PESSOAS ESPECIAIS

Aleister Crowley - Parte 1

crow1Edward Alexander Crowley, conhecido como Aleister Crowley, (Warwickshire, Inglaterra, 12 de outubro de 1875 – Hastings, Inglaterra, 1 de dezembro de 1947) foi um polêmico ocultista britânico, conhecido por suas posturas controversas e pelo tarô que leva seu nome. Criou a doutrina de Thelema. Em certo momento conheceu Fernando Pessoa. Seu trabalho influenciou composições ao longo da carreira de Bandas de Rock e escritores, ...

principalmente Iron Maiden (cujo vocalista Bruce Dickinson irá dirigir um filme sobre a história de Aleister Crowley), Beatles, Paulo Coelho, Raul Seixas, Ozzy Osbourne, Led Zeppelin (seu guitarrista e fundador Jimmy Page chegou a comprar uma mansão onde Crowley viveu) e possivelmente Rita Lee.

Nascimento e Envolvimento com o Ocultismo - Edward Alexander Crowley nasceu quase à meia-noite em 12 de outubro de 1875, em Warwickshire, Inglaterra. Seu pai, rico cervejeiro, membro fervoroso de uma seita cristã, das mais puritanas, irmãos de Plymouth, impunha rigor na educação religiosa.Aos quatro anos, Crowley lia a Bíblia e aos seis, era um exímio jogador de xadrez. Ingressou no Trinity College. Ali, aprendeu hebraico, grego e latim. Na mesma época, começou a se interessar por ocultismo. Abandonou o colégio em 1898, ano em que foi admitido na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado (The Hermetic Order of the Golden Dawn G.'.D.'.), onde foi iniciado em Magia Cerimonial, Cabala, consagração de talismãs, invocação de espíritos etc.

Saida da Golden Dawn

Utilizando o pseudônimo de Aleister Crowley, começou a publicar poemas e outros textos considerados pornográficos. Esse fato, sua vida sexual publicamente desregrada e o ciúme provocado pela sua rápida ascensão da Aurora Dourada valeram-lhe a antipatia dos membros da Ordem.

"(...) ele adquiriu um apartamento em Londres usando o nome de Conde Vladmir Svaref, onde dispôs dois quartos para construir um Templo Branco e um Negro. (...) Reza a lenda, certa noite, no Templo Negro (...) ele e Bennet, envergando trajes cerimoniais, invocaram espíritos utilizando o pentagrama mágico com seu círculo traçado no chão. Acenderam os incensórios no altar e jogaram folhas de meimendro, datura e incenso, que produziram uma fumaça espessa e de aroma forte. Apareceram 316 demônios que giraram sem parar em volta do círculo sagrado."

Não demorou o rompimento espetacular com a Golden Dawn, o que teria incluído, segundo os seus seguidores, "fabulosas batalhas entre hordas demoníacas" conjuradas por Crowley contra seus inimigos e vice-versa.

Filiação a O.T.O

Em 1900, o mago foi a Nova York e depois ao México, onde travou contato com o venerável-mestre da maçonaria local. Em viagem ao Ceilão, foi introduzido nos segredos da ioga e na filosofia budista. Em 1903, de volta à Europa, foi morar na Mansão Boleskine, localizada nos penhascos próximos ao Lago Ness, Escócia. Durante uma viagem ao Egito, conseguiu finalmente estabelecer contato com seu Anjo Guardião e concebeu a doutrina de Thelema. Em 1907, fundou a A.'.A.'., Astrum Argentum, a Ordem da Estrela de Prata.

Em meio à serie de livros que escreveu até 1911, destacou-se o Liber 777, ou Livro das Mentiras, que impressionou o líder da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), na Alemanha, ordem que se auto-proclamava legítima herdeira dos Cavaleiros Templários. Crowley foi nomeado representante da OrdoTempli Orientis para os países de língua inglesa. Em 1920, fundou a Abadia de Thelema, na localidade de Cefalu, na Sicília, Itália. Atividades suspeitas e boatos sobre missas negras e orgias de sangue levaram a sua expulsão do local, por Mussolini, em 1923.

Drogas

O envolvimento de Crowley com drogas deu-se, a princípio, por conta do consumo de morfina para fins terapêuticos, posto sofrer ele de asma. Incentivado por Alan Bennett passou a utilizar drogas para finalidades ritualísticas. Cientes do prejuízo que tal uso causava à sua saúde, lutou uma verdadeira guerra para livrar-se do vício. Ao que tudo indica, conseguiu tal intento apenas já perto do final de sua vida, quando nem mesmo a morfina utilizava mais.

Crowley dizia que o uso de drogas com finalidades magicas era lícito. Porém ressaltava que o mesmo só deveria ser tentado por alguém que tivesse uma vontade e uma disciplina firmes o bastante para não se deixar dominar pelo vício.

=== Características pessoais ===

Crowley, sem dúvida, foi um intelectual do ocultismo mas também é famoso pelo seu gosto pelo Desporto: além de ter sido um excelente enxadrista desde a infância, praticou também o ciclismo, a canoagem e sobretudo, o alpinismo, tendo realizado várias excursões aos picos da cordilheira do Himalaia.

Outro aspecto marcante de sua biografia refere-se à vida sentimental. Foram duas esposas oficiais e muitas amantes, as chamadas mulheres escarlates, todas elas parceiras de Crowley em suas operações mágicas, que as utilizava como médiuns. De seus filhos, somente a primeira, do primeiro casamento, sobreviveu. Seu nome era Nuit Ma Ahathoor Hecate Sappho Jezebel Lilith Crowley, um panteão que reúne alegorias representativas de Justiça, Amor, Beleza, Face Negra da Lua, Poetisa, Adoradora de Ba'al e Rainha dos Demônios e dos Mundos Infernais. Quando Crowley morreu, Lilith recusou o legado literário ocultista de seu pai.

Entre outros epítetos, todos auto-atribuídos, Crowley foi chamado: Perdurabo (em latim, "Eu perdurarei até o fim"), Parzival, Baphomet (como líder da O.T.O. em países de língua inglesa), Deus est Homo (como chefe da O.T.O. mundial), "O mago das mil faces", "A Grande Besta" (To Mega Therion, em grego) ou ainda, como queriam seus detratores, "O homem mais perverso do mundo".

