobrenatural. Análises por técnicas de difração por raio-X, bem como exames petrográficos conduzidos também no departamento de geociências da Universidade do Nebraska, revelaram que são compostos de dois minerais: hematita, uma forma comum e muito natural de óxido de ferro, e wollastonita, outro mineral metamórfico comum.

A alegação sobre a perfeição das esferas e de suas ranhuras é ainda outro sinal do quão falaciosas são as histórias contadas por vendedores de falsos mistérios. Uma simples vista às imagens que costumam acompanhar seus artigos basta para notar as muitas imperfeições em todos os espécimes apresentados. Heinrich nota como estes autores de fato se contradizem, ora alegando que os objetos são “perfeitamente esféricos”, ora que são apenas “esféricos” ou por vezes concedendo que alguns são “esferóides”, “discóides” ou “oblongos”.

Os espécimes analisados diretamente por Heinrich incluíam “três espécimes aproximadamente esféricos, mas que definitivamente não eram ‘perfeitamente redondos’ como muitos autores alternativos alegam”, notou.

Mas e quanto às análises do Instituto Espacial da Califórnia sobre a perfeição dos… esferóides? Esta é a origem do suposto envolvimento da NASA neste mistério. Os resultados chegaram mesmo a ser publicados pelo Museu de Klerksdorp.

Detalhe: as conclusões do “técnico da NASA” não foram descritas diretamente, e sim em uma carta enviada ao museu por um certo John Hund, que as teria ouvido. Heinrich consultou o Instituto Especial diretamente, e um funcionário lembrou ter examinado uma esfera de Ottosdal enviada por Hund.

“No entanto, [o funcionário] negou que qualquer de seus colegas tenha dito a Hund que o objeto possuía as propriedades extraordinárias descritas na carta e citadas pelo Museu de Klerksdorp. Ele sugeriu que teria havido ‘algum erro de transmissão’ e que Hund havia entendido de forma completamente errada o que lhe havia sido explicado. Além disso, [o funcionário] notou que a afirmação de Hund de que o Instituto Espacial da Califórnia fabrica giroscópios para a NASA é completamente falsa”. Nem NASA, nem Instituto Espacial da Califórnia. Uma simples olhada às imagens das esferas basta para perceber que estão muito longe de serem esferas perfeitas.

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Finalmente, e quanto ao inexplicável poder de girarem sozinhas? Heinrich traçou a origem da história a Roelf Marx, curador do Museu de Klerksdorp. Mas aqui está outro “detalhe”:

“Marx declarou que um repórter havia citado erroneamente o que ele havia dito sobre a rotação dos objetos. De acordo com ele, é verdade que os objetos de Ottosdal haviam girado em seus mostradores no museu. Contudo, ele declarou enfaticamente que a história contada por Barritt (1979, 1982) de que os mostradores do Museu de Klerksdorp estão livres de vibrações externas é completamente falsa. De acordo com sua correspondência, Marx disse claramente ao repórter que as vibrações de explosões subterrâneas em minas de ouro locais faziam os mostradores vibrarem regularmente, fazendo com que os objetos de Ottosdal girassem. A julgar pelos relatos em primeira mão de Marx, é evidente que a alegação de que esses objetos giram por força própria é completamente falsa”. Uma comédia de erros. Porém, se a história vendida por muitos é falsa, como explicar estes objetos?

Geologia

As esferas são parte de uma grande gama de fenômenos naturais que produzem uma enorme variedade de formas, dentre as quais as mais simétricas são geralmente selecionadas e exibidas como “inexplicáveis”.

No caso aqui, o fenômeno natural é a concreção, uma precipitação de minerais em torno de um núcleo em meio a rocha que pode selar os poros existentes ou mesmo substituir a rocha circundante. Um aspecto fascinante é que o núcleo que dá origem à concreção pode ser um pedaço de galho ou folha em meio à rocha sedimentar, e que devido ao seu carbono pode atrair minerais carregados negativamente. Um objeto orgânico irregular dando origem a uma rocha inorgânica esférica. A concreção literalmente cresce ao seu redor, sendo assim comum que adquira formas esféricas ou discóides.

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Heinrich cortou os espécimes que analisou, e notou como:

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“A secção de uma concreção de Ottosdal mostra uma estrutura interna radial típica destes objetos. Como outras concreções de Ottosdal, este espécime consiste de duas concreções crescendo em conjunto”.

A estrutura radial deixa claro como o objeto “cresceu” a partir de um núcleo, por vezes em mais de uma concreção simultânea. A imagem também permite ver como as ranhuras que surgem na face exterior das esferas não são gravadas apenas em sua superfície, sendo sim parte da estrutura interna da concreção, refletindo as camadas de sedimentos em que cresceram.

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Concreções variam largamente em tamanho, de alguns milímetros a mais se seis metros!

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Acima, uma enorme concreção parte das “Bolas de Koutu”, na Nova Zelândia. O fenômeno geológico em si é relativamente comum, ocorrendo por todo o planeta e sendo comumente associadas ao folclore local.

Nos Estados Unidos, concreções de óxido de ferro fazem parte das tradições Hopi, e são conhecidas como “pedras Moqui”, devido à tribo local. Abaixo, exemplos de pedras Moqui destacam sua similaridade com as esferas sul-africanas:

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Mesmo no Brasil, em anos mais recentes, um grupo que vende terrenos para contatos com discos voadores e se tornou mais conhecido por um suposto “extraterrestre adolescente” que aconselhava a “buscar conhecimento” também tem promovido concreções esféricas e discóides como “sondas [extraterrestres] cuja capacidade energética foi esgotada … [e] se solidificam de acordo com as composições dos minerais que as abasteciam”.

São rochas comuns entendidas pela geologia há muito, com uma explicação que envolve a passagem de milhares, ou processos por até bilhões de anos envolvendo de cargas elétricas e mesmo núcleos orgânicos dando origem a rochas inorgânicas de formas quase perfeitas. Evidências do fenômeno de concreção de hematita são mesmo uma das explicações propostas para as pequenas esferas marcianas.

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Embora como estas esferas podem ter se formado na geologia do planeta vermelho ainda permaneça em discussão. Infelizmente, a educação científica não chega a todos, e os mitos do passado se misturam com o do presente, a ponto de algumas histórias a respeito de concreções esféricas lembrarem mesmo lendas modernas como as esferas do seriado de desenho animado “Dragon Ball Z”. A natureza sim é capaz de criar estas formas, e entender como o faz e os mistérios verdadeiros que se estendem pelo sistema solar é participar do enorme conhecimento acumulado pela civilização em que vivemos agora mesmo.


Fonte: A cartada
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