Durante a II Guerra Mundial, Ian Fleming e outros propuseram uma operação de desinformação na contra propaganda de guerra, em que Crowley teria ajudado o MI6,serviço secreto britanico como agente especial para atrair o oficial nazista Rudolf Hess,segundo no comando dentro do poder na Alemanha junto ao lider Adolph Hitler.Crowley junto com Louis de Wohl,nascido na alemanha, e recrutado durante a Guerra pelo MI6 britanico, um ocultista e supostamente um membro "Lantern do The Seven Circle",supostamente ,ambos ajudaram ao serviço secreto inglês e na criação do plano de ocultismo,desenvolvendo horóscopos e diversos documentos falsos para ludibriar os nazistas. Crowley ,acreditasse também que tenha se utilizado de acrônimo de Maskmelin[1],um mágico e mestre secreto da "The Seven Circle"[2] ,denominado pelo codename Secret Agent 777,uma referencia baseda na Qabalistica escrita pelo próprio Aleister Crowley numa coleção , editada e introduzida pelo Dr. Israel Regardie .


Tanto Crowley,Ian Fleming,e outros infiltrados agentes faziam parte de uma Operação desenvolvida baseada no livro “Flying Visit” de 1940 ilustrado por David Low, — uma humoristica novela sobre a visita a Inglatrra por Adolf Hitler-,escrito pelo irmão mais velho de Fleming,também um agente infiltrado cognominado por “Lantern” nos Serviços Secretos da organização MI6,que poderiam então passar ao longo informações falsas sobre uma alegada pró-alemão círculo na Grã-Bretanha.O governo britanico abandonou esse plano quando Hess voou para a Escócia, falhando o seu avião sobre o próximo Eaglesham mouros, e foi capturado. Fleming então sugeriu usar Crowley como um interrogador para determinar a influência da astrologia com outros líderes nazistas, mas seus superiores rejeitaram esse plano. Em algum momento, Fleming também sugeriu que a Grã-Bretanha poderia usar Linguagem enoquiana como um código, a fim de planta provas.
Ritual em Ashdown Forest, Crowbourgh em Sussex

Outro esquema envolvendo Crowley com o já famoso "Ritual das Bruxas". Este era destinado a Hitler e os nazistas do alto comando para evitar a invasão da Inglaterra. Importa agora de que este foi elaborado um hoax para enganar Hitler, que acreditava na feitiçaria e nos poderes do oculto. O ritual teve lugar em Ashdown Forest, Crowbourgh em Sussex, e os ocultistas a serviços de Aleister Crowley e seu filho Amado Crowley.Uma rede de infiltrados agentes do oculto ou "Lantern's', entre eles o famoso cultista amigo de Crowley, um também membro da The Seven Circle, Cecil Hugh Williamson.Williamson foi o fundador do Centro de Pesquisa Witchcraft na Segunda Guerra Mundial, e o Museu de bruxaria em Castletown sobre a Ilha de Man. Em 1938, ele foi convidado a ser o cabeça de uma secção especial do MI6, anexado ao Foreign Office. Seu objetivo foi o de recolher e assimilar as informações sobre os nazistas e magia .

A fim de facilitar a Operação Witchcraft, ele formou o Centro de Pesquisa, tendo Crowley como um importante agente duplo. Uma parte de sua estratégia, foi a de determinar em que o alto comando nazista seria influenciado pela astrologia, e superstições previsões (em particular as de Nostradamus). Isto foi feito através do estudo da grafologia e outros métodos.O mago Gerald Gardner,um discipulo de Crowley e fundador da Wicca, alega que ele e seu novo coven, local de feitiçaria , onde são denvolvidas o ritual,que teve lugar no New Forrest, Hampshire. Segundo Gardner, talvez Crowley e seu coven foi realizado num ritual semelhante, mas não sob os auspícios e apoio dos governos na época ou mesmo do MI6 .
Falecimento

Aleister Crowley faleceu em 1 de dezembro de 1947, aos 72 anos, em decorrência da fragilização de seu estado de saúde causado pela asma crônica que o atormentava.

Obras

Alguns de seus mais influentes livros incluem:

• The Book of the Law
• Magick (Book 4)
• The Book of Lies
• The Vision and the Voice
• Liber 777
• The Confessions of Aleister Crowley
• Magick Without Tears
• Little Essays Toward Truth
• The Goetia: The Lesser Key of Solomon the King
• Aleister Crowley and the Practice of the Magical Diary


crow2Crowley e Fernando Pessoa

Crowley era um ocultista famoso. Pessoa, lendo numa publicação inglesa o seu horóscopo com alguns erros, escreveu-lhe a corrigir, já que era um profundo conhecedor e praticante de astrologia. Efectivamente Crowley ficou admirado com os conhecimentos de Pessoa, e sempre pronto a viajar resolveu vir até Portugal, para conhecer o poeta. O encontro não foi assim tão idílico como seria de prever, já que Pessoa deve ter-se apercebido rapidamente dos desequilíbrios psíquicos e espirituais graves que Crowley tinha e ensinava. De qualquer forma prestou-se a colaborar na encenação do suicídio de Crowley na Boca do Inferno, o que permitia a este escapar incógnito não só das suas amantes como até do conhecimento do público. De facto ele tinha sido um agente duplo dos ingleses e dos alemães, e era uma figura cujo paradeiro e actividades, por vezes as mais perigosas, interessava saber-se. Crowley vinha acompanhado de uma maga alemã, Miss Jaeger, também ela uma figura controversa da cena mágica, tendo escrito cartas a Fernando, assinando com um pseudônimo ocultista.

Aleister Crowley foi um mago da linha cinzenta ou negra, em que o egoísmo predomina sobre o altruísmo e os fins justificam os meios. É sabido como ele utilizou a droga, o sexo e a violência nos seus rituais e na sua vida. Forçosamente que certas pessoas são atraídas por um lado ou outro destes aspectos. Porém, Pessoa nesta idade, já extremamente lúcido e conhecedor dos perigos do ocultismo, não quis naturalmente ligar-se nem com o mago nem com a maga, e seguiu sozinho uma via cada vez mais mística num sentido de adesão aos princípios puros dos Rosa-Cruzes e dos Templários. Era, como ele dizia, um cristão gnóstico e iniciado na Ordem Templária de Portugal.

Crowley viveu algum tempo na Alemanha e morreu em Hastings, Inglaterra

Legado do 666

Todos já ouviram falar da Besta 666, o Anticristo, Lúcifer, o Demônio, e todo o mal vinculado a estas figuras. O que poucos pessoas sabem é que um homem se intitulou "A Besta 666". A primeira idéia que pode nos vir à mente é tratar-se de um louco, um facínora, um celerado da pior espécie.

Só que este homem se diz o maior amigo da humanidade, herdou uma imensa fortuna gasta em editar livros que divulgavam sua filosofia libertária, Thelema (que ele dizia vir diretamente dos dirigentes invisíveis da Terra, a Grande Fraternidade Branca), enquanto outra parte foi gasta na criação de um centro de estudos de Magia, na ensolarada Sicília.

O nome deste homem era Edward Alexander Crowley ou Aleister Crowley, como ficou mundialmente conhecido, nascido na Inglaterra, no seio de uma família de abastados cervejeiros. Teve uma educação esmerada em Cambridge e pretendia seguir a carreira diplomática por influência de seu tio. Todos os elementos para uma vida prosaica, tranqüila e feliz se faziam presentes. Mas Crowley, ou talvez a deusa Destino, sonhou algo totalmente diferente. Seus interesses dirigiram-se para o alpinismo e xadrez, mas acima de tudo para a Magia, que se tornou o grande objetivo de sua vida.

Aleister Crowley se dedicou de corpo e alma em desvendar os seus mistérios e segredos, indo a fundo na sua busca, não se limitando por nada, derrubando todas as barreiras, experimentando todas as facetas da alma humana, de todas as formas.

Crowley vivia na Inglaterra Vitoriana, repleta de hipocrisias e falso moralismo (não muito diferente do mundo de hoje em dia), e era natural que todo o empenho, força e dedicação de Crowley a sua meta acabaria por chocar-se com a sociedade da época. Ele foi taxado de pornográfico, depravado, drogado, satanista e mais uma infinidade de rótulos. E, o mais fantástico de tudo, estes rótulos ilustravam inúmeras atividades que de fato Crowley estava envolvido. Poderíamos encerrar o caso aqui, juntando nos as legiões que detratam a sua memória, mas antes disto cabe abrir um parêntese e falar sobre o que levou este homem a assumir este papel no mundo.
O ano de 1904 foi capital para Crowley, o mistério que iria persegui-lo por toda a vida estava por se revelar, como dádiva e maldição. Ele já era um Magista competente, iniciado na Aurora Dourada, uma das mais importantes Ordens mágicas de todos os tempos.

Nesta época, Crowley estava viajando o mundo. Em março e abril ele estava no Cairo, Egito, em companhia de sua esposa, Rose Kelly. O casal se entregava às alegrias da viagem de núpcias, mas nem por isso Crowley deixava de ser um Mago. Ele faz uma invocação de elementais do ar para sua jovem esposa, e qual não foi a sua surpresa, ao invés dos silfos a mulher começa a balbuciar: Hórus falava através dela. O deus prescreve então uma série de detalhes para um ritual de invocação, o resultado deste Ritual se da nos
dias 8, 9 e 10 de abril, nos quais Crowley recebe o Livro da Lei, um poderoso Grimório de instruções mágicas, a Lei da era de Aquário. Crowley se choca com o conteúdo do Livro, mas a força das revelações lá contidas, influenciando eventos históricos de magnitude gigantesca (Primeira e Segunda guerras mundiais, por exemplo), deixou fora de dúvida a veracidade, beleza e poder do Livro da Lei.

Ditado por uma entidade de nome Aiwaz (que mais tarde Crowley associou a seu Eu superior). Nele, a Lei da nova era é sintetizada na frase Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei, e tem como contraponto e complemento Amor é a lei, amor sob Vontade. Facilmente poderíamos imaginar um paraíso da libertinagem, mas a vasta obra de Crowley nos mostra que liberdade sim, mas com conhecimento, em suas próprias palavras:

O tolo bebe, e se embebeda:

o covarde não bebe.

O homem sábio, bravo e livre, bebe, e dá glórias ao Mais Alto Deus.

Sua filosofia mágica é sempre pautada pelo autoconhecimento, e fica claro que para nos tornarmos senhores de algo precisamos conhecê-lo, vivenciá-lo. O ser humano como divino é outro postulado Thelêmico, Todo homem e toda Mulher é uma estrela, ou seja, tem sua órbita e papel no universo e deve ser respeitado pelo simples ato de existir, mas não entendamos este respeito como piedade, mas sim como um ecossistema, onde cada parte cumpre a sua função.

Crowley, ao se colocar como a Besta do Apocalipse, está trazendo novamente a era dos homens deuses, onde a alegria a força se contrapõe à dor e fraqueza, Não seguimos ou adoramos um deus sofredor e morto numa cruz mais sim um homem deus que venceu a morte. O 666 é associado a Lúcifer e este, por sua vez, a Prometeu, que roubou o fogo dos deuses para que os seres humanos pudessem se tornar deuses.

Uma das definições de Crowley sobre o mal é esta: Primeiramente, por Mal queremos significar o que está em oposição com nossas próprias vontades; é então um termo relativo, e não absoluto. Pois tudo o que é o grande mal de um é o maior bem de outrem, assim como a dureza da madeira, que estafa o lenhador, é a segurança daquele que se aventura no mar num barco construído com aquela madeira.

To Mega Therion (A Grande Besta, nome mágico de Crowley) via a raça humana no começo desta era de Aquário como uma criança, então nada melhor que as suas palavras sobre como educar uma criança:

"Cada criança deve desenvolver sua própria individualidade, e Vontade, a despeito de ideais estranhos a si".
"Ela é confrontada com tais desafios como natação, escalada, trabalhos domésticos, e deixada livre para resolver de sua própria forma".

"Seu subconsciente é impressionado pela leitura de obras-primas, as quais se permite que se infiltrem em sua mente automaticamente sem pressão seletiva nem pedidos de compreensão consciente".
"Nada é ensinado a não ser pensar por si mesma".

"Ela é tratada como um ser responsável e independente, encorajada na autoconfiança, e respeitada pela auto-afirmação".

Crowley criou uma série de potentes Rituais para se autoconhecer e travar contato com inúmeras entidades, Deuses, Anjos e Demônios, sem falar em uma gama de símbolos de Poder e palavras de passe. Através destes Rituais, as pessoas entram em um novo universo (na verdade os abismos e alturas de seu próprio ser). Um bom exemplo é um Ritual chamado a Marca da Besta, uma alusão à marca recebida por Caim. Este ritual traz as energias do Novo Aeon ao praticante, quebrando uma série de condicionamentos e preenchendo-o com a energia dos quatro elementos encimados pelo Espírito. Um portal é aberto, um portal para a vida.

Os Rituais sexuais aprendidos na O. T. O. (Ordem dos Templários Orientais) muito influenciaram Crowley, (sem esquecer das contribuições de To Mega Therion a estes Rituais) e grande parte da Magia Thelêmica usa o sexo direta ou indiretamente. O Safira Estrela é um deles, e abaixo transcrevemos algumas de suas partes:
(Que o Adepto se arme com seu bastão Mágico e sua Rosa Mística).

A referência aqui é clara: o Bastão é o falo, a Rosa Mística a vagina. O sexo oral é uma das etapas, e a absorção dos Sacramentos deve ser o ponto alto.

O leitor poderá lembrar do "Tantra Negro" mas não é o caso, e práticas como essas são usadas no Tantra do sul da Índia, para onde os Dravidianos foram expulsos.

O uso de práticas homossexuais também é licito e para tal remetemos o leitor ao trabalho de Karl Gustav Jung, onde a Anima (Animus) aparece em sonhos no sexo oposto ao da pessoa e o self justamente surge como uma representação do mesmo sexo.

A palavra de poder do novo Aeon é ABRAHADABRA. A palavra ABRAHADABRA soma 418, temos assim a letra hebraica Cheth, valor 8, Yod, valor 10 e Tau, 400, eles são as chaves para Grande Obra. Yod sendo o Bastão (falo) e Cheth (vagina) o Cálice, unidos em Tau. Ou ainda Yod, o espermatozóide, e Cheth, o óvulo, unidos em Tau. A Cruz também pode ser um símbolo do Lingam e da Yoni unidos. Basta imaginar a haste Horizontal, a Yoni e a vertical, o Lingam. É importante salientar mais uma vez que o Safira Estrela pode ser feito de forma simbólica e os resultados são também muito bons. Deve avançar a Leste, fazer o Hexagrama Sagrado, e dizer: PATER ET MATER UNUS DEUS ARARITA*. (quer dizer: "Pai e Mãe um deus Ararita").

A união sexual como uma forma de união ao divino, dois que se tornam um. Que ele retorne ao centro, o centro de tudo (Fazendo o símbolo da ROSA CRUZ como ele deve saber) dizendo: ARARITA ARARITA ARARITA. A Rosa Cruz é uma alusão direta a união falo-vagina. Que ele diga: OMNIA IN DUOS ("tudo em dois"): DUO IN UNUM ("dois em um"): UNUM IN NIHIL ("um em nada"): HAEC NEC QUATOR NEC OMNIA NEC DUC NEC UNUS NEC NIHIL SUNT ("não há quatro ou tudo ou dois nem um nem nada"). O sexo como elemento e pórtico para a transcendência. Então que repita os sinais de L.V.X., mas não os de N.O.X.: pela epifania que ocorreu como resultado dos sinais da Rosa Cruz. Ou seja, o orgasmo magicamente dirigido.

O Mago das Mil faces

Um homem cuja vida sempre esteve simultaneamente compartilhada por genialidade e loucura, por criação e destruição, amor e ódio, encanto e desafeto. Que mistérios estarão ocultos na vida e obra desse homem cujo propósito sempre esteve muito além de todo o dogma e de qualquer moral, além de todo êxtase, de toda vida e morte. Talvez poucos tenham as respostas e conheçam os motivos que moveram o pior homem do mundo a reviver o assim chamado Culto das Sombras.

O ano de 1875 da era comum foi de grande importância para o mundo dito Oculto e para o estudo do assim chamado simbolismo esotérico. Entre tantos e vários acontecimentos, nesta época ocorridos, podemos destacar: a morte de Eliphas Levi, a fundação da Sociedade Teosófica e a primeira publicação de Ísis Revelada por Helena P. Blavatsky. Em 1875 também nasceram Carl G. Jung e Albert Schweitzer. Além disto, este mesmo ano testemunhou todo o movimento de grandes Ordens Ocultas que nos legaram boa parte, senão tudo, daquilo que hoje é conhecido como Tradição da Magia Ocidental. Um outro fato porém, viria, depois, consolidar-se como um dos mais importantes relacionados à história do ocultismo mundial: o nascimento, na Inglaterra, de Edward Alexander Crowley (1875-1947), mais conhecido como Aleister Crowley.

Mas quem é Aleister Crowley?

Muito já foi escrito a respeito dessa singular figura que, considerando-se um Santo, foi tido o mais perverso homem da face da terra; desse homem, cuja vida sempre esteve simultaneamente compartilhada por genialidade e loucura, por criação e destruição, amor e ódio, encanto e desafeto; cujo propósito sempre esteve além de todos os dogmas, todo êxtase, além de toda vida e morte. Crowley, segundo suas próprias palavras, um Himog (1), paradoxalmente a este conceito, adotou, quando assumiu o Grau de Magus da A.'.A.'., o Mote TO MEGA THERION (A Grande Besta, ou, simplesmente, como passou a ser conhecido, Mestre Therion), que sintetizaria a razão de sua existência e o propósito de seu trabalho, sendo essa a divisa com qual viria a se tornar o mais expressivo Mago do século XX. Sim, muito já foi escrito sobre sua pessoa e existe tanto material de qualidade a respeito, quanto tolices e absurdos (2). Tanta é a variação de opiniões que, por vezes, o trabalho de pesquisa sobre sua biografia se revela difícil ao extremo. Entretanto, mesmo sendo imenso o volume de material disponível, curiosamente, em português, nossa língua natal, pouco, ou quase nada, consta referindo-se a Aleister Crowley. Tudo a respeito de sua biografia (ou hagiografia, como Crowley preferiria enfatizar), ou mesmo de sua obra, está à mercê de um não favorável crivo editorial que vem, insistentemente, negando espaço aos trabalhos dos estudantes da Lei de Thelema. Apesar dessas fortes resistências continuarem se antepondo à possibilidade de apresentar a Obra de Crowley, agora, após muito trabalho, já vislumbramos hipóteses contrárias.

Então, aqui intentamos não só apresentar ao público interessado um resumo biográfico de Aleister Crowley, mas também mostrar como o trabalho desse Mago influenciou e continua influenciando diversos segmentos do ocultismo internacional.

Nascimento e Infância

Na última hora do dia 12 de outubro de 1875, em Leamington Spa, Warwickshire, Inglaterra, nascia Edward Alexander Crowley.

Sua infância esteve marcada por rígidos padrões de comportamento impostos por seus pais, Edward Crowley e Emily Bishop, ativos membros de uma extremada seita Cristã chamada Irmandade de Plymonth (fundada por John N. Darby). Seu pai, um rico cervejeiro aposentado, e fanático Irmão de Plymonth, fez com que Crowley, ainda criança, freqüentasse a sua seita, forçando-o a diversas leituras da Bíblia Cristã e acostumando-o à vida religiosa da Irmandade. Este fato, muito embora viesse ser de grande valia bem mais tarde, quando da compreensão dos Mistérios com os quais esteve em contato, naquele momento apenas fez nascer na criança que se formava, uma intensa repulsa quanto a dogmas, em espécie aqueles de natureza "cristã".

Em 1886, com o falecimento de seu pai, Crowley fica sob os cuidados de seu tio e tutor Tom Bishop. Tamanha era a crueldade de seu tio, que Crowley se refere a este período de sua vida como "A Infância no Inferno".

Em sua adolescência, a busca por aventuras o conduziu ao alpinismo. Praticou com afinco esse esporte, chegando a destacar-se no mesmo. Sua carreira de alpinista chegou ao ápice nos anos de 1902 e 1905, quando participou das primeiras tentativas de escalar o Chogo Ri (K2) e o Kanchenchunga, duas das maiores montanhas do mundo, situadas no Himalaia.
Estudos

Estudou, destacando-se em todas as disciplinas, em Trinity College, Cambridge, onde ficou no período de 1895 a 1898. Nesta época, Crowley, leitor voraz, estudou intensamente, tomando contato com o que de importante havia na literatura inglesa, francesa, além de diversas outras obras em Latim e Grego clássicos, inclusive filosofia e alquimia; se dedicou a canoagem, ciclismo, montanhismo e xadrez, atividade esta em que ganhou notoriedade e que exerceu por toda sua vida. Praticando o montanhismo, Crowley viria a conhecer um homem o qual passou a admirar profundamente: Oscar Eckenstein. Eckenstein, que, segundo Crowley, era um singular exemplo de dignidade e nobreza, ensinou-lhe, naquele momento, o alpinismo. Alguns anos depois, Eckenstein demonstraria que seu conhecimento não se limitava apenas à conquista de elevadas montanhas.

Em Cambridge, seu espírito, como era bem próprio à natureza da Besta, ansiando por um volume maior de conhecimento e aventuras, encontrava-se perturbado com a insubstancial perspectiva futura. Em 1898, antes de sua graduação, Crowley abandona os estudos para se dedicar a algo não comum e de maior profundidade do que o oferecido por uma promissora carreira acadêmica.

Mas o que exatamente seria este algo mais profundo?

Por volta de 1896, Crowley havia iniciado a leitura de alguns livros sobre magia e misticismo. Algo começava a tomar forma dentro de seu inquieto ser; porém a leitura de Nuvem sobre o Santuário, obra lhe recomendada por A. E. Waite (1867-1940), é que faz com que Crowley decida dedicar sua vida ao estudo do Ocultismo e da Magia, empenhando-se com afinco no sentido de encontrar a Grande Fraternidade Branca  mencionada no inspirador livro de Eckhartshausen. E aqui começa a carreira mágica de Aleister Crowley .

Em 1898, através de dois amigos, Julian Baker e George Cecil Jones (respectivamente Frati D.A. e Volo Noscere, ambos membros da G.'.D.'.), Crowley é apresentado a Samuel Liddell "MacGregor" Mathers (1854-1918), Frater D.D.C.F. (Deo Duce Comite Ferro), um dos líderes da Ordem Hermética da Aurora Dourada (The Hermetic Order of the Golden Dawn, mais conhecida pela sigla G.'.D.'.), uma das mais influentes Ordens do século XIX, que proporcionou a Crowley sua primeva Iniciação e o contato com os primeiros mistérios mágicos que tanto procurava.
A G.'.D.'. fora fundada pelo próprio Mathers, junto com William Winn Westcott (1848-1925), conhecido pelo mote Frater N.O.M. (Non Omnis Moriar) e William Robert Woodman (1828-1891), cujo mote era Frater V.O.V. (Vincit Omnia Veritas), em 1887. Segundo seus fundadores, a existência da G.'.D.'. era devida à orientação e à ordem de uma alta iniciada alemã chamada Anna Sprengel, Soror S.D.A. (Sapiens Donabitur Astris), que autorizara a abertura de uma Loja na Inglaterra que representasse a suposta Ordem ancestral a qual pertencia. Diga-se de passagem que, a G.'.D.'., mesmo levando em conta o possível conciliábulo de sua criação, constitui uma das mais importantes Ordens jamais inventadas pelo espírito humano, conseguindo reunir em seu corpo de iniciados a nata da intelectualidade inglesa e européia da época. A informação que circula nos meios ocultistas atuais diz que nomes como o prêmio Nobel de Literatura em 1923, Willian Butler Yeats, além de Gustav Meyrink, Florence Farr, A. E. Waite, Sax Homer, Bram Stocker, F. L. Gardner, Arthur Machen, o próprio Crowley e tantos outros, pertenceram a esta notável organização.

Crowley, iniciado por Mathers em 18 de novembro de 1898, ao Grau de Neophytus (0=0), tomava, como Mote Mágico, o significativo nome de Perdurabo (eu perdurarei até o fim), iniciando, assim, seus estudos na G.'.D.'., tendo como primeiro Instrutor Frater Volo Noscere (G. Cecil Jones). Em dezembro do mesmo ano, Crowley atinge o Grau de Zelator (1=10).

crow3Sua capacidade de assimilação de conhecimentos e sua dedicação ao estudo e a prática do Ocultismo o conduziram, também sob a instrução de Frater Iehi Aour (Allan Bennett), a ascender rapidamente aos Graus subsequentes da G.'.D.'.; assim, respectivamente em janeiro, fevereiro e maio do ano seguinte, em 1899, Crowley conquistou os Graus de Theoricus (2=9), Practicus (3=8) e Philosophus (4=7). Bennett, considerado por Crowley um autêntico Guru, o ensinou várias técnicas mágicas oferecidas pela G.'.D.'., técnicas como Cabala e Magia Cerimonial, consagração de Talismãs, evocação de Espíritos, etc.

Este período de sua vida foi fortemente marcado por duas atividades principais. Quando Frater Perdurabo não estava estudando ou praticando, Crowley, sob o pseudônimo de Conde Vladmir Svareff ou Aleister MacGregor, custeava as edições de seus escritos (normalmente algum tipo de pornografia ou poesia), além de cultivar uma intensa vida sexual, a qual escandalizou alguns membros da G.'.D.'.. Sua grande atividade e principal preocupação, no entanto, continuava a ser a o estudo e prática da Magia.

Entretanto, e isto deveu-se menos aos escândalos promovidos por Frater Perdurabo do que ao ciúme e inveja de certos Adeptos londrinos, e mesmo Crowley tendo demonstrado capacidade e talento em magia, sua iniciação à Segunda Ordem fora negada, em fins de 1899, pelos chefes da seção inglesa da G.'.D.'.. Nesta época, Mathers, agora único líder da Ordem, residia em Paris.

Mesmo contrariando a opinião dos líderes londrinos, em 16 janeiro de 1900, em Paris, Mathers, fazendo valer sua autoridade dentro da Ordem, inicia Crowley ao Grau de Adeptus Minor (5o=6), sob o Mote Parzival. Alguns estudantes identificam aqui o fato que marca o inicio da ruína da G.'.D.'..

Pouco antes de sua iniciação, seu grande amigo e Instrutor, Allan Bennett, decide partir para Ceilão, e tornar-se monge Budista.

A insatisfação dos membros da G.'.D.'. com Mathers já era mais que um fato nessa época. Provavelmente o caso Crowley tenha servido como impulso e álibi necessários para o grupo londrino, liderado por Yeats, entre outros menos conhecidos, declarar-se independente de seu mentor e líder, MacGregor Mathers.

O que se seguiu após a rebeldia londrina resultou em histórias fantásticas de ataques mágicos envolvendo Crowley e uns demônios versus Yeats e, é claro, mais uma horda de demônios. Depois o próprio Mathers teria entrado na briga, junto, evidentemente, com uma outra legião de encapetados amiguinhos. Mas essa estória não escapa nem a mais tola crítica. O fato é que Crowley e Mathers ficaram praticamente sozinhos e a outrora grande G.'.D.'., agora conduzida pelos auto-proclamados novos chefes, ia progressivamente implodindo, ou se esfacelando, resultando num sem número de Ordens Cristianizadas, sem o élan da G.'.D.'. original.

Crowley, que abandonara um importante trabalho mágico para ajudar Mathers, vê-se só. Parte para Nova York e depois vai para o México.

A estadia no México constituiu um período bem produtivo a Crowley. Além de Tannhauser, escrito em ininterruptas 67 horas, conseqüência de uma bem sucedida Opera Sexualis, esse período na América Central representou uma decisiva conquista no magista que se formava.

Foi apresentado a Don Jesus Medina, um dos altos chefes da Maçonaria local, Rito Escocês. Crowley afirma que Medina, o convidou para iniciar-se em sua Loja. Ainda segundo Crowley, ele rapidamente galgaria os graus Maçônicos, alcançando, por graça, o mais alto Grau do Rito. Crowley, no entanto, jamais foi considerado um Maçom regular.

Mas a chegada de seu amigo e mentor, Oscar Eckenstein, é que daria novos rumos a seu aprendizado. Eckenstein, revelando-se, para a surpresa de seu pupilo, um grande instrutor, demonstrou que Crowley não tinha controle sobre seus próprios pensamentos, qualificando sua atitude para com a magia como apenas mera fascinação romântica. A partir daí, Crowley decide dar um tom científico a seus experimentos, estudando com Eckenstein, uma série de métodos de controle mental.

Após algum tempo de alpinismo e treino mental, Crowley decide ir para o Oriente, com o propósito de encontrar Bennett, seu antigo instrutor, no Ceilão. Antes, entretanto, combina, com Eckenstein, a escalada do K2, no Himalaia, aventura a se realizar na primavera de 1902.

Bennett, agora Bhikku Ananda Meteya, que aprendera Yoga e Budismo, instrui Crowley nestas disciplinas.
No outono de 1902, após a expedição ao K2, Crowley retorna a Paris. Seu novo encontro com Mathers o decepciona a tal ponto que só lhe restou a boêmia vida parisiense. Retorna a sua recém adquirida mansão em Boleskine, nas proximidades do Lago Ness, na Escócia, em 1903 e então, procurando algo suficientemente prosaico para si, intitula-se Lorde Boleskine. Em agosto deste mesmo ano, casa-se com Rose Kelly.

Mas o ano seguinte revelaria a Crowley o mistério que o acompanharia até seu último momento: A Lei de Thelema.

Casado com Rose Kelly, de acordo com Crowley, "uma da mais brilhantes e inteligentes mulheres do mundo", viaja pela Europa e Egito. De acordo com os relatos de Crowley, enquanto estavam no Cairo, após uma série de Rituais e Invocações, um ser, identificando-se como Aiwass, transmite a Crowley, nos dias 8, 9 e 10 de abril, o Liber Al vel Legis ou, como passaria a ser conhecido, O Livro da Lei. Àqueles que conhecem todo esse processo, é significativo saber que esse Livro foi o primeiro escrito de Crowley, de cunho místico & mágico. (11)

Entre tantos significados atribuídos pelos seguidores da doutrina de Crowley, Liber Al vel Legis proclamaria o fim de uma Era (ou Eon) marcada pelo sofrimento, pela intermediação entre Deus e o homem, pelo deus sacrificado, etc. Em seu lugar, nasceria a época do deus de alegria, onde o homem teria a liberdade de realização de sua própria vontade. A epígrafe "Faze o que queres há de ser o todo da Lei", contida em Liber Al e maciçamente utilizada nos escritos de natureza thelêmica, sintetiza a própria regra de conduta a ser tomada como tônica do Eon nascido.

Essa experiência, levou Crowley a assumir o Grau de Adeptus Major, 6o=5 da G.'.D.'., sob o novo Mote de O.S.V.

De volta a Boleskine, Crowley imediatamente trata de expor sua consecução mágica a Mathers, revelando ter, finalmente, feito contato com os Mui Misteriosos Mestres Secretos que tanto havia procurado. Como costume, Mathers não aceita a revelação. Consequentemente, o mundo do esoterismo novamente, é palco para ataques mágicos de Mathers a Crowley e vice-versa. Mas o incontestável fato é que isso representaria o fim da convivência entre os dois magos.

Em 1905, mais uma expedição ao Himalaia: desta vez o alvo era o Kanchenchunga.

Cansado de suas birras com a G.'.D.'., em 1907, Crowley funda a A.'.A.'.; a Argenteum Astrum, Ordem da Estrela de Prata, que - segundo Frater O.S.V. - substituiria a G.'.D.'., herdando sua estrutura de graduação. Entre tantos significados possíveis, particularmente um inspirou Crowley na escolha desse nome para a Ordem. Segundo ele, o dourado amanhecer (Golden Dawn) é o que precede a Estrela Dalva (Vênus, ou Lúcifer), a prateada estrela da manhã que "anuncia" o Sol. Crowley, em 1909, dá início ao primeiro período aberto a Probacionistas a sua A.'.A.'. e, com a publicação da série The Equinox, "destrói" magicamente a G.'.D.'.
No período de 1907-1911, Crowley, consagrando seu tempo ao estudo, a prática e a escrita, publicaria cerca de uma dúzia de livros de cunho poético-mágico (excluindo a série The Equinox). Neste período também, após a morte de sua filha em 1906, Crowley separa-se de sua esposa, Rose Kelly, em 1909. Nesse mesmo ano, Crowley assume o Grau Adeptus Exemptus 7=4, agora na sua A.'.A.'., com o Mote OU MH. Em 3 de dezembro de 1909, durante uma a Visão do 14o Aethyr, toma o Grau de Magister Templi, sob o Mote V.V.V.V.V., 8=3 da Ordem da Estrela de Prata. Em 1911 Crowley escreve Liber CCCXXXIII, O Falsamente chamado Livro das Mentiras, que publicaria mais tarde, em 1913.

Em 1912 porém, outro acontecimento daria novo rumo a sua vida.

Crowley, com o seu Livro das Mentiras, curiosamente, mesmo antes de sua publicação em 1913, chamaria a atenção de, nada mais nada menos, Theodor Reuss, membro do serviço secreto germânico, ocultista, cantor e falso maçom, Frater Merlin Peregrinus X, então O.H.O. de uma Ordem chamada Ordo Templi Orientis, a O.T.O..

Reuss, tendo lido Liber CCCXXXIII, para seu espanto, lá identificara o segredo central da O.T.O..

A O.T.O. era uma organização de cunho maçônico, místico e mágico, fundada por Karl Kellner, em 1902. Kellner, segundo a lenda, teria viajado pelo oriente onde havia sido iniciado por um faquir árabe, chamado Solimam ben Aifha, e pelos yoguis hindus Bhima Shen Pratap e Sri Mahatma Aganya Guru Paramahansa, recebendo os mistérios da Filosofia e do Yoga da Mão Esquerda, a Magia Sexual.

A O.T.O., assim como muitas outras das assim chamadas Ordens Templárias, reivindica exclusivamente para si a detenção do conhecimento outrora pertencido aos legendários Cavaleiros do Templo. A O.T.O., de acordo com a sua muito questionável história oficial, assim como ocorreu com a G.'.D.'., diz ter reunido entre seus Adeptos vários eminentes maçons e ocultistas da época, alguns dos quais, a partir dos fundamentes adquiridos nessa Ordem, ou fundaram ou em muito colaboraram em outros movimentos da época. A título de exemplo temos: Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia; Franz Hartmann, um dos mais importantes colaboradores do movimento Teosófico; Krumm-Heller, responsável pela expansão da Fraternitas Rosacruciana Antiqua (F.R.A.); Gerald Gardner, considerado como o "pai" da Wicca; Karl Germer, sucessor de Crowley como líder da O.T.O.; Kenneth Grant, que muitos consideram o verdadeiro herdeiro mágico de Crowley, lideraria uma variação da Ordem na Inglaterra; H. Spencer Lewis, fundador de um bem conhecido movimento neo-rosacruciano denominado AMORC (20); além do próprio Crowley.

Conforme dito por Crowley, seu aparentemete bizarro primeiro encontro com Reuss, definitivamente, marcaria o destino da Ordem alemã. Crowley, após ter sido acusado de divulgar abertamente este segredo, expõe a Reuss que este teria sido aprendido por ele quando de sua viagem ao Oriente e que já o praticava há muito (21); sendo-lhe impossível saber ser este o mesmo Santo Segredo cultivado pela O.T.O.

Nesta época, Reuss, desejoso de ver sua O.T.O. expandida pela Europa, costumava conferir a alguns nomes de expressão no cenário ocultista, patentes de Reis Nacionais de sua Ordem. Assim, o desenvolvimento da conversa entre ambos, levou Reuss a nomear Crowley líder da O.T.O. para os países da língua Inglesa. Essa tarefa foi exercida por Crowley através do Mote Baphomet.

Crowley então, passaria a escrever (e também reescrever) os Rituais da O.T.O. sob a luz de seu Liber Legis.

Um pouco depois, em 1914, acompanhado de Mary d'Esté Sturges (Soror Virakam), escreve seu famoso Magia em Teoria e Prática (conhecido por "Magick"), mais tarde, quando acrescentado de outras três partes, seria publicado como o Book Four, também chamado de Liber ABA.

Em 12 de Outubro de 1915, em seu quadragésimo aniversário, Aleister Crowley toma o Mote de TO MEGA THERION, 666, para o 9=2, o Grau de Magus da A.'.A.'.

E, como 666, Crowley concebe uma das mais belas páginas da literatura esotérica, Liber Aleph, The Book of Wisdow or Folly, uma Epístola de 666 a seu Filho 777 (Frater Achad, Charles S. Jones). Em 1919, publica o primeiro número do terceiro volume do The Equinox.

Um dos mais curiosos feitos da Besta, teve lugar com a fundação, em 2 de abril de 1920, da Abadia de Thelema, em Cefalu, Sicília, Itália. Depois, Crowley, em secreto juramento, assume, em maio de 1921, o Grau de 10o=1 A.'.A.'., Ipississimus. A Abadia funcionou até 1923, quando Crowley foi expulso da Itália por Mussolini.

Em 1925 Theodor Reuss falece. Crowley é convocado para uma reunião internacional da O.T.O., onde os rumos da Ordem de Reuss seriam traçados. Crowley é "convidado" a ser o Chefe Internacional da Ordo Templi Orientis. Aceita e toma o Santo Mote de Deus est Homo. (23)

Durante os anos seguintes, Crowley viveu alternadamente na França, Alemanha e Norte da África. Nesta época ele viria a conhecer duas pessoas que, além de serem discípulos e amigos, seriam depois importantes personagens dentro da história de Thelema: Karl Germer e Israel Regardie (24). Expulso da França em 1929 sob acusação de ser agente alemão, Crowley retorna à Inglaterra.

A publicação de suas Confissões, em 1930, proporcionou a Crowley um interessante encontro com um dos maiores gênios da literatura portuguesa. Estamos falando de Fernando Pessoa (1888-1935). Pessoa, que além de célebre poeta era um competente astrólogo, fascinado pelas ciências esotéricas, envia, neste mesmo ano, uma carta a Crowley, indicando erros em seu mapa natal. Crowley, entusiasmado com o conhecimento do poeta lusitano, contesta sua carta, dando-lhe razão, e expressa seu desejo de conhecê-lo.

Pessoa, mesmo incomodado e receando tal encontro, recebe-o no porto de Lisboa. A lenda diz-nos que estranhos acontecimento tiveram vez naquela tarde, como um inexplicado nevoeiro que, descendo na cidade de Lisboa, atrasou o barco que conduzia a Besta ao encontro do criador de Álvaro de Campos. E tanto foi a admiração e fascínio de Pessoa para com o pior homem do mundo, que, no famoso caso da Boca do Inferno, onde Crowley simulou um trágico suicídio, Pessoa testemunhara, confirmando o que supostamente teria ocorrido a seu novo amigo.

Pessoa, que vira naquele estranho inglês um irmão nos Mistérios, a partir do encontro e da amizade com Crowley, em muito mudou o tom de sua poesia. Adentrou-se no estudo do simbolismo, publicando obras de notável valor, até sua prematura morte, em 1935. (25)

Crowley segue e, entre casos amorosos e escândalos sexuais, drogas, e causas judiciais, publica nos anos 30 uma série de ensaios e instruções que comporiam os números subseqüentes de The Equinox Vol. III, o qual fora iniciado em 1919. O já citado The Equinox of the Gods, relatando suas experiência no Cairo e a escritura de Liber Legis, é publicado privadamente em 1936.

Trabalhando com Lady Frieda Harris, Crowley, ao longo de cerca de cinco anos, concebe um Tarot de modo que a imagem do Eon fique registrada. O resultado final é o maravilhoso The Book of Thoth, onde a principal mensagem de sua obra está apresentada de forma sintética. Durante esse trabalho com Lady Harris, em 1942, na forma de um manifesto da O.T.O., Crowley publica Liber OZ, a Carta dos Deveres e Direitos dos homens e das mulheres. Alguns seguidores de Crowley são enfáticos quando afirmam que algo muito parecido seria elaborado alguns anos depois pela ONU.

Seus últimos anos, a partir de 1945, são vividos em Hastings, onde uma série de novos discípulos continuam recebendo instruções. E assim Kenneth Grant, John Symonds, Grady McMurty, conhecem a Besta. Desta época, vem sua última obra, consistindo numa coletânea de cartas dirigidas a uma jovem discípula, que foram publicadas bem mais tarde, após a sua morte, como Magick Without Tears.

No primeiro dia de dezembro de 1947, aos 72 anos, Aleister Crowley, serenamente segundo alguns, exultante segundo outros, e ainda perplexo, segundo terceiros, falece, vítima de bronquite crônica e complicações cardíacas.

Quatro dias depois, no crematório de Brighton, assistido por um reduzido número de admiradores e discípulos, é realizada a cerimônia que ficou conhecida como "O Último Ritual", com a leitura de trechos da Missa Gnóstica, e de seu maravilhoso Hino a Pã.

Realizara-se, assim, a última vontade da Besta.

PARTE 2